segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

E se não houvesse Carnaval?

Pergunta meramente retórica, visto que para alguns seria o equivalente ao fim do mundo. Mas, pergunto “e se não houvesse Carnaval” no sentido econômico do evento, dos milhões que são gastos anualmente por entidades e associações promotoras dos milhares de eventos em todo o País, dos incentivos públicos distribuídos anualmente, do patrocínio das empresas privadas e, claro, do investimento (ou gasto) que cada um faz durante os 30 dias do Carnaval. Sim, 30 dias, pois tem o antes, o durante e o depois e ainda tem o além-do-depois para aqueles que não se cansam nunca e se divertem como sempre.

Nestes dias todas as notícias irão para os blocos e os eventos, as estruturas e a participação popular, os hotéis e os Carnavais diferentes-diferenciados que se espalham em praticamente todas as cidades. Difícil, até, imaginar uma cidade em que não haja nenhuma festividade ou pelo menos uma animação em um clube, restaurante ou bar. Enfim, festa para todos.

Passados estes dias começará a safra dos números: foliões, turistas e os milhões, ou melhor, as centenas de milhões que os brasileiros gastaram nestes dias. É muita coisa! A cada estatística desta fico sempre pensando em pelo menos duas questões: quanto isto representa em relação ao PIB do Brasil (e questão subsidiária, será que daria o PIB de algum país?! Acho que sim) e para onde iria todo este dinheiro que o folião brasileiro gastou no Carnaval se não houvesse esta festa?

É mera questão retórica, como mencionei, pois o valor gasto no Carnaval movimenta toda a economia nacional e afeta bastante alguns segmentos que têm este período o faturamento superior a 2, 3 e eventualmente 6 meses do ano. Não dá para imaginar que este dinheiro ficaria na conta bancária de cada um, mas dá para imaginar que poderia ser destinado para outras atividades – tão importantes quanto o lazer – como educação, saúde, casa própria etc.

É claro que não sou contra o Carnaval, para não parecer que trata-se de mera crítica quanto aos valores gastos. Sou a favor e acho que a iniciativa privada deve gastar mais, sempre mais, e o poder público, menos, apenas quando a condição da festa pública não permite alavancar recursos, como acontece com a festa em Natal. Já fui algumas vezes acompanhar os desfiles na Ribeira e sempre volto triste e animado: triste ao ver quanto é simples e quanto há pouco investimento, além de uma sensação de repetição, e animado ao ver algumas pessoas se dedicando de corpo e alma ao que fazem e ver que tem um bom público dispostos a festejar a data.

Não sei quanto “vale” o Carnaval de Natal no sentido da metodologia aplicada, aquela que nos informa o impacto financeiro e econômico na cidade. Estou me referindo ao desfile oficial, aquele que tem pouco incentivo, que os blocos têm poucos adereços e carros alegóricos e que o comércio dominante está nas pequenas barracas e caixas de isopor, entre meses e a fumaça dos churrasquinhos; e que, guardada as devidas proporções, é tão impactante para o pequeno comerciante quanto é para os grandes empresários que investem pesado em barracas, seguranças, pessoal etc.

E se não houvesse desfile do Carnaval em Natal? Seria ruim, muito ruim, para a cidade e seus carnavalescos. Falta menos de uma semana para os desfiles oficiais e ainda não vi a programação na Ribeira; será que não haverá Carnaval este ano?! Se haverá, hora de divulgar, a começar pela programação.

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sábado, 22 de fevereiro de 2025

Ironia: gramado artificial x inteligência humana (humor)

Em tempos de IA ou inteligência artificial um importantíssimo debate nacional tem sido as reclamação contra o gramado artificial nos campos de futebol. A nossa inteligência humana esportiva já identificou o problema artificial que atrapalha os jogos. É um bom sinal. A próxima etapa é identificar o que falta para o futebol brasileiro conquistar uma Copa do Mundo, e preferencialmente já poderia começar com a próxima, de 2026. Se já temos inteligência para combater o gramado artificial, com um pouco mais saberemos como combater os adversários?


sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

Mercado Livre. E lucrativo

 ode ser que você tenha outras preferências e nunca tenha comprado no Mercado Livre, mas para quem é adepto de compras eletrônicas sabe muito bem o que é Mercado Livre e o papel que tem no mercado brasileiro e a credibilidade que alcançou nestes últimos anos. É a maior empresa da América Latina em termos de vendas de produtos on line e com aquela velha contradição meramente aparente, não produz nada e vende de tudo quase um pouco mas, onde ganha dinheiro mesmo é na diversidade dos itens que vendem pouco e nos poucos itens que vendem muito. Nada de especial, claro, foi assim com as chamadas “lojas de departamento” e sempre foi assim com os supermercados.

Mercado Livre é um caso de sucesso espetacular que se especializou em ser eficiente na entrega das mercadorias, de assegurar um prazo bastante razoável e de não ter problemas nos pagamentos on line, sem fraudes e sem vazamento de informações. Os investimentos não param no mundo virtual já que detém vários galpões em pontos estratégicos no Brasil, inclusive um gigantesco centro de distribuição em Recife que gera milhares de empregos.

É apenas um exemplo destes monstros do comércio eletrônico como são Amazon, Shein, Temu etc. É a real força do comércio eletrônico que parece não parar de crescer e de concorrer com as lojas físicas. Considero que hoje não deve ter mais ninguém achando que seria apenas um modismo ou um efeito passageiro, que as pessoas continuariam – eternamente – a preferir comprar na loja para experimentar o produto e ter a sensação de conversar e perguntar algo aos vendedores. Isto foi no século passado e todas as grandes lojas brasileiras já entenderam qual é o caminho necessário para sobreviver assim como aquelas empresas lá na outra ponta do mercado, as pequenas, já perceberam que seria uma excelente oportunidade para conquistar clientes, que estejam perto ou longe, pouco importa.

A notícia de semana do Mercado Livre foi o lucro anunciado para o último trimestre do ano passado: 639 milhões de dólares e se você acha que é um bom valor, imagine então que este lucro foi 287% maior do que no mesmo período de 2023! A receita líquida da empresa foi de US 6,1 bilhões entre outubro e dezembro de 2024, também maior do que aquela de 2023. É algo espetacular no mundo dos negócios de uma empresa que continuou a investir acreditando que o investimento traria mais receita e mais lucro. E acertou.

E a gente imaginar o impacto da “taxa das blusinhas” ou da variação cambial ou do aumento do ICMS nas compras eletrônicas parece que nada disso afetou o mercado nem a empresa Mercado Livre. O poder público às vezes tem tendência a imaginar que aumentar impostos ou taxas pode frear o lucro e gerar mais concorrência, uma forma de proteção do consumidor e das empresas; na verdade, quando o negócio é muito lucrativo o impacto real é que a empresa repassará o custo e no final das contas é o consumidor final que bancará a receita extra para o poder público.

Quando o mercado é concorrencial, ou seja, quando o mercado é o mais livre possível, o lucro estará sempre presente; um verdadeiro presente para os sócios. Mercado livre é bom, de verdade? É o melhor dos mercados; Mercado Livre que o diga.

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quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

A mediocridade é uma arte

É meio estranho fazer esta afirmação de que a mediocridade é uma arte mas, às vezes me surpreendo a pensar se isto não serial efetivamente real; talvez não 100%, mas acho que muita gente considerada medíocre não se esforça para ser assim conhecido enquanto há um bom público que se esmera em ser medíocre, que prepara todo um planejamento para ser reconhecido com medíocre.

