domingo, 21 de novembro de 2010

O excesso de dinheiro no mundo

O EXCESSO DE DINHEIRO NO MUNDO

 

(Publicado no Jornal de Hoje, 20/11/10)

 

            A crise cambial e as dificuldades que o mercado global ressente ultimamente têm uma explicação aparentemente inusitada: o excesso de dinheiro disponível hoje no mundo. Esse excesso de liquidez está provocando uma situação um pouco caótica nas economias globais mais estáveis, mas também no Brasil. Há muito dinheiro "sobrando" e, por mais esquisito que possa parecer, esse é um dos fatores que tem dificultado a retomada do crescimento mundial e, aqui no Brasil, de nossas exportações.

            Há, simplesmente, cerca de US 4 trilhões "disponíveis" no mercado norte-americano. Uma boa soma, embora todo esse dinheiro, se parado, não serve absolutamente para nada: a maior parte desse valor (cerca de US 3 trilhões) está no caixa de empresas que ficaram muito assustadas depois com a crise de 2008 (quando faltou dinheiro no mercado) e que estão procurando ao máximo manter seu caixa elevado para poder escapar de uma eventual nova crise.  E é justamente isso que está provocando um grande problema no cenário global.

            A falta de consumo por parte das médias e grandes empresas nos Estados Unidos e na Europa e, mais ainda, da falta de novos investimentos, têm provocado uma retração na demanda global de produtos trazendo a pior de todas as conseqüências em uma sociedade: a falta de empregos ou o baixo índice de novas contratações. Sem a geração de empregos e sem a retomada de novos gastos entramos no famoso "círculo vicioso" em que o baixo emprego gera baixo consumo, que gera baixo índice de vendas, que reduz a produção e que, ao final, acaba significando corte de custos e, com conseqüência mais imediata, o corte de empregos; e aí tudo se começa novamente.

            Os Estados Unidos, no centro já da crise financeira de 15 de setembro de 2008, estão no centro das atenções com a queda constante (e irritante) do dólar face ao Real mas também face às demais moedas no mundo; é uma política velada de relançar a economia doméstica através do consumo internacional, ou seja, já que o consumidor norte-americano não compra – seja por estar desempregado ou por temer a perda do emprego – então busca-se alavancar a economia através de uma maior demanda nas importações de seus produtos. O dólar barato faz com que, naturalmente, os produtos norte-americanos fiquem mais baratos no mundo inteiro.

            E o Brasil nisso tudo? Aliás, não somente o Brasil mas o restante do mundo ficam à mercê de política de retomada do consumo a partir do mercado norte-americano, infelizmente... Buscam-se novas soluções com o debate sobre a crise/guerra cambial seja na mídia seja no encontro do G20; mas parece que as soluções estão sendo mais retóricas do que efetivas.

            Para aqueles que criticam a sociedade do hiperconsumo parece ser hora de recuar um pouco mais (pelo menos sob o aspecto quantitativo) pois a atual estabilização das economias passa por mais consumo, isto é, mais gente comprando mais produtos e gastando mais. Não é a solução definitiva nem a melhor de todas mas, tudo indica, parece ser a saída mais rápida dessa crise. O Brasil trilhou por esse caminho e vem escapando entre tsunami e marolinha: o crescimento do consumo da classe média e a inclusão do padrão de vida das classes menos favorecidas, a D e a E, contribuíram para que a anemia não se enraizasse na economia nacional.

            E, com tanta liquidez ou tanto dinheiro "sobrando" por aí, seria uma ótima oportunidade de fazer crescer o mundo através da inserção social, criando condições para que o consumo possa se render em uma oportunidade e não mero privilégio.

 

 

Otomar Lopes Cardoso Junior

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