A obra da engorda – que é um nome curioso, diga-se de passagem – na praia
de Ponta Negra poderá mudar muitas características no local, assim como em
espaços mais distantes da orla.
Começando pela praia, promete-se uma maior extensão de faixa de areia e
a preservação do patrimônio com o fim das ondas que alcançam o calçadão e aos
pouco vão destruindo. O morro do Careca que passou décadas sem ter ninguém
subindo e, portanto, “derrubando” areia ladeira abaixo, criou um grande batente
que alguns, de forma humorada, passaram a chamar de falésia. Quem sabe, já que ninguém
é o culpado pelo “paredão de Ponta Negra”, a culpa é mesmo da natureza; será?
Com a engorda tudo isto acabaria, anunciam os patrocinadores do
resultado da nova obra. Mudará também muito a paisagem da praia e, se entendi
direito, teremos uma faixa de areia bem mais larga em toda a praia; no início,
se for isto, tenho certeza, será uma grande faixa de areia e pouco tempo depois,
tenho lena convicção, será uma grande faixa de barracas de praia... todas
ocupadas por pessoas que passarão a cobrar de quem pretende ocupar um espaço
público. Já é assim com a faixa de areia menor, imagine a “oportunidade de
mercado” com o aumento deste espaço.
Mas, esta deve ser a menor preocupação social e urbanística da cidade,
se a engorda não afetar a movimentação da maré e o deslocamento de areia nas
praias vizinhas.
É que basta lembrar Barcelona e a preparação da praia para os Jogos
Olímpicos. Uma praia urbana quase abandonada e feia e que hoje é um ponto de
frequentação e, mais ainda, com a revitalização da área tornou-se um dos
principais pontos turísticos da cidade (assim como o bairro), com a natural
ocupação do comércio para os turistas, cheio de bares e restaurantes, aumento
no preço do aluguel e toda uma mudança no sistema de transporte público,
iluminação, segurança etc.
Transpondo este resultado para Ponta Negra. Se a faixa de areia vai
aumentar, haverá uma natural expectativa de maior frequentação de pessoas,
entre turistas e, acredito, natalenses. E todos deverão chegar por lá pela
única via (rua) de acesso à parte principal da praia. Em alguns dias o trânsito
ali já é caótico e depois que diminuíram o espaço de estacionamento, a paciência
é a melhor dica de quem vaia para lá. Agora, com muito mais gente querendo ir
para lá, ficará muito “interessante” todo o fluxo para a praia.
Esta engorda não somente engordará a faixa de areia, mas também o fluxo
de pessoas e o fluxo de veículos. Todo mundo tendo apenas uma alternativa para
chegar lá. Vi que os estudos de impacto ambiental apontaram a necessidade de
acompanhar o efeito nas aves migratórias, mas não vi se apontaram a necessidade
de acompanhar o efeito dos turistas “migratórios” que tentarão chegar por lá
nos finais de semana e na alta estação; aliás, engordará também o fluxo de ruas
vizinhas ao acesso à praia, algo que poderá gerar alguma insatisfação para a população
local que poderá escolher entre o engarrafamento para Pirangi ou para Ponta
Negra!
O turismo de engorda afetará a areia. E o asfalto. Turismo de excesso – também – começou
assim.
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