segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Câmbio, petróleo e inflação: novos desafios

(Publicado na Tribuna do Norte em 16 JAN 11)

 

            O ano de 2011 continuará com o debate sobre o câmbio e a valorização da moeda brasileira sobretudo diante do dólar que não se cansa de perder fôlego no cenário internacional. A discussão sobre a valorização do Real e a "guerra cambial" já é tema recorrente, mas agrava-se a cada dia com a persistência do dólar fraco e, consequentemente, do encarecimento dos produtos brasileiros e das facilidades de compra de produtos estrangeiros (a China, no mundo inteiro, agradece todos os dias a cotação do dólar).

            No Brasil temos outra preocupação além da já importante questão da concorrência desfavorável à produção nacional: a nossa balança comercial do petróleo e derivados. Apesar dos últimos investimentos do setor, capitaneados pela Petrobrás, o consumo brasileiro aumentou consideravelmente nesses últimos meses. Em 2010, de acordo com as previsões finais, o consumo de derivados de petróleo cresceu em torno de 10% enquanto o PIB brasileiro ficará próximo dos 7,5%.

            Essa contabilidade da maior demanda de derivados de petróleo também atinge a nossa balança comercial. Finalizamos o ano que passou com um saldo positivo entre exportações e importações de petróleo da ordem de US 6 bilhões mas, fechamos com números negativos no que diz respeito aos derivados, um déficit de US 5,8 bilhões. Aparentemente são contas que se aproximam contabilmente, mas estamos num crescente volume de déficit de derivados de petróleo, que já foi de US 6,9 bilhões em 2007, ficou reduzido em 2008, o ano da crise, para retomar trajetória, chegando a US 3,2 bilhões em 2009.

            A maior demanda dos derivados de petróleo deve-se a alguns fatores: elevação do padrão de consumo dos brasileiros, redução da oferta de etanol mas também da demanda (o brasileiro ainda prefere a gasolina), além do aumento do consumo de combustível para aviação, o QAV. Em outras palavras, nunca se viajou tanto no Brasil e tantos carros novos entraram em circulação nas cidades.

            Toda essa conjuntura traz uma grande pressão para o câmbio brasileiro. Que fazer diante do dilema valorização do Real e a proteção à indústria nacional (reduzir as importações e incentivar as exportações) versus aquisição de derivados de petróleo mais barato?

            A inflação é uma das conseqüências da guerra cambial aqui no Brasil. Ou melhor, o controle da inflação passa a ser visto como uma das preocupações atuais. Ninguém quer mais o "dragão" da inflação ressuscitado e o país já alcançou uma condição de estabilidade que não suporta mais desequilíbrios e aventuras na economia (maxidesvalorizações, compulsórios etc).

            O crescimento do Brasil continua puxando o consumo interno acima das expectativas mas, infelizmente, algumas experiências econômicas também em outros países demonstraram momentos em que esse circulo virtuoso precisa ser redirecionado, sob pena de crise forte e duradoura. Até 2013, quando teremos total autonomia na produção de derivados de petróleo (com a conclusão de todos os investimentos da Petrobrás), a quase trilogia câmbio-petróleo-inflação deverá ser um dos fios condutores da política econômica fiscal e cambial; até lá, prudência e controle do câmbio farão uma dupla perfeita.

 

 Otomar Lopes Cardoso Junior


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