domingo, 16 de outubro de 2022

Opinião. Desprogramar a obsolescência. Parte 1: a política

 

Precisamos desprogramar algumas obsolescências, dentre elas, a política.

Algumas ações ou decisões parecem existir com vários e bons propósitos embora tragam os famosos efeitos colaterais. Outras, no entanto, parecem ter a finalidade de programar um obsolescência, ou seja, criar mecanismos que permitam ou contribuam para a extinção e fatos ou situações. Vemos isto em alguns exemplos da tecnologia, os computadores, por exemplo, extinguiram as máquinas de escrever com suas funcionalidades, um dia avançadas, hoje absolutamente ultrapassadas (exceto para o mercado de museus, colecionadores e especuladores).

 

Na política, não é diferente, algumas vezes.

Hoje no Brasil temos vários partidos políticos, uma forma mais branda e talvez mais real de dizer que temos muitos ou em excesso. Não há, a rigor, ideologias tão distintas quanto o número de partidos no Brasil e, aliás, nem mesmo no mundo. Mas, assim como uma camisa será sempre uma camisa, há “camisas” e “camisas”, cada uma com estilo e finalidade diferente embora, a rigor sirva para vestir alguém. Partidos, igualmente, não se pode reduzir à simplicidade aterrorizante entre direita e esquerda, principalmente se lembrarmos que estas denominações nasceram não da associação com uma ideologia mas simplesmente... em função da disposição geográfica entre grupos políticos nos idos da política francesa, quando uns estavam à direita e outros estavam à esquerda, no plenário.

 

Temos cláusulas de barreiras para evitar aventureiros na política. É algo que deve continuar, depura as ideias extravagantes e oportunistas mas também elimina as ideias nascentes e acaba – seria esta a finalidade? – concentrando o poder com quem tem mais poder! Se meu partido não teve votos suficientes, tenho me aliar a outro, já poderoso, para sobreviver. Eliminamos extravagâncias, concentramos poder e, consequentemente, divisões internas.

 

Estas cláusulas são uma forma de obsolescência política. Pode significar, por exemplo, que mesmo pensando de uma forma somente alguém somente poderia ser candidato em um partido mais forte onde suas ideias – inovadoras – teriam menos chance de prosperar.

 

A obsolescência política é ruim, a curto, médio e a longo prazos. Todas as vezes em que os debates políticos, isto é, os debates sobre nossas vidas e nossa sociedade são afunilados, perdemos conteúdo e qualidade. Em qualquer situação, 50 partidos ou apenas 2 dominando o cenário, a política sobreviverá e os políticos também. Mas, a imensa maioria da população discutirá política apenas de forma partidária, nos tempos eleitorais.

 

A política deriva da “polis”, cidade e sociedade. Não devemos programar sua obsolescência, nem da política nem da cidade, menos ainda da sociedade.

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