domingo, 21 de novembro de 2010

Brasileiro: de “virador” a empreendedor (individual)

Brasileiro: de "virador" a empreendedor (individual)

 

(Publicado no Jornal de Hoje, 19/9/10)

 

O brasileiro sempre foi reconhecido por seu talento de ser um "virador", alguém que na maior das adversidades consegue encontrar uma fórmula – quase mágica – para sobreviver e se "virar" com um otimismo de causar inveja meio mundo lá fora.

 

Esse é o "jeitinho" brasileiro que deveria ser não somente reconhecido, mas enaltecido: a capacidade de ser empreendedor. Essa característica marcante (quase inata) do brasileiro aparece de forma mais sustentada com a crescente formalização de empresas no Brasil: em 2010 já foram criadas cerca de 500 mil novas empresas individuais (com até 1 funcionário), de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

 

No Brasil a realidade da atividade empreendedora está disseminada em todas as suas regiões e estados verificado que, curiosamente, é na porção geográfica do Brasil onde está a maior concentração de riquezas, com suas grandes indústrias, centros comerciais e maiores prestadores de serviços, incluindo centro financeiro, que acontece uma aparente contradição: o Estado de São Paulo, sozinho, já contabilizou 108 mil novos empresários individuais até o mês de agosto desse ano. A informalidade parece ser inversamente proporcional à riqueza econômica e isso deve-se, muito provavelmente, em função de uma maior concentração do PIB em termos de distribuição da riqueza local (e ainda, das inúmeras oportunidades que vão surgindo, ainda que de forma subsidiária ou complementar para quem não está inserido no contexto principal do sistema econômico produtivo).

 

O Nordeste tem até apresentado bom desempenho nessa primeira estatística nacional: 102 mil novos empreendimentos, muito embora os seus nove Estados tenham representando menos do que São Paulo!. Mas, a nossa Região já é a segunda colocada no Brasil na formalização do empreendedor individual, com 20,4% do total nacional (na seqüência seguem o Sul com 15,4%, o Centro Oeste com 10,0% e o Norte com 6,5%).

 

E o Rio Grande do Norte? Aqui no nosso Estado já temos 6.578 novos negócios devidamente estruturados que saíram do famigerado conceito da clandestinidade ou do apreciado termo informalidade para, finalmente, entrar no mundo dos negócios em condições de igualdade com as demais empresas. Fazendo um paralelo com a certidão de nascimento, é o registro do CNPJ de uma empresa o primeiro sinal de cidadania empresarial. Ainda há mais o que buscar em nosso Estado principalmente se compararmos com a Paraíba e o Maranhão, que se assemelham às nossas condições sócio-econômicas, que estão um pouco à frente nessas estatísticas.

 

Não se trata, evidentemente, de propor uma corrida por melhores índices de desempenho na comparação com estados vizinhos, mesmo sendo importante especular sobre novos desafios considerando que algumas de nossas características são bastante comuns.

 

Mas devemos estar atentos, muito mais do que em números, aos resultados que a formalização de empresas pode trazer essencialmente ao brasileiro criativo e ousado, ou seja, ao empreendedor. É esse o "jeitinho brasileiro" que deve prevalecer. E a transição da informalidade para a formalidade não pode, em tempo algum, apagar essa nossa valiosa e inigualável herança cultural e econômica.

 

 

Otomar Lopes Cardoso Junior

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