Explico: é comum em qualquer organização, setor privado, administração pública, entidade associativa, grupo de amigos ou de família etc ter alguém que se destaca basicamente por ninguém acreditar que a pessoa seria capaz de fazer alguma coisa e por isto reconhecido ou pelo menos validado como medíocre. O resultado é que esta alcunha de medíocre acaba provocando um efeito muito positivo para quem buscar ser deste jeito: é que como ninguém mais confia na pessoa e antecipadamente já decide que ela não fará nada que for solicitado, ninguém pede nada, ninguém passa nenhuma atividade e ninguém conta como uma pessoa colaborativa quando a ideia é um trabalho conjunto, uma atividade comum.

De modo hipotético e ilustrativo, é aquela pessoa que depois de uma festa ou um churrasco  não ajuda a organizar as coisas, não participa da limpeza nem se dispõe a fazer nada, apenas fica ali esperando que todo mundo faça tudo. No máximo, fica observando. E como é uma pessoa medíocre o senso comum é que não fará nada ou se fizer não completará a atividade ou fará mal feito e exigirá que alguém (re)faça tudo. Esta mediocridade não é assim tão fácil de... conquistar, mas é bem fácil de ser reconhecida. Uma arte, não?

Outro exemplo hipotético é quando o chefe passa uma atividade para alguém fazer e nada é feito, obrigando o chefe a encontrar alguém que faça o trabalho no lugar do medíocre. Como o chefe é bonzinho e acha que foi mera coincidência, passa nova atividade e o resultado é exatamente o mesmo! Mas, como o chefe é teimoso, decide tentar uma terceira vez para nova decepção. Resultado: nada mais será solicitado à pessoa que ficará sem atribuições ou apenas fazendo coisas bestas, das quais fazendo ou não, atrasando ou não, não impactará em nada na organização.

Acho tudo isto uma arte! Não é fácil ser incompetente ou medíocre em várias coisas e ao mesmo tempo. É certo que ninguém é bom, ninguém é 100% em tudo e algumas coisas realmente muita gente não conseguirá fazer mas, terá será algo que possa contribuir, alguma coisa que saiba fazer. Ninguém é medíocre 100%, nem mesmo em tempo integral. São pessoas dissimuladoras que se “especializam” na arte da mediocridade para não fazer nada e esperar que todo mundo faça tudo em seu lugar; é quase um sinônimo de preguiça misturado com um sinônimo de aproveitador.

Sempre acho que esta mediocridade deve ser “valorizada”, pois considero uma arte. Como valorizar? Dois caminhos sugeridos. O primeiro é enaltecer a pessoa em uma atividade, valorizá-la ao máximo no seu ambiente e dizer que somente ele é capaz de fazer; isto obrigará a trabalhar, o que é um grande sacrifício. E o segundo é passar uma atividade penosa ou longa – ou penosa e longa – e dar toda a corda possível indicando a essencialidade do trabalho, de vez em quando incentivá-lo para quando eventualmente conclui-lo não dar a menor atenção. Nas duas hipóteses, nenhuma maldade. Na verdade, um incentivo para mostrar que se a mediocridade é uma arte, gerenciar estas pessoas é outra arte, uma outra nobre arte. Pode até não resolver, mas neste caso o medíocre apenas assumirá aquilo que é, sem arte, apenas sua incompetência social.

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quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

Diógenes ou a lanterna

 

Diógenes é hoje um nome menos pronunciado não somente por ser  mais difícil de encontrar crianças ou jovens assim chamados como também o personagem mais conhecido, o grego, ser pouco lembrado. Diógenes foi um filósofo grego e talvez um dos com mais histórias engraçadas, algumas bem particulares e outras que até nos permitimos retirar alguma lição.

Acho que a maior associação ao nome de Diógenes era a sua lanterna (claro, não no formato de hoje, com pilhas!), mas a lamparina, como dizem alguns, que utilizava para andar nas ruas em busca do homem verdadeiro, aquele sem erros comuns, virtuoso e sem muitas vaidades. Outra história conhecida dele era com Alexandre o Grande que ao interrogá-lo teria recebido como resposta que ele estava atrapalhando, pois tapando o sol... Em tempos de hoje, se Diógenes andasse circulando pelas ruas de nossas cidades até que seria conhecido como “o cara”. Claro, um cara muito excêntrico, meio maluco com suas ideias, mas com algumas verdades que chocavam, seja por seu conteúdo seja pela forma como se expressava.

Diógenes não era muito levado a sério, diga-se de passagem. E não seria hoje também. Mas, não por várias razões como na época da Grécia Antiga, pois bastava um único motivo para ser objeto de chacota: onde já se viu sair procurando um “homem verdadeiro” (e não tem nada a ver com a lanterna)? Neste mundo cada vez mais diferente todos os dias que se reinventa com coisas novas e também com coisas antigas, como seria possível ter um “homem verdadeiro” entre nós?

Acredito sinceramente que há muitas boas pessoas, verdadeiras e honestas e capazes de fazer muitas coisas boas. Essas pessoas existem, sim. Mas, parece que por medo de ser considerado ultrapassado, antigo ou meio maluco, essas pessoas são mais tímidas, circulam menos ou pelo menos divulgam menos o que fazem. É que a moda do exibicionismo ataca cada vez mais pessoas e as normalidades são cada vez menos normais, o impensável e o imponderável podem surgir a qualquer tempo e ninguém nem mais ficar envergonhado com nada. Não é um “vale tudo” mas é um muito coisa é possível ou se você preferir, “eu não tô nem aí”.

Voltando para Diógenes, mesmo com suas loucuras, sinto falta da lanterna, de uma lanterna. Diógenes usava sua lanterna – uma lamparina – em plena luz do dia, era uma de suas loucuras que hoje também seria esquisito. Mas é que tem tanta coisa meio estranha, meio esquisita, sem falar nas pessoas com menos boa-fé do que o desejado, que acho que uma lanterna poderia nos ajudar – em plena luz do dia – a encontrar pessoas verdadeiras. E daria até para fazer um teste: se alguém aparecer com uma lanterna em pleno dia ensolarado e procurando um pessoa verdadeira e ao deparar-se com alguém que achasse tudo normal, esta não seria a pessoa procurada; mas, se encontrasse alguém que achasse meio esquisito este objetivo, teria uma chance de ser tal pessoa.

E se ela perguntasse qual seria a vantagem da existência de muitas pessoas verdadeiras nesta nossa atual sociedade, já seria um grande indício de sucesso. E talvez nem seria por causa da pergunta, mas seria até pela forma educada de fazer a pergunta e de dialogar com o outro, sem estranhamento. Às vezes tenho vontade de sair com a lanterna; ainda tenho esperança!

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terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

Mais delegacias ou mais presídios?

A violência urbana tem seu lado sombrio e desconhecido, aquele que não aparece na internet dos influenciadores nem no noticiário. É comum escutarmos histórias de alguém que teve algum problema, um furto ou um roubo, de celular, carro, dinheiro ou na sua residência, mesmo que não tenha sido algo espetacular, “digno” de um vídeo feito por um celular ou uma das milhões de câmeras de vigilância espalhadas nas cidades; não é visto por milhares ou milhões de pessoas, mas está a assustar quem sofre com esta violência, infelizmente, tão comum.

Quando vemos na TV os crimes bárbaros que nos chocam em todos os sentidos é que fica mais aguçada a ideia de que as cidades estão se transformando em um lugar perigoso. E o que é mais grave, é que este perigo está sendo banalizado, está sem tornando algo quase comum, bem diferente de alguns anos quando as histórias que nos surpreendiam aconteciam na calada da noite, em locais chamados perigosos ou ruas e praças desertas. Agora, nem precisamos deste cenário de filme “b” policial, tudo pode acontecer à luz do dia, nos bairros ditos menos violentos, nas ruas mais movimentadas, independentemente de ter muitas câmeras por perto, e tudo isto tornando o crime um espetáculo filmado, gravado, repetido e visto por muita gente.

