quarta-feira, 17 de novembro de 2010

ENTREVISTA: PERGUNTANDO... WELBER BARRAL @ O comércio exterior brasileiro

 

                Welber Barral é titular da SECEX-Secretaria de Comércio Exterior, órgão responsável pela "formulação de políticas de comércio exterior" do MDIC-Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Cabe, na condução da política de "cultura exportadora" organizar os ENCOMEX-Encontros de Comércio Exterior que, em sua 2ª edição na versão Mercosul, reuniu mais de 1.500 participantes.

                Entrevista realizada em 1º/9/10 após palestra na solenidade de abertura do Encomex Mercosul que aconteceu nos dias 31/8 e 1º/9, em Porto Alegre, na FIERGS.

 

 

Otomar Lopes – O crescimento do Brasil no Mercosul foi expressivo, como o Sr. mencionou em sua apresentação no Encomex Mercosul; mas, ele foi uniforme em todos os Estados?  O Mercosul é positivo para o Brasil?

Welber Barral – O Mercosul é muito positivo para o Brasil. Em primeiro lugar porque diminuiu as tensões regionais; então, só a vantagem política já justifica o Mercosul. Mas, além da questão política nós tivemos um avanço muito grande na integração produtiva, ou seja, você tem cada vez mais bens produzidos no Mercosul. Os principais produtos de importação brasileiro da Argentina são automóveis em que 60% deles são fabricados com peças brasileiras: você tem aí uma integração produtiva crescente. Houve uma retração muito rápida pós-crise e esse ano nossas exportações para o Mercosul aumentaram 60%, mais do que o índice de qualquer outro bloco econômico. Portanto, é uma contribuição grande na recuperação das exportações brasileiras e é uma exportação muito qualificada: para o Mercosul são fundamentalmente produtos manufaturados.

 

Otomar Lopes – Essa integração regional e a formação de blocos no início do Mercosul parecia ser mais um ideal. Hoje ela se consolida e é uma tendência inevitável?

Welber Barral – Hoje é uma política do Estado brasileiro. Há, realmente, essa crítica de que o Mercosul não avança no ritmo em que poderia avançar, e é verdade; de fato, nós temos entraves institucionais para fazer um avanço rápido como queríamos. Mas tem havido avanços e a reunião de San Juan foi extremamente importante na aprovação, por exemplo, do Código Aduaneiro do Mercosul e da eliminação de dupla cobrança da Tarifa Externa Comum.

 

Otomar Lopes – Na sua apresentação são indicados alguns desafios e gargalos no Mercosul: a logística é um deles. O Brasil tem tido elevados crescimentos no mercado interno e nas exportações para o Mercosul. Como resolver esse problema logístico para que o Mercosul avance cada vez mais na integração regional?

Welber Barral – O Brasil tem capitaneado o mapeamento de várias obras de integração regional. De fato, nós temos situações hoje que chegam a ser absurdas em que empresas multinacionais que estão no Brasil e nos Estados Unidos exportam de lá por que o frete chega a ser mais barato; ou, para citar um caso do Rio Grande do Norte, o caso do frete do sal para São Paulo que é maior do que o do Chile para São Paulo. Então, é um problema de logística e nós precisamos melhorar nossa logística; há um estudo muito interessante do BIRD, do ano passado, intitulado "Desentupindo as veias" que mostra que se houvesse uma logística um pouco melhor, o comércio na região poderia crescer rapidamente.

 

Otomar Lopes – Na sua apresentação podemos ver que cada vez mais a distinção entre mercado interno e mercado externo é ilusória. Qual seria, então, a próxima etapa do Mercosul, Unasul, novos blocos etc? Acordos regionais são cada vez mais necessários para a política industrial do Brasil?

