quarta-feira, 10 de julho de 2024

Renunciar à herança política

 

A aproximação da eleição de outubro e mais perto ainda das convenções partidárias vai resgatar alguns passados mais recentes ou mais longos, aqueles em que as heranças políticas foram construídas e serviram de plataforma para quem está hoje no poder. Na vida privada a herança não é obrigatória e o beneficiário pode simplesmente recusá-la (sempre integralmente), sempre dependendo de um ato expresso para dizer que não quer receber aquele patrimônio (no caso, financeiro).

 

Na política vemos muitas heranças abandonadas, muitas composições novas realizadas e muitos resgates históricos de interesses que contribuíram para o sucesso como também para o fracasso eleitoral. O mais interessante é que estas heranças são transitórias, muito volúveis e bastante adaptáveis, quase ao gosto do cliente e da vez.

 

Na política a composição é a regra do jogo, sempre que há um domínio sem oposição ou sem possibilidade de contraposição é bastante provável que estejamos diante de uma ditadura; e se não houve nenhum oposição, seja de direita seja de esquerda, é das mais cruéis ditaduras.

 

O exemplo das eleições legislativas na França neste domingo mostram que a composição de alianças é necessária para chegar ou poder ou nele manter-se. Aqui a aliança da esquerda com os centristas (ligados ao Presidente Macron) foi chamada de cordão sanitário, para combater a tomada do poder pela extrema direita (que reclamou da aliança, chamando-a de espúria). O mundo inteiro, praticamente, aplaudiu a aliança de opiniões político-partidárias diferentes e algumas vezes contraditórias. É o jogo da política e, vale lembrar, não tem nada a ver com Maquiavel, é bem mais antigo.

 

Muitas heranças políticas brasileiras são transitórias, seguem para um lado, depois para o outro e assim flutuam no cenário. É quase o princípio da economia circular, no sentido em que há verdadeira circulação de apoios e de combates.

 

No mundo privado, familiar, se alguém recusa uma herança não poderá mais mudar de ideia, é um ato irrevogável e irretratável. Na política não há como fazer igual mas bem que poderia ter uma regra de transição, como acontece em alguns cargos públicos: encerrada uma aliança política ela somente poderia ser retomada na próxima eleição. Pode ser que a ideia venha a gerar alguma confusão e alguma dificuldade de colocá-la em prática, mas faria com que os partidos fossem 100% políticos. É a política.

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