domingo, 2 de junho de 2024

Opinião. Limite energético

 

Que a questão sobre qual energia queremos e teremos no futuro acende (permita-me o trocadilho) debates calorosos sobre o tema, não há o que contestar. E são debates regionais, nacionais e internacionais, a pauta sobre a questão energética é intensa e ainda coloca em dúvida o caminho a ser trilhado no curto e médio prazos.

 

Inquestionavelmente as tendências indicam uma necessidade de descarbonização acelerada como solução para evitar o tal do aquecimento global. Mas, por vezes o mundo esquece que é desigual e que esta pauta não se aplica uniformemente em todos ao países, em todas as localidades. Esta dicotomia de energia nova – digamos assim – e energia velha ainda fará parte de nossa realidade.

 

No Brasil, semana passada, a notícia de licenciamento de uma usina nuclear e a proposta de ampliar a exploração de petróleo na tal da Margem Equatorial apenas nos lembra que o que está em discussão é a energia velha. E por qual razão? Pelo simples fato de que não há milagre nesta transição, não existe um botão on-off em que do dia para a noite tudo possa ser modificado; a lâmpada de Aladim não existe. Em cenários de curto e médio prazos ainda teremos predominância de energias fósseis ou com maior risco de poluição até, quem sabe, o horizonte de 30 anos tenhamos um panorama completamente diferente. Parece longe, mas deve ser visto como perto; e como necessário.

 

Quando vamos para o aspecto micro a situação segue a mesma tendência. Muitos consumidores migrando para sua própria produção de energia com a instalação de painéis fotovoltaicos. Muito se avançou, mas estamos muito distantes do idealismo de uma autoprodução em massa. E a questão não é mais nem tecnológica (o acesso é muito fácil), nem técnica (a instalação é simples e com garantia de durabilidade de 25 anos) e nem mesmo quanto ao financiamento (não faltam linhas de crédito).

 

Nosso limitador, no Brasil, é a questão econômico-financeira: nem todo mundo, aliás, a maior parcela da população não tem como financiar um empréstimo por 5 ou 7 anos para instalar placas fotovoltaicas em sua casa. Em um país onde a desbancarização (termo estranho, mas comum) é bem real e a renda média do brasileiro é baixa, é difícil ter uma longa e duradoura curva de investimentos individuais (com ou sem crédito).

 

Há, portanto, limites para a produção industrial como para a microprodução. Em algumas divulgações otimistas demais parece que a solução foi encontrada e termos a partir (já de) amanhã um mundo “verde” do ponto de vista energético. Otimismo é bom, sempre, mas muito otimismo acaba provocando um apagão de ideias face à realidade “real”. É uma opinião.

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