segunda-feira, 8 de julho de 2024

Cidade biológica

 

Os últimos acontecimentos climáticos em cidades brasileiras apenas nos aproximou da necessidade de repensar, mais uma vez, como devem ou como deveriam ser as cidades. Na esteira da tragédia no Rio Grande do Sul outras aconteceram na Alemanha (inundações), nos Estados Unidos (furacão) ou na Suíça (deslizamento de terra de montanha). Claro, não foram as primeiras e nem serão as últimas, e algumas delas o drama foi pontual (no sentido de que deslocou poucas pessoas de seu local de residência) enquanto outras o drama foi bem extenso.

 

É assim com as cidades e, embora tenha alguma correlação com a questão climática, esta questão é um fator inerente aos espaços urbanos. O clima global mudou e alguns céticos acham que é passageiro, outros estudiosos dizem que faz parte do ciclo da natureza e os mais enfáticos dizem que é o aquecimento global.

 

Qualquer que seja o impacto ambiental há uma variável incontrolável e outra variável relativamente controlável ou relativamente incontrolável. O que é certo é que o clima é um dado incontrolável, não há como modificá-lo – por enquanto – para fazer o desvio de chuvas torrenciais, diminuir a quantidade de água que cairá ou desviar um furacão ou ainda evitar enchentes; talvez daqui a alguns séculos chegaremos por lá, mas acredito que não verei este domínio da natureza.

 

Mas, acho que posso ver outra mudança, a das cidades. As cidades são hoje muito mais vistas sob o conceito de sua urbanização do que sobre seus aspectos geográficos, aqui incluindo os fatores humanos e da natureza. Esta é uma variável que pode ser relativamente controlável ou relativamente incontrolável, a depender da forma como a gestão da cidade é conduzida ou desconduzida (se é que existe esta palavra, mas estamos no modismo do “des”). A urbanização envolve muitos aspectos relevantes e trabalha em parceria com a Geografia mas tem uma tendência a não se estender além dos limites – urbanos – da cidade, principalmente quando há alguma conurbação; mas não apenas, pois quando a cidade termina na “natureza” (rio, montanha, mar etc) a urbanização também parece ali se limitar. Infelizmente.

 

Por isto a ideia das cidades biológicas. Temos que pensar em cidades biológicas no sentido de que devem estar integradas com o sentido da vida humana assim como integradas com o sentido da natureza. Um interfere sobre o outro, às vezes de forma mediata e outras vezes de forma imediata. A cidade biológica não é a cidade da natureza, mas uma cidade humana que encontra soluções (ou tenta encontrá-las) para que os efeitos da natureza provoquem menos adversidades, mesmo em casos excepcionais.

 

Hoje temos soluções técnicas para muitas situações, talvez não tenhamos recursos financeiros para todas elas nem soluções sociais para muitas intervenções que seriam necessárias. É esta integração entre solução, dinheiro e pessoas poderá melhorar as cidades.

 

Há muito tempo a Humanidade deu um salto de qualidade quando as cidades começaram a aparecer e se expandir. Depois, involuiu em alguns países com megacidades ou cidades sem qualquer tipo de planejamento. Quem criou a cidade foi o ser humano. A natureza não criou as cidades, mesmo se considerarmos que os locais geográficos tenham sido o fator determinante (como, por exemplo, na confluência de rotas comerciais ou locais mais apropriados para portos).

 

A natureza é parte integrante da cidade biológica. O ser humano também. A cidade biológica, integrada e humana, deveria ser o outro salto de qualidade para a Humanidade; e rapidamente.

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