quinta-feira, 18 de julho de 2024

“Andar de carro velho”

 

Durante anos Ivete Sangalo emplacou (desculpe o trocadilho) um sucesso com sua música “Carro velho” em que em um dos trechos dizia: “Quer andar de carro velho amor / Que venha”; e continuava a música “Cheiro de pneu queimado / Carburador furado / Coração dilacerado”.

 

É claro que a música não tem nenhuma relação direta com a nova Lei Federal 14.921, do dia 10 deste mês, mas me trouxe a imediata lembrança do ritmo musical. A nova Lei altera do CTB, o tal do Código de Trânsito Brasileiro, ao aumentar a idade dos veículos que podem ser utilizados pelas autoescolas na formação de seus alunos. Há duas defesas possíveis para esta ideia escrita na nova Lei: a primeira, é de que ao aumentar a idade do veículo para utilização poderá diminuir o custo do curso visto que as empresas poderão utilizar o veículo por mais tempo; e a segunda, é de que aumentar a idade do veículo para utilização poderá deixar no mercado veículos eventualmente mais poluentes, considerando o desgaste natural do bem e a diferença de qualidade entre um veículo novo e um veículo mais velho.

 

Se perguntarmos aos donos das autoescolas é bem provável que 100% respondam que a nova Lei é uma grande vantagem assim como se perguntarmos aos usuários é bem provável que 100% responsam que preferem dirigir em um carro novo e mais moderno, mesmo se não será o modelo/ano que comprarão.

 

Até então os carros da categoria A poderiam ter 5 anos de fabricação e agora, até 8 anos. Os mais comuns, da categoria B, passam de 8 para 12 anos de uso e os mais pesados, das categorias C, D e E saem dos 15 para os 20 anos. Um carro comum, aquele dos condutores da categoria B, com 10, 11 ou 12 anos de uso, intensivo, como é nas autoescolas, já não é a melhor das experiências, de conforto e de tecnologia embarcada, como se dizia antigamente. São modelos que, eventualmente, nem estão mais na linha de produção, ainda que circulem muitos deles nas ruas e estradas.

 

Talvez o mais grave sejam os veículos maiores, caminhões e ônibus. Permitir que alguns mais “velhinhos” sirvam de referência para quem está começando a aprender a dirigir não parece ser uma boa ideia. É bem verdade que a durabilidade ou vida útil de muitos deles ultrapassa os 20 anos (e às vezes nem notamos isto na rua) mas, apenas estimula a continuidade de veículos mais poluentes nas cidades.

 

Financeiramente pode ser uma boa iniciativa, as autoescolas não precisarão investir agora e se o preço não aumentar para seus alunos, todos ficarão satisfeitos. Mas, economicamente talvez o custo ambiental não compense, a médio e longo prazos. Ainda que haja críticas, das simples às mais contundentes, sobre os veículos particulares, a boa política a ser adotada deveria ser aquela de alguns países europeus: quanto mais velho o carro, maior o custo de licenciamento, tudo para estimular a renovação da frota e a melhoria ambiental e de segurança dos veículos. Não podemos fazer isto aqui, nossa economia e a renda da população não permitiria isto, seria quase uma penalização para as pessoas com renda menor.

 

Se não temos como melhorar este perfil, poderíamos apenas manter a atual situação. Seria simples, do mesmo jeito. E eficiente.

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