Infelizmente esta é uma constatação bem espalhada em vários cantos de nossa cidade, em várias cidades do Brasil e em muitos lugares deste planeta Terra. Histórias de violência não acontecem somente em favelas, como tanto ficou estigmatizada a imagem negativa destas áreas desassistidas, mas em bairros nobres, em comércios de referência e até mesmo em shoppings. E lá fora, histórias nos Estados Unidos ou na França, que enfrenta uma série de crimes violentos por causa das drogas, mostram que o problema é bem grave, mesmo.

Não tenho solução, já adianto a resposta caso alguém imagine que a crítica é fácil quando não se aponta uma solução. Mas, mesmo sem solução, tenho uma opinião. Não há como tratar a violência e o banditismo com romantização e o coitadismo e isto na mesma proporção que não se deve tratar o “bandido” ou quem cometeu um crime como a pior representação da espécie humana. Como diria o ditado, nem tampouco à terra nem tampouco ao mar. Mas, talvez, acho que precisa de medidas mais enérgicas para tentar diminuir a expansão do crime.

Um desafio imenso são as nossas prisões, verdadeiros depósitos de pessoas sem que haja uma real perspectiva de “recuperação” ou de arrependimento do crime cometido e que proporcione uma expectativa pós-condenação. Também não é a sua lotação ou excesso de pessoas que deve justificar o relaxamento de alguém em uma audiência de custódia, ou trocar a punição por uma tornozeleira eletrônica. Por isto, acho que precisamos de mais presídios mas em um modelo mais humano e com um propósito de recuperação social. Por outro lado, somente a punição não se mostra como solução para reduzir a criminalidade e dentre as possibilidades de intervenção social e econômica, a prevenção pode ser um fator inibidor. Por isto, acho que precisamos de mais delegacias para que a população sinta-se mais próxima da proteção policial e aqueles que estejam tentados em cometer algum crime possam mudar de ideia e sair deste cruel caminho.

Não sei onde está nem quem detém a solução ideal. Certamente é um conjunto de fatores que reduzirá a violência urbana, dos roubos e furtos violentos que nos chocam a cada filmagem exibida e reexibida exaustivamente; mas acho que mais presídios e mais delegacias podem ser parte desta composição de respostas.

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segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

Quase 600 dias

Ainda faltam quase 600 dias para a eleição de 2026, que deverá ter seu primeiro turno no domingo 6 de outubro. Em 600 dias dá para fazer muita coisa, é possível planejar muitos projetos e é possível mudar muita coisa nestes quase 19 meses. Parece longe, bem longe, quando pensamos isto em termos de projetos pessoais mas, por outro lado, para a turma da política fica a sensação de que demorará para chegar, rapidamente, o fim desses 600 dias, o fatídico 6 de outubro de 2026.

Na política é assim, felizmente ou infelizmente, dependendo do ponto de vista crítico que se queira dotar pois, mal saíamos de uma eleição e já tem muita gente planejando a próxima, muitas conversas acontecendo e muitas alianças sendo idealizadas. Particularmente não vejo como uma crítica a pretensão, que parece tão cedo, de planejar a eleição que parece tão distante. Explico.

Primeiramente em face da comparação com o mundo empresarial que é capaz de planejar ainda com mais antecedência os próximos passos, o planejamento de médio ou longo prazo. Chama-se até mundo gerencial e de consultoria a tal da “visão de futuro”, quando os gestores da empresa planejam (e sonham) onde querem estar e como querem ser vistos por seu público nos próximos 5 anos; assim, na política planejar com menos de 2 anos de antecedência parece algo de curto prazo.

Em seguida pelo fato de que a classe política está buscando algo que a maioria das pessoas está planejando, embora alguns de forma mas dedicada enquanto outros apenas de forma pontual e passageira: qual será meu futuro, meu emprego, nos próximos anos? Ora, quem começa a estudar e fazer uma graduação está pensando em algo que acontecerá somente daqui a 4, 5 ou até mesmo 10 anos! Basta considerar o ano preparatório do Enem, uma graduação de 4, 5 ou 8 anos, e mais uma especialização e ainda sem contar com alguma greve, é um plano longo, de longo prazo.

As empresas planejam para frente, as pessoas buscam adotar ações para os próximos anos e assim vamos tentando criar o nosso futuro, mesmo se nem tudo que é idealizado dá certo, são muitas tentativas e muitas apostas nos erros-e-acertos do que fazemos; afinal, nem mesmo controlamos nossas ações quanto mais as dos outros e ainda precisamos nos lembrar da “concorrência”, de alguém que pode querer atrapalhar tudo.

Na política, o tempo parece ser mais acelerado: faz pouco mais de 100 dias que terminou o segundo turno das eleições em Natal e já tem muita gente trabalhando pensando nos próximos 600 dias.

Acho positivo este “planejamento” e fico sempre com a esperança que as alianças planejadas não sejam apenas fortalecer este ou aquele grupo com única finalidade de conquistar o poder. Entendo minha ingenuidade, mas ainda tenho esperança que alguns dos aliados queiram mudar algo, melhorar nossa realidade. Em 600 dias dá tempo de criar muitas ideias. E boas.

PS: Aprendi com um veterano da política que o mandato de 4 anos passa bem rapidinho para quem está no poder mas, para quem está na oposição, fora do poder, os mesmos 4 anos são uma eternidade!

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sábado, 15 de fevereiro de 2025

Aspirina, Tylenol, Viagra, Ozempic etc

Lembrando apenas destes nomes de remédio parece que a sociedade em alguns momentos busca soluções (quase) mágicas para problemas crônicos, busca uma solução de resultado imediato e preferencialmente bem prático, algo que não dê trabalho, pelo menos para o usuário.

Houve tempos – e faz tempo, pois ainda foi no século passado – que Aspirina e Tylenol faziam parte do vocabulário comum e não somente pela acessibilidade a tais medicamentos, mas também pela quantidade de notícias que circulavam sobre os efeitos destes medicamentos. Era também a época de algumas descobertas e grandes desafios para a ciência e toda novidade encantava muita gente; aliás, isto não mudou mas, o que mudou foi a velocidade que uma descoberta na área farmacêutica se propaga e, de forma impressionante, como aparecem soluções alternativas, sejam os famosos genéricos sejam as famosas derivações de uma fórmula original.

Aspirina e Tylenol tiveram suas grandes contribuições e hoje são tão comuns que não encantam praticamente mais ninguém. É mais ou menos o que aconteceu com o Viagra que, quando surgiu foi um sucesso espetacular de vendas e também de notícias que se espalharam em todo o mundo. O famoso “azulzinho” acho que deveria ser o remédio mais conhecido tamanha foram as virtudes declaradas e repetidas de forma científica, na imprensa e também nas conversas particulares, entre homens e mulheres. Se no começo era um remédio mais consumido pelo pessoa de idade média, mais como um complemento de alguma disfunção, em pouco tempo se popularizou de tal forma que não tem mais “idade recomendada” para ele e, como foi noticiado recentemente, seu concorrente, o “Tadala” como é popularmente conhecido, virou até febre nas academias...

Mas o momento atual, mesmo, é do Ozempic e de seus similares, genéricos ou qualquer outra classificação que se pretenda. Particularmente, acho que o Ozempic é até patrocinado pelo Mac Donalds! Ou deveria... É que batem tanto nos seus sanduíches, batatas fritas etc dizendo que engordam bastante que em breve fico imaginando se não haveria um carteirinha de cliente especial e a cada 10 ou 20 lanches completos o consumidor poderia concorrer a um Ozempic.

