Acho que a palavra não existe, mas bem que poderia constar em algum dicionário, especialmente naqueles dicionários temáticos. Misturologia estaria em um dicionário dedicado à política. Como a palavra não existe ainda, a definição pode ser um pouco imprecisa mas seria algo como: condição de uma gestão pública sem característica marcante em que a percepção das ações e a divulgação dos resultados é uma verdadeira mistura de tal forma que o eleitor não consegue associar uma identidade ao gestor e seu programa de governo.
Já antecipando, não estou dedicando estas palavras a ninguém em especial, embora eu acho que algumas pessoas automaticamente já poderiam identificar um ou mais governos, um ou mais governantes. E eu completaria: infelizmente! Digo infelizmente pois a regra do jogo eleitoral é que o cidadão vote em alguém que ele confia, alguém que ele quer tirar e, em outras ocasiões, vota sob a forma de protesto. Se a ideia é tirar alguém ou colocar alguém a expectativa imediata – e que dura todo o mandato – é que o novo gestor faça algo diferente do que o eleitor se cansou ou não queria mais ver acontecer. Ele queria uma mudança, mesmo se não tem certeza de como deveria acontecer a mudança e quais os passos seguintes. Mas, este eleitor espera uma novidade. E aí, quando não vem nada concreto apenas uma quantidade de notícias de pouco impacto, de novidades fraquinhas e de muita promessa mesmo já estando no cargo, a decepção é grande.
Esta decepção ocorre geralmente em função esta misturologia. Muita coisa para fazer ou para poder fazer e o gestor se perde em meio à burocracia em meio ao olhar fixo no retrovisor e se encanta com pequenas coisas, uma burocracia aqui e ali, mas na prática nada de muito concreto que possa justificar o voto, aquele voto, o seu voto.
Deve ser por isto que inventamos o tal do balanço dos 100 dias. É que passados 3 meses e mais umas 2 semanas parece que é o teste de qualidade que o eleitor e principalmente a imprensa decide conferir com o gestor a comparação entre a campanha e a ação. Não sei a razão dos 100 dias, mas acho que deve ser por alguma numerologia desconhecida que diz que em 100 dias o gestor consegue mostrar a sua cara e suas ações, registrando uma marca que o perseguirá pelos próximos 3 anos e 265 dias. É uma conta mágica, tirada de alguma história infantil ou medieval (dos irmãos Grimm? Do Mágico de Oz?).
Alguém dirá que 100 dias é pouco tempo para fazer algo. Tenho dúvidas. Afinal, é em julho que acontece a confirmação das campanhas e os candidatos passam quase dois meses prometendo muita coisa e quando participam de debates são uma “verdadeira aula” do que farão logo que chegar primeiro de janeiro. E aí, quando chega primeiro de janeiro ainda é preciso esperar 100 dias...
Misturologia é a prática em que se perdem alguns
gestores. Considerando que não há punição no Direito para candidato que promete
e que não cumpre as promessas, a misturologia transformou-se em uma prática muito
comum no início de mandatos eletivos. Tem gente que não vê problema nisso, tem
eleitor que não vê problemas nisso; mas acho que são aqueles em que a
misturologia já afetou o pensamento e o raciocínio uns 2-3 meses antes de
começar o mandato, quando foram hipnotizados pela urna eletrônica.
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