Welber Barral – No caso do Mercosul estamos cada vez mais integrados. Gerar grande escala, gerar inovação regional, gerar a produção que tenha uma escala de produção que justifique o atendimento a um mercado consumidor que está ganhando poder de compra, esse é o novo desafio do Mercosul. Em relação aos blocos, nós fechamos rapidamente o acordo com Israel, que já foi aprovado pelo Congresso brasileiro, fechamos agora o acordo com o Egito e vamos continuar negociando mecanismos de acesso ao mercado. É importante notar que acordos no comércio não necessariamente garantem acesso ao mercado. O Mercosul é a região mais eficiente do mundo na produção de alimentos e esse é um setor que sofre muito com barreiras não-tarifárias em outros países e que precisam de outras negociações além das negociações tarifárias.

 

Otomar Lopes – Os acordos bilaterais, tais Israel e Egito, foram fechados rapidamente, mas a questão agrícola não atrapalhava o fechamento desses acordos?

Welber Barral – A África recebe cada vez mais investimento da China e o Brasil tem buscado alternativas na África e uma política externa favorável à maior integração com o continente africano. A África tem passado, nos últimos anos, por uma revolução em termos de estabilização econômica e, a partir daí, de crescimento econômico; vários países africanos estão com taxas recordes de crescimento econômico. Nós, em seis anos, quadruplicamos nossas exportações para a África e atualmente representa quase 8% das exportações brasileiras. Tem um potencial grande de crescimento, mas temos problemas logísticos para acessar ao mercado africano e nós estamos falando sobre financiamento, pois precisamos melhorar nossos mecanismos de financiamento para fazer nossas exportações mais competitivas.

 

Otomar Lopes – No Brasil nós temos visto uma política de buscar um maior crescimento de pequenas e micro empresas no comércio exterior. No Rio Grande do Norte, um Estado que tem a maior parte de empresas de pequeno porte como exportadoras, do ponto de vista quantitativo e, como em todo o Brasil, as grandes empresas são as maiores exportadoras. É possível buscar novos mercados, fortalecer o Mercosul e ampliar a inserção das micro e pequenas empresas com a expansão comercial?

Welber Barral – Sim, uma das metas do Governo Federal é aumentar o número de pequenas empresas exportadoras. Nós temos vários programas para essas empresas e, inclusive, no Rio Grande do Norte, nós estamos com o programa "Primeira exportação" que ajuda as empresas a se inserirem no comércio internacional. Nós fizemos uma mudança importante, recente, que foi o aumento do limite para exportação com declaração de exportação simplificada, que aumentou muito a participação de micro e pequenas empresas. Agora o Governo anunciou, e estamos trabalhando junto ao Congresso Nacional para aprovar uma outra medida na qual eu acredito bastante: a exclusão das exportações na base de cálculo do Simples e isso vai gerar um incentivo às pequenas empresas para exportar e não ter de sair da sua sistemática.

 

Otomar Lopes – A China é um ator fundamental no comércio exterior e é impossível falar desse assunto sem pensar na China. Ela é uma ameaça ou uma oportunidade para o Brasil?

Welber Barral – Os dois!

 

Otomar Lopes – E para as pequenas e médias empresas?

Welber Barral – Para as pequenas e médias empresas é mais uma oportunidade, pois a China importa US 1,4 trilhão do Brasil e nós exportamos somente 1% desse valor. Então, há um mercado grande para exportação para a China, principalmente em nichos de mercado. A China é uma ameaça para o Brasil principalmente na disputa de terceiros mercados. A China é um competidor forte cada vez mais no mercado americano e latino-americano. Mas o acesso ao mercado chinês pode abrir muitas oportunidades para as empresas brasileiras.

 

Otomar Lopes – Qual seria o maior concorrente da China: o Brasil ou o Mercosul?

Welber Barral – Depende do produto, pois setores como o da soja são a Argentina é tão competitiva quanto o Brasil enquanto em outros tipos de grãos o Brasil é, seguramente, muito mais competitivo.

 

 

Otomar Lopes Cardoso Junior

 

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