Claro, brincadeiras à parte, estamos novamente na era de um remédio e de seu significado na vida social de todo o mundo. A diferença com os citados Aspirina, Tylenol ou Viagra é que o Ozempic ainda é um remédio elitizado, ainda é muito caro e não está acessível para todos os bolsos. Há tentativas de reduzir os preços, criar novas alternativas e até mesmo ser oferecido pelo poder público; é uma boa ideia, mas que deveria ser entendido como medicamento e não apenas como complemento de vida: quero emagrecer, por isto lá vou eu atrás do Ozempic.

No final das contas de uma longa história de remédios que marcaram e marcarão a vida planetária ainda estamos esperando por pelo menos duas descobertas para mudar a vida de todos: algum remédio para a cura do câncer e um outro para a Aids. É claro que são comparações bem diferentes entre estes remédios que nos faltam e os que já existem e mencionei aqui. Mas, assim como estes – e muitos outros – geram expectativas e esperanças. Seria fantástico que a série de descobertas sensacionais de medicamentos (e de tratamentos) pudesse ser acelerada; a IH ou “inteligência humana” é capaz de fazer isto. Eu acredito.

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sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

A ordem fora da ordem

A mudança no comércio internacional, com a mudança presidencial nos Estados Unidos, está modificando vários cenários, apesar de alguma previsibilidade se olharmos para 2018 quando muita coisa parecida já aconteceu. É bem verdade que houve inovações à época, mas não tínhamos pelo menos três variáveis tão impactantes quanto agora: o poderio da China no comércio global, o acirramento de ideias e políticas entre direita e esquerda e a presença de empresários, como Musk, querendo impor uma visão não tão aplicável às contas públicas quanto factíveis em empresas familiares, onde o dono manda em tudo (e em todos).

Em todos estes anúncios de medidas também controversos sinto falta de um personagem que aliás, deveria ter um papel central: a OMC, ou a Organização Mundial do Comércio. Em tese, este organismo, com sede na belíssima cidade de Genebra, no tranquilo e muito calmo país chamado Suíço, deveria estar mais agitado e não, como parece, meio adormecido no frio europeu, como se estivesse esperando uma melhor oportunidade de participação no debate. As regras do comércio internacional passaram por grandes debates ao longo das últimas décadas com negociações simples e outras extremamente difíceis e longas. Mas, apesar de não ter solucionado tudo, era um lugar privilegiado para debates e encontros sobre as medidas que deveriam ser adotadas para proteger os direitos (principalmente dos países mais pobres) e as salvaguardas, como garantia de que medidas bruscas e unilaterais não teriam mais espaço no contexto global, como aconteceu durante décadas, inclusive ainda neste século.

Como todo organismo multilateral a solução não é simples mas passa por um ponto central: a comunicação e a negociação. As medidas arbitrárias em relação ao comércio internacional que eram tão comuns no século passado diminuíram bastante justamente em função de algum consenso estabelecido, ainda que um ponta aqui e outra ali continuasse solta e sem solução definitiva.

Eventualmente a aceleração do comércio global e a facilidade das trocas internacionais com o desenvolvimento do sistema de transporte e de comunicação, especialmente com a facilidade de comercialização via internet, tenham diminuído o poder da OMC e o controle ou pelo menos o acompanhamento mais de perto deste novo cenário. E agora, com as deliberações norte-americanas que atingem diretamente vários países seja em questões pontuais ou gerais, as regras da OMC parecem estar desatualizadas ou precisando de um novo arcabouço. No mínimo, precisando de uma maior participação e opinião sobre as novas medidas para poder tentar conciliar, na medida do possível, as divergências sem bruscas pancadas e contradições.

Aqui no Rio Grande do Norte nunca sentimos “falta” ou “necessidade” da OMC para discutir fatores que afetassem nossas exportações ou nossas importações. É que as regulamentações existentes no âmbito da OMC era regras claras e compreensíveis para as quais o mercado soube adaptar-se e conviver, ainda que aqui ou ali houvesse demandas pontuais de melhor ajuste. Mas, como comentei aqui recentemente, não significa que tudo esteja tranquilo hoje aqui no RN e por isto continuará da mesma forma amanhã. O Brasil já teve seu representante como presidente da OMC, havia mais notícias sobre a Organização. Neste ritmo de mudanças acho que voltaremos a nos interessar mais sobre a OMC (ainda que não conheçamos detalhes de quem ocupa a sua presidência). Precisamos de mais OMC  ou, lembrando do falecido GATT, de uma outra e nova OMC?

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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

Um negócio chamado praia

Praia é um negócio sensacional! E não data de hoje, há bons tempos que o mundo descobriu que as praias podem ser ponto de partida de novas explorações, e o exemplo da descoberta do Brasil é um referencial (o crescimento econômico e populacional deveu-se e ainda deve-se em boa parte às cidades litorâneas). Aqui no RN já descobrimos isto há bastante tempo e para não ir muito longe e ficar perto das gerações que ainda estão vivas, ainda temos os ciclos do veraneio, o hábito de abandonar a cidade e mudar-se para uma casa de praia, apesar do que na atualidade, com a facilidade de deslocamento, as mudanças não são tão drásticas quanto antigamente.

Se olharmos para o setor imobiliário e a especulação nas atividades de compra-e-venda de terrenos e casas/apartamentos, acho que ninguém ficará na dúvida de que praia é um bom negócio, um grande negócio. E quando a gente acompanha o que acontece no BC, aquele em que circula muito dinheiro mas não é o Banco Central (é o Balneário Camboriú) percebemos que é apenas mais um exemplo. Quem conheceu São Miguel do Gostoso ou Pipa há cerca de 20-30 anos percebe que não tem mais nenhuma característica de antigamente. Tudo mudou e, tudo isto com o impulso dos negócios gerados pela praia.

Se olharmos para o turismo, o nosso tradicional e repetitivo, quase exaustivo turismo de sol & mar, percebe-se que apesar de alguns (poucos) esforços parece que não encontramos outra solução para movimentar a economia e os empregos do turismo: dependemos quase exclusivamente da praia.

Ora, se praia é um negócio bom para muita gente, e até mesmo para as eólicas, que motivo deixaria o poder público de acreditar que praia também pode ser um bom negócios para os gestores públicos? É claro que não se trata do mesmo negócio que o setor privado busca, o do lucro, mas aquele da expansão das atividades econômicas e da expansão de emprego e renda. Por isto entendo que investimento público em praias ou se preferir, em orla, é essencial para o crescimento e desenvolvimento socioeconômico. Certamente não é toda faixa de areia branca que será aproveitada e que gerará os mesmo resultados, mas é um ativo – do ponto de vista da riqueza – que poderia ser melhorado em vários aspectos e em várias cidades do RN.

Não estou defendendo que os recursos públicos sejam priorizados para as faixas do litoral onde às vezes não tem moradores, apenas empreendimentos turísticos e com baixo aproveitamento ou baixa ocupação da população local. Mas, estou defendendo que os poderes públicos possam olhar este ativo que hoje é algumas vezes apenas tangível, em um ativo intangível (o marketing da/sobre a praia); em outras palavras, investir no espaço natural privilegiado para atrair novos empreendimentos, novas atividades econômicas e, consequentemente, mais renda, inclusive para o poder público (com um condicionante, o de cobrar efetivamente o ISS das pousadas, restaurantes e outras atividades locais).

