Os últimos acontecimentos climáticos em cidades brasileiras apenas nos
aproximou da necessidade de repensar, mais uma vez, como devem ou como deveriam
ser as cidades. Na esteira da tragédia no Rio Grande do Sul outras aconteceram
na Alemanha (inundações), nos Estados Unidos (furacão) ou na Suíça (deslizamento
de terra de montanha). Claro, não foram as primeiras e nem serão as últimas, e
algumas delas o drama foi pontual (no sentido de que deslocou poucas pessoas de
seu local de residência) enquanto outras o drama foi bem extenso.
É assim com as cidades e, embora tenha alguma correlação com a questão
climática, esta questão é um fator inerente aos espaços urbanos. O clima global
mudou e alguns céticos acham que é passageiro, outros estudiosos dizem que faz
parte do ciclo da natureza e os mais enfáticos dizem que é o aquecimento
global.
Qualquer que seja o impacto ambiental há uma variável incontrolável e
outra variável relativamente controlável ou relativamente incontrolável. O que
é certo é que o clima é um dado incontrolável, não há como modificá-lo – por
enquanto – para fazer o desvio de chuvas torrenciais, diminuir a quantidade de
água que cairá ou desviar um furacão ou ainda evitar enchentes; talvez daqui a
alguns séculos chegaremos por lá, mas acredito que não verei este domínio da
natureza.
Mas, acho que posso ver outra mudança, a das cidades. As cidades são
hoje muito mais vistas sob o conceito de sua urbanização do que sobre seus
aspectos geográficos, aqui incluindo os fatores humanos e da natureza. Esta é
uma variável que pode ser relativamente controlável ou relativamente
incontrolável, a depender da forma como a gestão da cidade é conduzida ou desconduzida
(se é que existe esta palavra, mas estamos no modismo do “des”). A urbanização
envolve muitos aspectos relevantes e trabalha em parceria com a Geografia mas
tem uma tendência a não se estender além dos limites – urbanos – da cidade,
principalmente quando há alguma conurbação; mas não apenas, pois quando a
cidade termina na “natureza” (rio, montanha, mar etc) a urbanização também
parece ali se limitar. Infelizmente.
Por isto a ideia das cidades biológicas. Temos que pensar em cidades
biológicas no sentido de que devem estar integradas com o sentido da vida
humana assim como integradas com o sentido da natureza. Um interfere sobre o
outro, às vezes de forma mediata e outras vezes de forma imediata. A cidade
biológica não é a cidade da natureza, mas uma cidade humana que encontra
soluções (ou tenta encontrá-las) para que os efeitos da natureza provoquem
menos adversidades, mesmo em casos excepcionais.
Hoje temos soluções técnicas para muitas situações, talvez não tenhamos recursos
financeiros para todas elas nem soluções sociais para muitas intervenções que
seriam necessárias. É esta integração entre solução, dinheiro e pessoas poderá
melhorar as cidades.
Há muito tempo a Humanidade deu um salto de qualidade quando as cidades
começaram a aparecer e se expandir. Depois, involuiu em alguns países com
megacidades ou cidades sem qualquer tipo de planejamento. Quem criou a cidade foi
o ser humano. A natureza não criou as cidades, mesmo se considerarmos que os
locais geográficos tenham sido o fator determinante (como, por exemplo, na
confluência de rotas comerciais ou locais mais apropriados para portos).
A natureza é parte integrante da cidade biológica. O ser humano também. A
cidade biológica, integrada e humana, deveria ser o outro salto de qualidade
para a Humanidade; e rapidamente.
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