quinta-feira, 11 de julho de 2024

Turismo de engorda

 

A obra da engorda – que é um nome curioso, diga-se de passagem – na praia de Ponta Negra poderá mudar muitas características no local, assim como em espaços mais distantes da orla.

 

Começando pela praia, promete-se uma maior extensão de faixa de areia e a preservação do patrimônio com o fim das ondas que alcançam o calçadão e aos pouco vão destruindo. O morro do Careca que passou décadas sem ter ninguém subindo e, portanto, “derrubando” areia ladeira abaixo, criou um grande batente que alguns, de forma humorada, passaram a chamar de falésia. Quem sabe, já que ninguém é o culpado pelo “paredão de Ponta Negra”, a culpa é mesmo da natureza; será?

 

Com a engorda tudo isto acabaria, anunciam os patrocinadores do resultado da nova obra. Mudará também muito a paisagem da praia e, se entendi direito, teremos uma faixa de areia bem mais larga em toda a praia; no início, se for isto, tenho certeza, será uma grande faixa de areia e pouco tempo depois, tenho lena convicção, será uma grande faixa de barracas de praia... todas ocupadas por pessoas que passarão a cobrar de quem pretende ocupar um espaço público. Já é assim com a faixa de areia menor, imagine a “oportunidade de mercado” com o aumento deste espaço.

 

Mas, esta deve ser a menor preocupação social e urbanística da cidade, se a engorda não afetar a movimentação da maré e o deslocamento de areia nas praias vizinhas.

 

É que basta lembrar Barcelona e a preparação da praia para os Jogos Olímpicos. Uma praia urbana quase abandonada e feia e que hoje é um ponto de frequentação e, mais ainda, com a revitalização da área tornou-se um dos principais pontos turísticos da cidade (assim como o bairro), com a natural ocupação do comércio para os turistas, cheio de bares e restaurantes, aumento no preço do aluguel e toda uma mudança no sistema de transporte público, iluminação, segurança etc.

 

Transpondo este resultado para Ponta Negra. Se a faixa de areia vai aumentar, haverá uma natural expectativa de maior frequentação de pessoas, entre turistas e, acredito, natalenses. E todos deverão chegar por lá pela única via (rua) de acesso à parte principal da praia. Em alguns dias o trânsito ali já é caótico e depois que diminuíram o espaço de estacionamento, a paciência é a melhor dica de quem vaia para lá. Agora, com muito mais gente querendo ir para lá, ficará muito “interessante” todo o fluxo para a praia.

 

Esta engorda não somente engordará a faixa de areia, mas também o fluxo de pessoas e o fluxo de veículos. Todo mundo tendo apenas uma alternativa para chegar lá. Vi que os estudos de impacto ambiental apontaram a necessidade de acompanhar o efeito nas aves migratórias, mas não vi se apontaram a necessidade de acompanhar o efeito dos turistas “migratórios” que tentarão chegar por lá nos finais de semana e na alta estação; aliás, engordará também o fluxo de ruas vizinhas ao acesso à praia, algo que poderá gerar alguma insatisfação para a população local que poderá escolher entre o engarrafamento para Pirangi ou para Ponta Negra!

 

O turismo de engorda afetará a areia. E  o asfalto. Turismo de excesso – também – começou assim.

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