Na última medição de praia do RN passamos de 400km para 410km de quase 100% de beleza natural e quase 100% de possibilidade de acesso fácil. É muito espaço, ainda que possam ser deduzidas as áreas já urbanizadas, as áreas de proteção ambiental, as áreas inacessíveis e as áreas proibidas (ao exemplo da praia na Barreira do Inferno reservado para poucas e exclusivas fardas). Caberia até, e seguindo todas as normas legais, uma placa daquelas dizendo “Há vagas”; com o complemento “Para novos empreendimentos econômicos, sociais e ambientais”.

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quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

O novo forró Bodó

O RN, pelo menos parte dele, inaugurou um novo “forró Bodó”, assim mesmo, em duas palavras mas que até se assemelha com o seu parônimo forrobodó, que foi formalmente incorporado à língua portuguesa em 1899 e que se tornou mais conhecido com o auxílio de Chiquinha Gonzaga, lá no início do século passado, e que passou a ser compreendido como sinônimo de galhofa, coisa atrapalhada etc.

O nosso forró Bodó começa lá na cidade de Bodó e ganhou sua notoriedade quando se descobriu uma lei municipal para cadastrar as bets, aquelas casas de apostas on line que promovem o rápido enriquecimento de seus donos, quase na mesma velocidade da perda de muita dinheiro dos apostadores. A lei municipal dizia que bastava se cadastrar e pagar uma mísera taxa de R$ 300,00. Muito bom, e muito barato.

Muito bom pois algumas empresas passaram a sentir-se totalmente legalizadas visto que seguiam uma lei municipal. E muito barato já que a taxa de fiscalização – do Governo Federal, claro – varia entre R$ 54 mil e quase R$ 2 milhões. Nesta diferença vale a pena pegar um jatinho e ir até Bodó para assinar qualquer documento para “legalizar” a empresa por “míseros” trezentos reais; bom, acho que não tem aeroporto por lá, mas se a história desse certo e houve a exigência de se apresentar pessoalmente na cidade, em breve teríamos a possibilidade de até um novo aeroporto em Bodó. Internacional, por sinal.

E que motivaria a ida presencial? É que a lei municipal permite os jogos on line desde que aconteçam... na cidade. Ou seja, tudo aconteceria somente por lá, presencial, e ainda que pudesse ser virtual, o apostador teria que estar em Bodó. Não sei, nestas condições, se teria mercado para tantas empresas assim ou até mesmo se teria mercado para uma única empresa. Mas, curiosamente, muitas de habilitaram ao cadastramento e com isto, duas hipóteses: todo mundo por lá é milionário ou bilionário – mas todo mundo mesmo – ou estão apenas fazendo o registro da empresa na cidade para captar apostas de qualquer lugar do mundo – e até mesmo de Bodó. Em qual das duas hipóteses podemos acreditar? Em uma das declarações que li de alguém da Prefeitura, estava tudo normal, o licenciamento é para jogos na cidade...

Não sei de quem foi esta ideia brilhante e juridicamente criativa em seus efeitos práticos. Mas a notícia logo se espalhou e muitas bets foram atrás de Bodó. Não sei se foram até lá ou se houve alguma coincidência de uma pessoa ser representante legal de muitas empresas; claro, nada ilegal, mera coincidência, mesmo.

Se estivéssemos na Inglaterra onde as casas de apostas são mais comuns e pode-se apostar em quase tudo, não sei se alguém apostaria muito dinheiro com Bodó para dizer que a lei municipal vai superar a legislação nacional; e em complemento, a fiscalização dos órgãos governamentais. Acho que o idealizador da lei municipal seria o único apostador. E acho também que ele perderia a aposta. Dizem alguns que o forró fez muito sucesso em Natal durante a II Guerra Mundial, os soldados americanos acharam tudo muito diferente. Hoje, felizmente, não temos a mesma tensão da guerra, mas o “forró Bodó” é algo bizarre, bizarre.

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terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

Pague mais caro, compre menos

 Ontem foi mais um dia de anúncio de medidas tarifárias nos Estados Unidos com a taxação de 25% na importação de aço e alumínio, de qualquer país. O Brasil, importante produtor e um dos principais fornecedores daquele País, já deve começar a fazer as contas do impacto local; a contabilidade menos afetada será aquela pública, decorrente das exportações pois a queda nas vendas externas não mudará o resultado da balança comercial. A contabilidade a ser feita é com o setor privado.

A produção de aço e alumínio tem como uma de suas características a exigência de planejamento e programação um pouco mais alongada no tempo, ou seja, não dá para simplesmente apertar um botão e diminuir a produção ou aumentá-la da noite para o dia. Envolve toda uma cadeia produtiva desde a extração de minerais como o transporte e armazenamento, sem falar nos grandes empreendimentos para produzir aço e alumínio; não se produz estes itens em “fábricas de fundo de quintal”.

Provavelmente a medida inicial será a redução do preço de venda, a busca máxima para reduzir os custos de produção ou simplesmente cortar a margem de lucro. As indústrias que estão melhor estruturadas comercialmente e financeiramente terão mais facilidades enquanto as demais sofrerão mais. É assim o mercado, diriam alguns, a concorrência afeta a todo mundo e nem todas as medidas agradam a todos. Mas, não é bem assim quando as medidas são desacompanhadas de estudos de impacto econômico e são adotadas meramente por critérios políticos, sem calcular seus efeitos.

Vimos este filme, da falta de planejamento e de estudos de impacto, acontecer várias vezes no Brasil. As “leis” da economia não são ditadas por leis, decretos ou portarias publicados nos diários oficiais embora, claro, sofram as devidas consequências com tais normas jurídicas. O chato, digamos, de tudo isto é quando as novas medidas bagunçam todos os conceitos e as relações de mercado, como deve acontecer agora e principalmente em um cenário globalizado, afinal o Brasil não é o único fornecedor destes produtos e em outras países as indústrias devem estar buscando as mesmas medidas de redução de preço e tentando encontrar novos compradores em outros países. Todos, portanto, fazendo quase tudo igual e todo mundo tentando escapar desta pancada.

Aqui no RN vamos escapando deste efeito imediato com a nova taxa. De fato, nossas exportações para os Estados Unidos estão muito bem direcionadas para pescado, castanha de caju, balas e confeitos etc. Nesta hora exportar estes produtos básicos parece até ser uma boa alternativa, quem diria. O efeito “pague mais caro, compre menos” ficará nas imediações do novo... Golfo da América. Mas, já dizia o velho ditado popular: “quando a barba do vizinho pegar fogo, coloque a sua na água”. Devemos nos preparar aqui no RN para outras novidades?

PS: O “velho” ditado popular agora está até renovado, muita gente usando barba e tanta barbearia espalhada pela cidade!

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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

Somente para entendidos. Em vinho

In vino veritas, já dizia o antigo ditado latim (“no vinho está a verdade”) que não necessariamente enaltecia suas qualidades gustativas, mas expressava a ideia de que depois de alguns copos (taças, fica melhor?) de vinho as pessoas ficavam mais soltas e sentiam-se mais à vontade para emitir suas opiniões ou, em termos atuais, sem filtro nenhum e acabavam falando de tudo um pouco.

Mas, há outras qualidades no vinho, um produto que ganhou ainda mais notoriedade e expansão de consumo no mundo inteiro há cerca de 50 anos, expandindo suas fronteiras de produção para locais até então inimagináveis, com qualidade ao ponto de conquistar outros países, tal como já acontece com os vinhos da Califórnia ou na África do Sul. No Brasil demorou um pouco mais para que se torna-se uma realidade mais próximo do consumidor, mas é fato que nos últimos 20 anos temos melhorado muito a produção nacional, embora a velocidade no aumento dos experts em consumo foi maior, bem maior. Hoje há muitos entendidos no assunto e já temos, por exemplo, em Natal vários restaurantes com a tal da “carta de vinhos”, alguns com grande número de garrafas em adegas. É o mercado.

