Acho
que o conceito de “carro popular” está mais ligado à nossa realidade nacional,
um conceito que foi incorporado como sinônimo de sucesso pessoal – fazer um grande
investimento – e de política pública fiscal e econômica – permitir que um item
geralmente caro possa ser (relativamente) acessível.
O que
já foi o símbolo da internacionalização da economia (não temos, como muitos
países, fábricas ou montadoras genuinamente nacionais) revelou-se uma
necessidade em um país tão extenso quanto o Brasil e com tantas dificuldades de
deslocamento, nas cidades e nas estradas.
Fazendo
um quase-paralelo, as cidades do interior do RN mudaram muito seu perfil depois
que as motos literalmente invadiram as ruas, deixando as carroças como um elemento
quase saudosista ou tradicional. Deslocar-se para comprar algo, para ir a um
posto de saúde ou até para vender a produção local, ficou muito mais fácil. E
isto foi resultado da mobilidade.
É claro
que a comparação entre o fluxo de motos em cidades pequenas é bem diferente do
fluxo de carros em cidades de médio e grande portes. Mas, há fator que é comum,
em qualquer lugar: apesar de toda a tecnologia e quase tudo poder ser feito on
line, as pessoas terão sempre a necessidade de deslocar-se (diria, “fisicamente”)
e cada vez mais com a expansão urbana afinal, as cidades crescem e nem todo mundo
tem o inquestionável privilégio de morar perto do trabalho, de ter um supermercado
do lado, muitas opções de lazer na rua do lado, colégio do outro lado da rua e
tudo mais. Em outras palavras, já aprendemos que mobilidade (como água e
energia, por exemplo) é sinônimo de desenvolvimento e de crescimento econômico,
ainda que em algumas situações tragam dois tipos de caos, o organizado e o
desorganizado.
O carro
contribui com estes dois caos. Mas, mesmo assim, é fundamental para as cidades,
para o espaço urbano no qual estamos acostumados como também para as
localidades distantes dos centros urbanos. O impacto com o crescimento da frota
pode ser melhor controlado mas, não se pode controlar a opção pelo
desenvolvimento: escolher o tipo de carro (moderno, menos poluente etc) é uma
estratégia de mercado assim como é uma estratégia social e de política econômica;
não poder escolher ter um carro, pode ser pior.