É meio estranho fazer esta afirmação de que a mediocridade é uma arte mas, às vezes me surpreendo a pensar se isto não serial efetivamente real; talvez não 100%, mas acho que muita gente considerada medíocre não se esforça para ser assim conhecido enquanto há um bom público que se esmera em ser medíocre, que prepara todo um planejamento para ser reconhecido com medíocre.
Explico: é comum em qualquer organização, setor privado, administração pública, entidade associativa, grupo de amigos ou de família etc ter alguém que se destaca basicamente por ninguém acreditar que a pessoa seria capaz de fazer alguma coisa e por isto reconhecido ou pelo menos validado como medíocre. O resultado é que esta alcunha de medíocre acaba provocando um efeito muito positivo para quem buscar ser deste jeito: é que como ninguém mais confia na pessoa e antecipadamente já decide que ela não fará nada que for solicitado, ninguém pede nada, ninguém passa nenhuma atividade e ninguém conta como uma pessoa colaborativa quando a ideia é um trabalho conjunto, uma atividade comum.
De modo hipotético e ilustrativo, é aquela pessoa que depois de uma festa ou um churrasco não ajuda a organizar as coisas, não participa da limpeza nem se dispõe a fazer nada, apenas fica ali esperando que todo mundo faça tudo. No máximo, fica observando. E como é uma pessoa medíocre o senso comum é que não fará nada ou se fizer não completará a atividade ou fará mal feito e exigirá que alguém (re)faça tudo. Esta mediocridade não é assim tão fácil de... conquistar, mas é bem fácil de ser reconhecida. Uma arte, não?
Outro exemplo hipotético é quando o chefe passa uma atividade para alguém fazer e nada é feito, obrigando o chefe a encontrar alguém que faça o trabalho no lugar do medíocre. Como o chefe é bonzinho e acha que foi mera coincidência, passa nova atividade e o resultado é exatamente o mesmo! Mas, como o chefe é teimoso, decide tentar uma terceira vez para nova decepção. Resultado: nada mais será solicitado à pessoa que ficará sem atribuições ou apenas fazendo coisas bestas, das quais fazendo ou não, atrasando ou não, não impactará em nada na organização.
Acho tudo isto uma arte! Não é fácil ser incompetente ou medíocre em várias coisas e ao mesmo tempo. É certo que ninguém é bom, ninguém é 100% em tudo e algumas coisas realmente muita gente não conseguirá fazer mas, terá será algo que possa contribuir, alguma coisa que saiba fazer. Ninguém é medíocre 100%, nem mesmo em tempo integral. São pessoas dissimuladoras que se “especializam” na arte da mediocridade para não fazer nada e esperar que todo mundo faça tudo em seu lugar; é quase um sinônimo de preguiça misturado com um sinônimo de aproveitador.
Sempre acho que esta mediocridade deve ser “valorizada”,
pois considero uma arte. Como valorizar? Dois caminhos sugeridos. O primeiro é
enaltecer a pessoa em uma atividade, valorizá-la ao máximo no seu ambiente e
dizer que somente ele é capaz de fazer; isto obrigará a trabalhar, o que é um
grande sacrifício. E o segundo é passar uma atividade penosa ou longa – ou penosa
e longa – e dar toda a corda possível indicando a essencialidade do trabalho,
de vez em quando incentivá-lo para quando eventualmente conclui-lo não dar a
menor atenção. Nas duas hipóteses, nenhuma maldade. Na verdade, um incentivo para
mostrar que se a mediocridade é uma arte, gerenciar estas pessoas é outra arte,
uma outra nobre arte. Pode até não resolver, mas neste caso o medíocre apenas
assumirá aquilo que é, sem arte, apenas sua incompetência social.
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