E tal como mercados que rendem bons lucros e que crescem rapidamente temos várias feiras especializadas no mundo inteiro. Uma bem tradicional é a Wine Paris que começa hoje e que será aberta pelo Presidente da República da França! Curioso é que o consumo de vinho vem caindo ano a ano na França por “abandono” dos jovens, redução  no consumo de álcool e também novas opção de bebidas; continuam a fazer bons vinhos – e excelentes champanhas –, mas a concorrência aumentou e o mercado interno não é mais o mesmo.

Não impede que o evento Wine Paris seja grandioso nos seus três dias. No ano passado foram mais de 41 mil visitantes, quase 50 países produtores (haja vinho!) e mais de 4 mil expositores. É um mercado, como se vê, sensacional. É tão interessante que teremos um estande do Brasil, devidamente compartilhado com 3 empresas nacionais. Duas empresas são bem conhecidas, mesmo para que não tem o hábito de consumo: a Casa Valduga e a Miolo. Já a terceira acho que é pouco conhecida aqui no Brasil, trata-se do espumante Bom Dia Brazilian Bubbles.

Sou pouco consumidor de vinhos (e bebidas alcóolicas) mas gosto de acompanhar algumas informações também neste mercado e por isto fui consultar um pouco mais sobre este Bom Dia. A página na internet é bem curiosa, com várias informações em inglês, na mistura entre o português “bom dia” e a tal das “bubbles” em inglês. A página do Instagram é também curiosa, tem alguns textos e várias fotos do Rio de Janeiro! Fiquei me perguntando onde era a produção, não conhecia o Rio de Janeiro como produtor de vinho. Consultei a empresa e me responderam que as uvas têm origem em uma região quase na fronteira com o Uruguai, mas a produção é em Bento Gonçalves; e para que é entendido do assunto, este espumante (sim, é um espumante!) é um blend de 60% uvas chardonnay e 40% pinot noir.

Acho que o Bom Dia Brazilian Bubbles não tem aqui em Natal. Há uma probabilidade, no entanto, com esta participação em um grande evento de vinhos em Paris, em breve tenhamos aqui no mercado local; ou então alguém já nos atualizando sobre a (boa) combinação das uvas, o efeito das bolhas nos botões gustativos e, enfim, o retrogosto do espumante. Acho que em breve teremos as dicas locais e refinadas de consumo, afinal “in vito veritas”.

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sábado, 8 de fevereiro de 2025

Exportando, exportando

Os números das exportações do Rio Grande do Norte ganharam várias efusivas chamadas com o crescimento nos últimos anos, muitos adjetivos positivos e valorização do valor total exportado sem, no entanto, uma avaliação mais detida da “motivação”, em outras palavras, das razões que levaram à surpreendentes números. Claro, inicialmente, não há nada de errado em exportar mais! Mas é sempre bom conhecer os fatores internos para entender o impacto e o motivo das celebrações.

Ultimamente – e repetindo, se a memória não me falaha, anos 1997/2000 – o que tem literalmente pesado nesta contabilidade são as exportações de petróleo e derivados, incluindo pela primeira vez as exportações de nafta. Curioso é que estes itens, embora houvesse sua produção no RN, estavam ausentes da pauta exportadora. Mas recentemente com a entrada de novos atores neste cenário, todos da iniciativa privada, a motivação é (e sempre será) o lucro, o melhor preço de venda, a melhor rentabilidade; para o caso do petróleo e derivados um dos fatores que auxilia bem nestas exportações é a cotação do dólar que, sempre quando está em alta, proporciona uma remuneração melhor para o produtor local de petróleo mas, somente para quem decide exportar. É que o tem acontecido, aliado com a nova estratégia comercial.

Nesta nova estratégia o RN “retomou” uma antiga “parceria” com as Ilhas Virgens Americanas, aquelas que ficam aqui no Caribe e que são também conhecidas neste mercado por dispor de uma refinaria e que abastece várias ilhas e países caribenhos. Mas, não foi apenas isto. Entraram neste cenário – até então pouco provável – importadores de petróleo como Holanda e Singapura e neste mês de janeiro de 2025 tivemos a companhia da Libéria, do Panamá e da China. Holanda, Singapura e Panamá não devem ter comprado nosso petróleo para seus mercados internos, pura revenda e até mesmo, com a possibilidade de o produto nem mesmo chegar por lá. Como isto acontece? Uma empresa holandesa compra o petróleo e manda entregar nos Estados Unidos e como a estatística considera a sede da empresa compradora e não seu destino, para quem faz uma rápida avaliação fica imaginando que a gasolina na Holanda ou em Singapura é derivada do petróleo potiguar...

Esta característica do petróleo exportado continua presente agora em janeiro de 2025, mas com um queda. No mês passado exportamos US 33,6 milhões enquanto em janeiro de 2024 o montante foi de US 40,5 milhões, uma queda de 16,9%. Nada grave, diga-se, pois a comparação de apenas um mês não permite indicar alguma tendência.

No entanto, com o anúncio da venda de campos de petróleo de uma das empresas instaladas no RN pode haver, eventualmente, um redirecionamento e um retorno à venda no mercado interno. A consequência mais visível, se isto acontecer, será a (forte) queda das exportações estaduais. E a necessidade de a imprensa buscar novos adjetivos para explicar uma regra de mercado: quem vende geralmente é quem decide para onde vender.

 

PS: Em janeiro de 2025 exportamos US 84,6 milhões, menos do que os US 92,1 milhões de janeiro de 2024, queda de 8,2%. Os dois bons destaques do início do ano foram o aumento de 43,4% nas exportações de melão e de 85,9% nas exportações de melancia. É um bom começo para a fruticultura potiguar-tropical de exportação

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sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

Até a próxima chuva

Chuva, muita chuva e também muitos transtornos, como sempre acontece em dias de chuvas fortes, aqui e ali, Natal, cidades do interior ou grandes cidades em outros países. A chuva mais conhecida como “normal” não provoca os mesmos estragos nas cidades embora haverá sempre alguns problemas decorrentes de ausência de ações esquecidas ao longo do tempo e que aparecem “logo quando chove”. Não é coincidência nem fatalidade para estes casos pontuais e menos comuns.

Curioso em grandes chuvas é ver as notícias meio sem noção. Algo como “choveu ontem a média esperada para todo o mês de fevereiro” como se fosse absolutamente normal que em fevereiro de todos os anos anteriores a chuva estivesse bem distribuída ao longo de todos os dias, em outras palavras, como se tivesse havido somente chuvas pequenas cada dia do mês e no final, ao fazer a soma, é que faria um volume maior. Não é bem assim! Chuvas torrenciais e fortes acontecem sem a precisão nem a previsão do dia certo, pelo menos com alguma antecedência, mas os meses chuvosos são sempre os meses, assim como o período do verão e do sol forte não muda muito... Aqui em Natal, por exemplo, imaginar que em dezembro teremos noites com temperaturas amenas é imaginar que o fim do mundo está próximo, e que não passaria do fim do mês. Claro, ironias a parte, em períodos chuvosos a probabilidade é que haja chuva forte, mesmo não havendo garantia de que haverá chuvas fortes pois o clima está em fase de transição; mas imaginar chuvas fortes em meses que não há muita chuva, aí sim a mídia poderia alardar grandes notícias e fazer comparações reais.

