A aproximação da eleição de outubro e mais perto ainda das convenções
partidárias vai resgatar alguns passados mais recentes ou mais longos, aqueles
em que as heranças políticas foram construídas e serviram de plataforma para
quem está hoje no poder. Na vida privada a herança não é obrigatória e o
beneficiário pode simplesmente recusá-la (sempre integralmente), sempre
dependendo de um ato expresso para dizer que não quer receber aquele patrimônio
(no caso, financeiro).
Na política vemos muitas heranças abandonadas, muitas composições novas
realizadas e muitos resgates históricos de interesses que contribuíram para o
sucesso como também para o fracasso eleitoral. O mais interessante é que estas
heranças são transitórias, muito volúveis e bastante adaptáveis, quase ao gosto
do cliente e da vez.
Na política a composição é a regra do jogo, sempre que há um domínio sem
oposição ou sem possibilidade de contraposição é bastante provável que
estejamos diante de uma ditadura; e se não houve nenhum oposição, seja de
direita seja de esquerda, é das mais cruéis ditaduras.
O exemplo das eleições legislativas na França neste domingo mostram que
a composição de alianças é necessária para chegar ou poder ou nele manter-se.
Aqui a aliança da esquerda com os centristas (ligados ao Presidente Macron) foi
chamada de cordão sanitário, para combater a tomada do poder pela extrema
direita (que reclamou da aliança, chamando-a de espúria). O mundo inteiro,
praticamente, aplaudiu a aliança de opiniões político-partidárias diferentes e
algumas vezes contraditórias. É o jogo da política e, vale lembrar, não tem
nada a ver com Maquiavel, é bem mais antigo.
Muitas heranças políticas brasileiras são transitórias, seguem para um
lado, depois para o outro e assim flutuam no cenário. É quase o princípio da
economia circular, no sentido em que há verdadeira circulação de apoios e de
combates.
No mundo privado, familiar, se alguém recusa uma herança não poderá mais
mudar de ideia, é um ato irrevogável e irretratável. Na política não há como
fazer igual mas bem que poderia ter uma regra de transição, como acontece em
alguns cargos públicos: encerrada uma aliança política ela somente poderia ser
retomada na próxima eleição. Pode ser que a ideia venha a gerar alguma confusão
e alguma dificuldade de colocá-la em prática, mas faria com que os partidos
fossem 100% políticos. É a política.
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