domingo, 2 de abril de 2023

Opinião. Dormir mais para trabalhar mais?

 

A notícia que uma universidade norte-americana chegou à conclusão que dormir durante o expediente aumenta a produtividade é um contrassenso à evolução do ritmo de trabalho que se observa na Europa.

Primeiramente, o “dormir no trabalho” não é qualquer hora nem qualquer jeito, mas simplesmente o incentivo ao famoso cochilo durante o expediente, após o almoço, que liberaria as tensões e faria que a pessoa, ao acordar, tivesse uma carga emocional de estresse bem menor e, consequentemente, com mais tranquilidade para decidir e com mais relaxamento para poder produzir mais. Em resumo, este é o resultado da pesquisa.

 

Do outro lado do Atlântico já não é mais pesquisa, mas fato de que alguns países da Europa adotam a prática do 4x3, ou seja, trabalhar 4 dias e ter 3 dias de folga, o final de semana “maior”, digamos assim. Vale lembrar que há muito tempo a ideia da semana de 35 horas está em alguns países e, apenas a título de comparação, aqui no Brasil a semana de trabalho é de 44 horas.

 

São, portanto, três modelos, propostas ou práticas: manter o tempo de trabalho aumentando a permanência na empresa para o cochilo, diminuir os dias de trabalho na semana e, aqui entre nós, continuar com uma carga horária semanal cheia. São, também, reflexos destas diferentes sociedades: a norte-americana com o trabalho acima de todos, o europeia com a qualidade de vida como prioridade e a nossa com a ideia de que o trabalhador (seu salário) custa caro para o empresário.

 

Uma das grandes revoluções na qualidade de vida na Europa, mais especificamente na França, foi quando decidiu-se que todo mundo teria direito a férias, e de 30 dias. Foi, acho, nos anos 1960 e gerou muitas controvérsias. O resultado hoje é que todo mundo continua usufruindo de suas férias e cerca de metade da população francesa viaja neste período, dentro ou fora do país. E o impulso econômico no turismo naquele país é espetacular.

 

Aqui temos poucas experiências de transformar o trabalho e a qualidade do trabalho em algo menos pesaroso, ou seja, um esforço diário e necessário mas nem sempre nas melhores das condições e, quanto menor o salário, mais complicada tais condições. Não faremos a mudança tão drasticamente nem tão rapidamente quanto gostaríamos e, acho, estamos longe de adotar a semana das 35h, por questões econômicas, sociais e políticas.

 

Mas, poderíamos criar condições mais benéficas e mais interessantes para o trabalhador, essencialmente nas grandes empresas; nestas, com elevado faturamento, bem que poderia haver um, digamos, rodízio com bonificação de férias: a cada ano 20% ganhariam mais uma semana de férias por ano. O ganho seria, acredito, maior do que o “direito ao cochilo”. É uma opinião.

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