Tudo isto para duas constatações: a primeira é de que não é possível prever o dia que choverá nem a quantidade de água que cairá, mas é possível saber – e com antecedência – qual é o período chuvoso e qual é a maior probabilidade, em termos de semana ou mês, de ter chuvas fortes que causem grandes transtornos; e a segunda é que se é possível antecipar o período mais crítico de maior probabilidade de chuvas, também seria possível fazer um calendário “ao contrário”, daqueles em que se começa a planejar as ações a partir do resultado, em outras palavras, se a probabilidade de chuva forte é em fevereiro o que eu preciso fazer em janeiro, em dezembro, em novembro etc.

Talvez não tenhamos esta ideia de planejamento aqui nos Trópicos, principalmente em regiões em que as quatro estações não são tão diferentes assim, aqui temos sempre calor! Na Europa, pergunte para que sofre com o inverno rigoroso se ele precisa de muito planejamento para preparar-se para o frio e pergunte para quem moram no campo ou são agricultores se precisam pensar muito para comprar ração para animais e combustível para os aquecedores. Eles dirão certamente que não, pois já sabem que o inverno virá, apenas não saberão dizer qual o dia exato da primeira neve mas terão a certeza de que será em dezembro e, a depender da cidade, no começo ou no final do mês. E como todo mundo já sabe disto, conseguem se programar.

É claro que chuvas fortes provocam grandes problemas e não há soluções para variações fortes do clima. Mas, há sempre prevenções que podem eliminar alguns riscos para evitar que a soma dos pequenos problemas também interfira na solução dos grandes problemas. Uma exemplo simples é a queda de árvores, tão mais comum nas notícias de São Paulo e que agora começam a ficar mais recorrentes em Natal. Culpa do clima? Não, é que São Paulo foi urbanizada muito mais rapidamente e de forma mais intensa e, portanto, as árvores são maiores e mais antigas. Natal, como toda cidade, passa por sua fase de envelhecimento e um dos resultados é que haverá maior tendência de queda de árvores.

Há solução para este exemplo? Os mais radicais dirão que basta cortar as árvores... Os mais inteligentes poderão pensar em um planejamento com um cadastro das árvores e avalições regulares do risco. Algo como tentar antecipar para diminuir o impacto negativo. Não é rápido e tão imediato, mas quem sabe, possível de acontecer.

Hoje é dia de sol. Então, está tudo bem! Até para os otimistas e os mais pessimistas comemorarão. E só isto?

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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

Viajar ou comer

 

Quem viaja de avião tem sempre um mesmo assunto quando sai do aeroporto: como são caras as comidas de lá! Sempre foram, aliás, e sã assim no mundo inteiro. Mas, como aqui no Brasil viajar de avião sempre foi bem caro, ainda ficava a esperança de que pelo menos a despesa no aeroporto com um lanchinho pudesse ser mais barato um pouco; e esta expectativa logo desiludida na primeira fila do caixa é ainda maior  a desilusão quando o tempo de conexão é longo e você tem que ficar fazendo hora, esperando o próximo voo (com fome).

Teve tempos em que a gente escolhia apenas um lanchinho básico no aeroporto pois havia a expectativa, digo, a esperança de que durante o voo teria algo melhor para enganar a fome e, como já estava mesmo no preço da passagem, aproveita-se a “oferta” dos carrinhos de lanche nos apertados corredores.

De uns tempos para cá aprendemos que o lanchinho do avião é cada vez mais lanchinho e que a comida oferecida resume-se a cada vez mais um simples... “resumo de lanche”. Acho que ninguém tem mais a expectativa de ter alguma comida preparada que seria servida nos voos nacionais, pois tudo é industrializado, um pacotinho aqui com 10 biscoitinhos salgados, um outro pacotinho ali com menos de 100 gramas de biscoito doce. E assim vai se passando o tempo.

E agora a moda é outra: praticamente eliminar os lanches ou reduzí-los à quantidade mínima e nada mais de pedir para repetir: é um pacotinho de lanchinho para cada um e tá bom demais, não precisa “exagerar”. É a tendência que as empresas brasileiras anunciam e tudo, claro, com a mais bela das justificativas, a de que é preciso reduzir custos para reduzir o preço das passagens. E tem quem acredite; mas, será mesmo que este discurso ainda consegue convencer alguém?

 

Dentre as condições que chama a atenção é que 60% dos custos das empresas aéreas estão em dólar, ou seja, não é o mercado interno que sozinho pode ditar as regras. Mas, sobram os 40% de custos em moeda nacional e nele estão inseridos os custos da água e do lanche. Consigo imaginar que o volume gasto por todas as empresas aéreas brasileiras em água, café e lanche seja bastante elevado, mas somente quando somados todos os voos do dia. Não consigo ver, por exemplo, que o custo do lanche possa pesar no preço da passagem aérea. Em um bilhete de, digamos, R$ 2.000 imaginar que o que é servido tenha um custo de R$ 20 significa que o seu impacto é de 1% sobre o preço da passagem; e ainda assim precisamos ter uma boa criatividade para achar que tudo aquilo (e também o investimento nos carrinhos, guardanapos etc) possam chegar aos vinte reais.

Há bons tempos algumas companhias aéreas estrangeiram cortaram os lanches gratuitos. E viajar continuou caro. Há bons tempos que a comida servida durante o voo tem diminuído em qualidade, em opções e em volume. E viajar continua caro. Em breve tem empresa brasileira anunciando que oferecerá apenas água e apenas se o passageiro pedir!

Não sei, mas neste ritmo fico imaginando se não seria o lobby da coxinha e do pão de queijo! Explicando: tudo isto poderia ser uma estratégia liderada pelos donos de bares e restaurantes dos aeroportos. Pode ser exagero meu, mas num sonho estranho fico imaginando se não colocariam uma daquelas placas que vemos para postos de gasolina em algumas estradas e que ficaria instalada logo ali no portão de embarque: “próxima oportunidade de comer algo será daqui a 3h. Boa viagem”. Será?!

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quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

Cidades são inteligentes?

De vez em quando me lembro do tema mas, desta vez foi meramente por acaso, é que alguém comentou sobre o sucesso do tema cidades inteligentes. Faz mais de uma década que ouvi pela primeira vez este conceito e confesso que até achei interessante a ideia. Pesquisei algo mais na época e encontrei uma ideias originais e a divisão em dois tipos de “cidades inteligentes” quanto ao seu conceito: aquela de realmente mudar algumas concepções urbanísticas que melhorariam a vida nas cidades e aquela em os dados seriam disponibilizados para que todo mundo tivesse a oportunidade de fazer as coisas da melhor forma possível, seja enquanto cidadão, seja enquanto empresário e, claro, principalmente enquanto poder público.

Esta segunda característica adquiriu um novo nome e evoluiu bastante em vários lugares, inclusive aqui no Brasil. Mas, apenas pontualmente e talvez o melhor exemplo seja o que acontece em Recife. É bem verdade que são poucos exemplos e por isto, assim de imediato nem consigo listar mais cidades.

Já a ideia que foi vendida de que a cidade seria outra pois haveria todo um planejamento de tudo e assim se transformaria em inteligente, vou ser (penso) um pouco crítico mas acho que a inteligência esteve mais acoplada à venda da ideia e em algumas consultorias do que em reais transformações. Uma das histórias da época foi a proposta de ter uma mecanismo de controle e de acompanhamento do sistema de transporte público, algo meio revolucionário e que mudaria a realidade de todos mas, que exigiria muito tempo e investimento para desenvolver o projeto; e isto nem durou muito, pois pouco tempo apareceu um aplicativo lançado em Mossoró que faria tudo o que estava prometido... bem simples e, acho, funcional. Hoje, não é mais novidade e, convenhamos, os novos aplicativos geram benefícios para o sistema de transporte público continua não modificou substancialmente a realidade.

