quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

O novo forró Bodó

O RN, pelo menos parte dele, inaugurou um novo “forró Bodó”, assim mesmo, em duas palavras mas que até se assemelha com o seu parônimo forrobodó, que foi formalmente incorporado à língua portuguesa em 1899 e que se tornou mais conhecido com o auxílio de Chiquinha Gonzaga, lá no início do século passado, e que passou a ser compreendido como sinônimo de galhofa, coisa atrapalhada etc.

O nosso forró Bodó começa lá na cidade de Bodó e ganhou sua notoriedade quando se descobriu uma lei municipal para cadastrar as bets, aquelas casas de apostas on line que promovem o rápido enriquecimento de seus donos, quase na mesma velocidade da perda de muita dinheiro dos apostadores. A lei municipal dizia que bastava se cadastrar e pagar uma mísera taxa de R$ 300,00. Muito bom, e muito barato.

Muito bom pois algumas empresas passaram a sentir-se totalmente legalizadas visto que seguiam uma lei municipal. E muito barato já que a taxa de fiscalização – do Governo Federal, claro – varia entre R$ 54 mil e quase R$ 2 milhões. Nesta diferença vale a pena pegar um jatinho e ir até Bodó para assinar qualquer documento para “legalizar” a empresa por “míseros” trezentos reais; bom, acho que não tem aeroporto por lá, mas se a história desse certo e houve a exigência de se apresentar pessoalmente na cidade, em breve teríamos a possibilidade de até um novo aeroporto em Bodó. Internacional, por sinal.

E que motivaria a ida presencial? É que a lei municipal permite os jogos on line desde que aconteçam... na cidade. Ou seja, tudo aconteceria somente por lá, presencial, e ainda que pudesse ser virtual, o apostador teria que estar em Bodó. Não sei, nestas condições, se teria mercado para tantas empresas assim ou até mesmo se teria mercado para uma única empresa. Mas, curiosamente, muitas de habilitaram ao cadastramento e com isto, duas hipóteses: todo mundo por lá é milionário ou bilionário – mas todo mundo mesmo – ou estão apenas fazendo o registro da empresa na cidade para captar apostas de qualquer lugar do mundo – e até mesmo de Bodó. Em qual das duas hipóteses podemos acreditar? Em uma das declarações que li de alguém da Prefeitura, estava tudo normal, o licenciamento é para jogos na cidade...

Não sei de quem foi esta ideia brilhante e juridicamente criativa em seus efeitos práticos. Mas a notícia logo se espalhou e muitas bets foram atrás de Bodó. Não sei se foram até lá ou se houve alguma coincidência de uma pessoa ser representante legal de muitas empresas; claro, nada ilegal, mera coincidência, mesmo.

Se estivéssemos na Inglaterra onde as casas de apostas são mais comuns e pode-se apostar em quase tudo, não sei se alguém apostaria muito dinheiro com Bodó para dizer que a lei municipal vai superar a legislação nacional; e em complemento, a fiscalização dos órgãos governamentais. Acho que o idealizador da lei municipal seria o único apostador. E acho também que ele perderia a aposta. Dizem alguns que o forró fez muito sucesso em Natal durante a II Guerra Mundial, os soldados americanos acharam tudo muito diferente. Hoje, felizmente, não temos a mesma tensão da guerra, mas o “forró Bodó” é algo bizarre, bizarre.

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