segunda-feira, 14 de março de 2011

Reescrever o futuro do RN: as novas energias

Artigo publicado na Tribuna do Norte, domingo 13/3/11 

 

 

            Quando a tradicional e renomada USP publicou um número de sua revista "Estudos Avançados, 59" no ano de 2007, dedicada exclusivamente ao "Dossiê Energia", passou longe de uma atualidade tão próxima e de uma capacidade de previsão de um novo – e revolucionário – cenário, a energia do futuro: eólica ou fotovoltaica. Talvez, e isso seja a melhor razão, é o fato de que esses dois "produtos" não são exclusivos do Centro-Sul produtor e centralizador da economia (política) nacional. Na revista da USP nada ou quase nada é mencionado sobre energia eólica ou solar e nenhuma perspectiva, mínima, induzia o leitor a projetor uma nova realidade para o Rio Grande do Norte e o Nordeste.

            As previsões anunciadas nessa última década para o setor energético brasileiro basicamente limitavam-se a descrever uma trajetória fixada na proposta de racionalidade energética, de eficiência do setor produtivo e de sua capacidade de colocar no mercado produtos com baixo consumo de energia; quando tentava-se buscar algo além dessas propostas, abordava-se a expansão da capacidade instalada para buscar as soluções na mesma matriz energética que o Brasil fundou sua economia, as hidroelétricas (algumas vezes a energia nuclear surgia como "nova" solução, mesmo não mais fazendo parte de prioridades de novos investimentos ou reinvestimentos em todo o Planeta).

            Em menos de uma década foi preciso reescrever o futuro do Rio Grande do Norte.

            Aliás, ainda será continuamente necessário reescrevê-lo e não somente sob a ótica econômica mas também social diante de uma verdadeira revolução que se avizinha em investimentos novos e diferenciados em vários municípios do Estado, nas áreas de energia eólica (já em vigor) ou solar (novas idéias).

            No final da década passada ainda apostávamos na tradicional "fórmula de sucesso", com energias não-renováveis e lutávamos pela redenção do Estado com uma refinaria ou a atratividade de novos negócios com o gás natural subsidiado. Estávamos, é bem verdade, seguindo a cartilha tradicional e não fugíamos ao que se convencionava como coerente e realista; foi nesse caminho que o Brasil seguiu e que, certamente, esse passado influenciou os autores e editores da revista "Estudos avançados". Parecia evidente que o Estado, por não dispor de possibilidades técnicas para usinas hidroelétricas nem nucleares (ambas, entre outras condições, precisam de muita água), ficaria à margem, novamente, de uma maior relevância em termos de matriz energética brasileira.

            Hoje, com toda tranquilidade, podemos dizer, felizmente: felizmente não podemos pleitear uma outra "Belo Monte" nem uma nova "Angra".

            Temos, atualmente, condições muito mais valorativas em termos de mercado e de atração de investimentos com vantagens inestimáveis, de provocar inveja aos segmentos produtivos do Centro-Sul do País: temos, e em abundância, energia não poluente (sem conflitos nos licenciamentos ambientais) e absolutamente renovável (ninguém nem nenhuma guerra fiscal eliminará esses créditos do Rio Grande do Norte). Anteriormente, o programa nacional Proinfa, que pretendia ser inovador na transformação da matriz energética do Brasil gerou, diante de tantas mudanças, mais incertezas e desânimos do que os resultados acalentados. Os primeiros projetos de eólica no Rio Grande do Norte completam quase uma década de pioneirismo e até muito recentemente pouco ou muito pouco avançávamos diante de reais e concretas possibilidades no Estado.

            Vale lembrar atualmente, por exemplo, que um dos segmentos que poderá compor uma segunda onda de investimentos em energias no Rio Grande do Norte, na sequência das eólicas é a indústria de painéis fotovoltaicos, ou seja, a produção de equipamentos para outra fonte de energia limpa, a solar (que não encontrou respaldo concreto na fase do Proinfa). Somente agora, em 2011, é que possibilidades passam a ser encaradas como reais condições de implantação no Estado, ainda que a energia solar seja menos atrativa como investimento e resultado financeiro do que a energia eólica.

            O Brasil passa por um momento inusitado em sua economia, de rentabilidade de negócios jamais vista ou de um "pibão" antes somente imaginado sob a perspectiva chinesa. O mundo inteiro, apesar de toda a crise de 2008 e a redução do consumo global, ainda tem investidores (e não somente bancos) com um nível de poupança e de capital disponível de causar inveja e que estão buscando quase desesperadamente (a taxa de rendimento de juros no mercado global é praticamente igual a zero) projetos para aplicar seus recursos: o Brasil, centro das atenções, não para de receber novos investimentos estrangeiros, como também capital financeiro especulativo. Mas, sob a ótica de investimentos rentáveis e grandes negócios, a crise está um pouco mais distante pois há sempre investidores dispostos a rentabilizar um capital que hoje está quase parado.

            E o Rio Grande do Norte é uma excepcional expectativa favorável nesse cenário! Os últimos leilões de energia no Brasil mostraram quanto a condição local deixou de ser mero "potencial" para transformar-se em realidade; dois exemplos são bem sintomáticos nessa história: a inauguração, há poucos dias, da eólica Alegria I em Guamaré com seu já projeto Alegria II em implantação e a chegada, via Porto de Natal, de equipamentos para a implantação de mais um novo parque eólico, desta vez para o município de Parazinho.

            Não há dúvidas de que precisamos reescrever o futuro do Rio Grande do Norte.

            Os cenários antes traçados, por mais otimistas que seus redatores possam ter criados, não previam tão grande transformação em nossa economia. E o melhor – ainda – dessa história é que com o novo leilão e a perspectiva de energia solar que se aproxima da realidade, será possível reescrever por um bom tempo o futuro do RN.

 

 


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