Lembro ainda da banda de música em uma cidade quando foi lançada a ideia por lá... anos depois estive na cidade e não vi a transformação em cidade inteligente, mas vi a banda de música. Ou seja, acho que nada mudou.

Cidades são inteligentes? Não sei mas, acho que com as mudanças nos últimos anos, aqui, ali, perto ou longe no mundo inteiro algumas pessoas compreenderam que as cidades continuam com problemas, alguns ou muitos, mas existentes e até mesmo persistentes. Realizações aconteceram, melhorias idem, mas nem por isto consegui ainda ver que a inteligência das cidades tenha beneficiado toda sua população ou a população de todo um bairro. Por isto continuo achando que cidades são cidades, umas melhores outras piores, mas cidades.

Estamos agora em plena efervescência da AI ou em português, IA, a inteligência artificial. Ainda não vi consultores prometendo revoluções ao usar as IA nas cidades. Talvez por dúvida sobre o novo conceito e o novo marketing: “cidade artificialmente inteligente” ou “cidade com inteligência artificial”? Não sei, não sei, mas acho que faltaria algo de humano  nestas cidades, fica parecendo algo como “cidade artificial e desumana, mas inteligente”. Acho que é uma ideia que não encanta, nem com fundo musical.

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terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

Misturologia

Acho que a palavra não existe, mas bem que poderia constar em algum dicionário, especialmente naqueles dicionários temáticos. Misturologia estaria em um dicionário dedicado à política. Como a palavra não existe ainda, a definição pode ser um pouco imprecisa mas seria algo como: condição de uma gestão pública sem característica marcante em que a percepção das ações e a divulgação dos resultados é uma verdadeira mistura de tal forma que o eleitor não consegue associar uma identidade ao gestor e seu programa de governo.

Já antecipando, não estou dedicando estas palavras a ninguém em especial, embora eu acho que algumas pessoas automaticamente já poderiam identificar um ou mais governos, um ou mais governantes. E eu completaria: infelizmente! Digo infelizmente pois a regra do jogo eleitoral é que o cidadão vote em alguém que ele confia, alguém que ele quer tirar e, em outras ocasiões, vota sob a forma de protesto. Se a ideia é tirar alguém ou colocar alguém a expectativa imediata – e que dura todo o mandato – é que o novo gestor faça algo diferente do que o eleitor se cansou ou não queria mais ver acontecer. Ele queria uma mudança, mesmo se não tem certeza de como deveria acontecer a mudança e quais os passos seguintes. Mas, este eleitor espera uma novidade. E aí, quando não vem nada concreto apenas uma quantidade de notícias de pouco impacto, de novidades fraquinhas e de muita promessa mesmo já estando no cargo, a decepção é grande.

Esta decepção ocorre geralmente em função esta misturologia. Muita coisa para fazer ou para poder fazer e o gestor se perde em meio à burocracia em meio ao olhar fixo no retrovisor e se encanta com pequenas coisas, uma burocracia aqui e ali, mas na prática nada de muito concreto que possa justificar o voto, aquele voto, o seu voto.

Deve ser por isto que inventamos o tal do balanço dos 100 dias. É que passados 3 meses e mais umas 2 semanas parece que é o teste de qualidade que o eleitor e principalmente a imprensa decide conferir com o gestor a comparação entre a campanha e a ação. Não sei a razão dos 100 dias, mas acho que deve ser por alguma numerologia desconhecida que diz que em 100 dias o gestor consegue mostrar a sua cara e suas ações, registrando uma marca que o perseguirá pelos próximos 3 anos e 265 dias. É uma conta mágica, tirada de alguma história infantil ou medieval (dos irmãos Grimm? Do Mágico de Oz?).

Alguém dirá que 100 dias é pouco tempo para fazer algo. Tenho dúvidas. Afinal, é em julho que acontece a confirmação das campanhas e os candidatos passam quase dois meses prometendo muita coisa e quando participam de debates são uma “verdadeira aula” do que farão logo que chegar primeiro de janeiro. E aí, quando chega primeiro de janeiro ainda é preciso esperar 100 dias...

Misturologia é a prática em que se perdem alguns gestores. Considerando que não há punição no Direito para candidato que promete e que não cumpre as promessas, a misturologia transformou-se em uma prática muito comum no início de mandatos eletivos. Tem gente que não vê problema nisso, tem eleitor que não vê problemas nisso; mas acho que são aqueles em que a misturologia já afetou o pensamento e o raciocínio uns 2-3 meses antes de começar o mandato, quando foram hipnotizados pela urna eletrônica.

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segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Futebol, privado; violência, pública

 

A notícia do jogo de futebol entre dois times pernambucanos e a violência gerada foi exatamente oposta a tudo que se pode esperar em uma atividade esportiva, ainda que seja uma competição e ainda que seja para o futebol, que alguém um dia taxou de “paixão nacional” pensando em algo bastante diferente do que estamos vendo de vez em quando.

O futebol, para quem ainda não sabe, é algo privado. A CBF, entidade maior deste esporte no Brasil, assim com a Fifa, no seu âmbito mundial, são entidades de direito privado, não fazem parte de nenhuma estrutura da Administração Pública. Todo o lucro – espetacular, por sinal – que estas entidades recebem é deles, nada vai para as contas do governo, exceto os impostos e quando são pagos pelos times de futebol com suas obrigações trabalhistas e tributárias (mas aí, a história é outra, há muitos times com dívidas milionárias e, pior, não pagas nem mesmo em suaves prestações!).

É este mesmo futebol que pretende encher estádios com milhares de pessoas que deveriam ir em busca de diversão embora, é bem verdade, há uma turma que vai simplesmente atrás de briga e confusão, parece que esta é a “diversão” deles, pouco importa contra quem o time vai jogar e o resultado, o placar do jogo, para que somente importa a confusão que farão e a agressão que cometerão não somente contra torcedores de outros times mas também contra quem tiver a infelicidade de estar no meio do caminho. É claro que a grande maioria não é assim, felizmente, mas a pequena minoria é capaz de tirar todo o brilho do que deveria ser um dia de lazer.

Os mais críticos desta crítica dirão que em outros países também acontece este tipo de violência. E é verdade! Já vimos tragédias horríveis em países com menor estrutura para o esporte como também em países muitos ricos, como a Bélgica ou a Inglaterra; e para quem não se lembra ou não é desta época, nem precisa ir para a inteligência artificial, basta ir buscar no Google e ver o quanto os bárbaros mataram nestas duas tragédias inominadas. E nem por isto, vale dizer, não é o fato de existir lá fora algo igual ou pior que se justificará o que acontece aqui. Gosto sempre de dizer que as comparações poderiam ser para coisas melhores nestas horas de coisas erradas: comparar com algo muito pior é achar que o ruim é bom ou ótimo. Mas, claro, não é.

A violência é pública, infelizmente. E não estou defendendo que ela deva ser privada, ou seja, se a bagunça ficar entre os torcedores e ninguém sofrer mais estaria tudo ok. Nada disto, continua errado. Já vimos torcedores sendo presos assim como jogadores indo para delegacias por afrontas racistas; não vejo motivo para estas violências físicas, tão cruéis quanto as ofensas, também não levem a prisões e multas, que deveriam ser bem elevadas.

O futebol deveria ser público em todas suas etapas e seus contextos. A violência, qualquer que seja ela, não deveria ser pública nem mesmo ser privada. O que deveria ser privada é a liberdade de vândalos e agressores. E deveriam ser presos um pouco ao estilo BBB: sem notícias do exterior, privados de informação de seus times. Não resolveria, não resolverá. Mas, não fazer nada é que não resolverá, mesmo.

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