domingo, 21 de agosto de 2022

Opinião. Controlar (o acesso) as dunas

 

E também os ambientes que possam ser ameaçados por um turismo intenso, muito mais intenso do que as capacidades naturais de resistência e sobrevivência permitam. Não é nenhuma proposta “ecochata”, como dizem alguns, nem mesmo uma proibição total mas, um controle do acesso de pessoas a alguns ambientes naturais e turísticos para uma dupla finalidade: proteger, para preservar este patrimônio, e assegurar que possa garantir-se como atrativo turístico por vários anos.

Para quem assistiu o filme A Ilha, com Leonardo di Caprio, deve ter lido também sobre o efeito do excesso de turistas na Baía Maya, na Tailândia: com mais de 5 mil pessoas por dia visitando a estreita faixa de areia, a poluição provocada e deixada pelos visitantes gerou algo inimaginável, no ano de 2008. Por quatro anos a Tailândia proibiu toda e qualquer visita e, neste ano, há um rígido controle: 375 pessoas podem visitar a ilha ao mesmo tempo e com hora marcada! São 8 horários para você escolher e ir até lá, passando no máximo 60 minutos para as fotos. Esta foi a solução radical encontrada para permitir a visita e garantir que a famosa ilha continue a ser famosa por sua beleza e não por sua ex-beleza.

Ainda não estamos, aqui no RN, perto desta catástrofe ambiental e social (sim, imagine 5 mil pessoas por dia alugando um lugarzinho no barco para visitar Baía Maya e calcule o dinheiro circulando na região). Mas, temos que proteger as dunas, as lagoas, os parrachos, os açudes etc e todos os ambientes que uma superexploração turística possa ser danosa. Não teremos, acredito, um local que venha a receber 5 mil pessoas por dia mas, alguns ambientes podem ficar saturados com 200, 300, 500 etc pessoas/dia.

Claro que a decisão não pode ser arbitrária, mas poderia ser planejada com toda a antecedência necessária para controlar o acesso bem como, ao mesmo tempo, adotar medidas de proteção (o limite de acesso é uma medida de proteção, mas não deve ser a única!). Este movimento de maior controle acontece mundo afora (Veneza, ilha da Córsega, Machi Picchu etc) como também no Brasil, com o Corcovado ou as cataratas em Foz do Iguaçu. E funciona, todo mundo conhece como funciona o sistema de acesso e de reservas.

Aqui temos um exemplo de preservação de ambiente que, na verdade, é mais uma reação passiva do que uma ação efetiva. O Morro do Careca completa quase 25 anos de proibição de subir para tirar uma foto ou descer rolando pela areia. Proibiu-se acesso e, mais nada. Ou, aparentemente mais nada foi feito para preservar o ambiente, parece, esperando que a natureza haja sozinha, no ritmo do tempo sem pressa, sem a menor pressa. E se houver um controle? Será que 50 pessoas por dia poderiam subir? E subir em um roteiro pré-definido, longe das plantas e árvores? Em Machu Picchu, por exemplo, há trilhas com seus limites definidos e locais com acesso proibido.

Controlar as dunas se, e somente se, permitir a preservação do ambiente e sua valorização social. E se o acesso, por exemplo, ao Morro do Careca fosse limitado e com a obrigação de pagar uma taxa, tal como acontece no Parque das Dunas, com toda a receita revertida para sua preservação? Seria uma ideia a ser discutido amplamente, antes de sua eventual validação e de tornar-se um ponto turístico novo na cidade.

 

Obs: o direito à paisagem e ao ambiente devem ser preservados; reforçando, sempre bom deixar (ainda mais) claro, nada de radicalismo, seja contra ou favor, toda interpretação estapafúrdia deve ficar com quem a mente fértil de quem a decidir criá-la.

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