domingo, 28 de maio de 2023

Opinião. Carro, popular ou não

 Acho que o conceito de “carro popular” está mais ligado à nossa realidade nacional, um conceito que foi incorporado como sinônimo de sucesso pessoal – fazer um grande investimento – e de política pública fiscal e econômica – permitir que um item geralmente caro possa ser (relativamente) acessível.

O que já foi o símbolo da internacionalização da economia (não temos, como muitos países, fábricas ou montadoras genuinamente nacionais) revelou-se uma necessidade em um país tão extenso quanto o Brasil e com tantas dificuldades de deslocamento, nas cidades e nas estradas.

 

Fazendo um quase-paralelo, as cidades do interior do RN mudaram muito seu perfil depois que as motos literalmente invadiram as ruas, deixando as carroças como um elemento quase saudosista ou tradicional. Deslocar-se para comprar algo, para ir a um posto de saúde ou até para vender a produção local, ficou muito mais fácil. E isto foi resultado da mobilidade.

 

É claro que a comparação entre o fluxo de motos em cidades pequenas é bem diferente do fluxo de carros em cidades de médio e grande portes. Mas, há fator que é comum, em qualquer lugar: apesar de toda a tecnologia e quase tudo poder ser feito on line, as pessoas terão sempre a necessidade de deslocar-se (diria, “fisicamente”) e cada vez mais com a expansão urbana afinal, as cidades crescem e nem todo mundo tem o inquestionável privilégio de morar perto do trabalho, de ter um supermercado do lado, muitas opções de lazer na rua do lado, colégio do outro lado da rua e tudo mais. Em outras palavras, já aprendemos que mobilidade (como água e energia, por exemplo) é sinônimo de desenvolvimento e de crescimento econômico, ainda que em algumas situações tragam dois tipos de caos, o organizado e o desorganizado.

 

O carro contribui com estes dois caos. Mas, mesmo assim, é fundamental para as cidades, para o espaço urbano no qual estamos acostumados como também para as localidades distantes dos centros urbanos. O impacto com o crescimento da frota pode ser melhor controlado mas, não se pode controlar a opção pelo desenvolvimento: escolher o tipo de carro (moderno, menos poluente etc) é uma estratégia de mercado assim como é uma estratégia social e de política econômica; não poder escolher ter um carro, pode ser pior.

 

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