domingo, 30 de junho de 2024

Opinião. Cigarro cerveja e apostas

 

Sou do tempo em que as maiores propagandas no esporte eram dos fabricantes de cigarro. Era uma época, também, em que o esporte era muito masculinizado e fumar era algo “próprio” dos homens, as mulheres não eram muito bem aceitas, se fumantes. Depois foi a vez da cerveja e aí a propaganda se espalhou como nunca visto (ou se pensava como nunca visto). Era uma combinação tão inusitada quanto o cigarro, a de associar a cerveja aos atletas; mas tinha a desculpa, com a cerveja, de que era para associar à comemoração dos resultados, não necessariamente ao atleta (se bem que no Brasil tínhamos alguns atletas “bem” representativos da cerveja...).

 

Faz tempo a propaganda do cigarro foi banida e a da cerveja perdeu o impacto que causava, especialmente no futebol. Ainda presente, claro, em especial na Copa do Mundo da Fifa (vale lembrar que a Lei brasileira foi “adaptada” para que houvesse venda de cerveja nos estádios visto que um grande patrocinador era uma marca de cerveja! Coisas do Brasil).

 

Agora temos um novo mercado publicitário, e não é “coisa do Brasil”. Tenho a sensação que a palavra mais abrasileirada nos últimos meses tem sido “bet”, ou simplesmente, de forma direta, apostas ou ainda, ao que parece, “jogo de azar”. Mas, assistindo alguns jogos da Eurocopa a propaganda oficial nos painéis dos estádios é de uma empresa “bet”; aqui e lá, ou lá e aqui, portanto, futebol é “bet” e “bet” é futebol.

 

Quando vejo os principais times de futebol receberem patrocínio oficial – em milhões! – para divulgar as empresas de apostas fico a pensar que há algo errado. E, ressaltando, não estou informando que há alguma presepada com estas empresas, que há fraude por lá; não é isto. Assim como nos cassinos, os lucros são milionários pelo simples fato de que a probabilidade de ganho é reduzida, mas a tentação é bem elevada. Muito, até. Já comentei sobre estes jogos e, particularmente, sou contra seu formato, excessivamente benéfico para a empresa e algumas migalhas (ou seja, valores pequenos em relação ao total) para os apostadores.

 

Além do vício dos jogos, temos visto notícias de suspeição de resultados dos jogos de futebol no Brasil, em muitas cidades e não somente com equipes mais valorizadas: times pequenos de cidades pequenas também entram nesta história. É que, realmente, é estranho apostar quantos cartões amarelos terão no primeiro tempo, quantos escanteios no segundo tempo ou quantos penalidades acontecerão no jogo. Estranho mesmo, isto é somente aposta, nada a ver com jogo. Digo, com o jogo de futebol.

 

É hora de regular, e com a força que a lei oferece, este tipo de prática que pune o esporte. O jogo de azar é um hábito social, como acontece com o dominó ou os diferentes jogos de cartas; quanto envolve valores e leva ao vício, a tragédia se aproxima em alta velocidade.

 

E quanto contamina e é contaminado pelo futebol, o esporte de maior visibilidade no Brasil, a tragédia fica enraizada. É necessário regular as apostas eletrônicas com estas “bet”. Urgentemente. E se alguém acha isto mera frescura, pois é a liberdade de cada um, do ponto de vista familiar o efeito é outro, mais grave, e do ponto de vista econômico, idem, aquele dinheiro que poderia beneficiar a família e fazer girar a economia (com compras e serviços) está indo para empresas eletrônicas que não contribuem em nada com o Brasil; ou melhor, com quase nada, exceto as propagandas com os times de futebol e as novas camisas para colocar a nova marca. Uma pena! É uma opinião.

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