domingo, 5 de maio de 2024

Opinião. A cultura dos megashows

 

O show de Madonna ontem no Rio de Janeiro coroou uma prática comum em alguns países, a da realização de megashows ou megaeventos que transformam uma data comum em uma data especial para milhares de pessoas e dezenas de patrocinadores. É tudo uma questão de negócios. E está certo, entendo que deve ser assim valorizado, com um negócio em que o lucro é 50% do desejado (a outra metade do desejado é o resultado positivo).

 

Infelizmente, no entanto, espalhados em várias pontos deste imenso Brasil e do nosso RN, os grandes shows são entendidos como políticas públicas: é muito comum que as prefeituras façam grandes festas para celebrar datas de emancipação da cidade, padroeiros locais ou datas especiais (Carnaval, São João e Ano Novo, em especial).

 

Acho que estes eventos devem continuam a existir e ter o patrocínio público. Como festas. Não como pseudo-investimento. A diferença é que uma festa pode acontecer de diferentes formas, com maior ou menor orçamento, enquanto um pseudo-

investimento é um mega valor pago a um cantor ou banda como atrativo maior para o evento; não é incomum ver notícias de cachês de R$ 500 mil e até mesmo R$ 1 milhão bancados pelo poder público.

 

É um pseudo-investimento, ou seja, substitui-se o investimento que o poder público poderia/deveria fazer por um grande show, um grande e – curto – evento. Nestes casos, acho que há uma substituição de prioridades.

 

É preciso também levar em conta que para boa parte da população se não houver estes shows gratuitos, patrocinados pelo poder público, dificilmente terão acesso, visto o valor do ingresso. Sem dúvida, há um aspecto social bastante relevante para as festividades e datas especiais; mas, da mesma forma, não pode ser um exagero de recursos públicos.

 

Difícil é estabelecer um parâmetro de quanto deve ser o valor utilizado para contratar artistas, sobretudo com valores de cachê bem elevados. Uma solução, embora parcial, é comercializar cotas de patrocínio com o setor privado, como já vimos acontecer aqui no RN mas, em poucas cidades.

 

Acho que podemos deixar os megashows para que o setor privado banquem esta conta; com isto, serão os seus consumidores que pagarão, ainda que indiretamente, pelo show. Para o setor público  deveria haver pelo menos uma regra clara, e comprovadamente apresentada: qual o valor extra da arrecadação de tributos com o patrocínio? Se é lucrativo para o setor privado tal acontece com o seu patrocínio, também deveria seguir a mesma ideia no setor público.

 

E se o setor privado contabiliza o seu lucro também com a imagem positiva do patrocínio, para o setor público bem que poderia ser apenas em relação ao aumento da arrecadação do ISS e ICMS. É uma opinião.


Obs: No show de Madonna o patrocinador por excelência foi o Banco Itaú e a Heineken foi junto, também pagando caro. O Governo do Rio de Janeiro patrocinou R$ 10 milhões e, pelo investimento para realizar o show, sem falar na ocupação hoteleira e no consumo do público, a receita extra é maior.

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