O show de Madonna ontem no Rio de Janeiro coroou uma prática comum em
alguns países, a da realização de megashows ou megaeventos que transformam uma
data comum em uma data especial para milhares de pessoas e dezenas de
patrocinadores. É tudo uma questão de negócios. E está certo, entendo que deve
ser assim valorizado, com um negócio em que o lucro é 50% do desejado (a outra
metade do desejado é o resultado positivo).
Infelizmente, no entanto, espalhados em várias pontos deste imenso Brasil
e do nosso RN, os grandes shows são entendidos como políticas públicas: é muito
comum que as prefeituras façam grandes festas para celebrar datas de emancipação
da cidade, padroeiros locais ou datas especiais (Carnaval, São João e Ano Novo,
em especial).
Acho que estes eventos devem continuam a existir e ter o patrocínio público.
Como festas. Não como pseudo-investimento. A diferença é que uma festa pode
acontecer de diferentes formas, com maior ou menor orçamento, enquanto um
pseudo-
investimento é um mega valor pago a um cantor ou banda como atrativo
maior para o evento; não é incomum ver notícias de cachês de R$ 500 mil e até mesmo
R$ 1 milhão bancados pelo poder público.
É um pseudo-investimento, ou seja, substitui-se o investimento que o
poder público poderia/deveria fazer por um grande show, um grande e – curto –
evento. Nestes casos, acho que há uma substituição de prioridades.
É preciso também levar em conta que para boa parte da população se não
houver estes shows gratuitos, patrocinados pelo poder público, dificilmente
terão acesso, visto o valor do ingresso. Sem dúvida, há um aspecto social
bastante relevante para as festividades e datas especiais; mas, da mesma forma,
não pode ser um exagero de recursos públicos.
Difícil é estabelecer um parâmetro de quanto deve ser o valor utilizado
para contratar artistas, sobretudo com valores de cachê bem elevados. Uma solução,
embora parcial, é comercializar cotas de patrocínio com o setor privado, como
já vimos acontecer aqui no RN mas, em poucas cidades.
Acho que podemos deixar os megashows para que o setor privado banquem
esta conta; com isto, serão os seus consumidores que pagarão, ainda que indiretamente,
pelo show. Para o setor público deveria
haver pelo menos uma regra clara, e comprovadamente apresentada: qual o valor
extra da arrecadação de tributos com o patrocínio? Se é lucrativo para o setor
privado tal acontece com o seu patrocínio, também deveria seguir a mesma ideia
no setor público.
E se o setor privado contabiliza o seu lucro também com a imagem
positiva do patrocínio, para o setor público bem que poderia ser apenas em
relação ao aumento da arrecadação do ISS e ICMS. É uma opinião.
Obs: No show de Madonna o patrocinador por excelência foi o Banco Itaú e
a Heineken foi junto, também pagando caro. O Governo do Rio de Janeiro
patrocinou R$ 10 milhões e, pelo investimento para realizar o show, sem falar
na ocupação hoteleira e no consumo do público, a receita extra é maior.
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