segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

Nunca foi pela árvore

 

Hoje em dia são várias as cidades que se preparam de verdade para as festividades do Natal, algumas investindo milhões enquanto outras com orçamentos mais modestos fazem pontualmente alguma decoração na praça principal ou na sede da prefeitura. Não sei, claro, se todas as cidades do RN se preparam para o Natal decorando a cidade e criando algum espaço mais visível para que seja cenário de encontro das pessoas, em geral na parte da noite, ou um lugar para fotos e registros, tudo com uma destinação principal, as redes sociais.

 

Um conceito básico tem sido criar um local chamado de instragramável para que a população local e principalmente os turistas e visitantes possam registrar que ali estiveram e possam divulgar a cidade. É o conceito da modernidade uma foto na rede social para valorizar o que cada um está fazendo, muito mais do que registrar, como se fazia “muito” antigamente (até o início deste século), para servir de memória e de recordação por onde se andava.

 

O espaço do Natal e sua simbologia que gera provavelmente menos discórdia é a tal da árvore de Natal. O Presépio, embora desprovido de intencionalidade religiosa cristã, pode ser interpretado como alguma discriminação religiosa para aqueles que escolhem uma outra opção; do ponto de vista dos recursos públicos, por exemplo, não caberia mais esta argumentação depois que o STF validou a possibilidade de símbolos religiosos em órgãos públicos, ou seja, embora o Estado seja laico não há problemas em aceitar – e estimular? – a representação religiosa.

 

Mas, voltando ao tema. Em algumas cidades toda a ambientação natalina tornou-se uma competição entre quem faz melhor, entre quem tem mais a mostrar, entre quem é mais criativo etc, tudo isto com uma finalidade que ultrapassa os limites do município: na verdade, parece mais uma competição para saber qual cidade atrai mais turistas, seja quem vem de perto seja quem viaja para aquele lugar exatamente nesta época do ano e exatamente para visitar a decoração da cidade e, ainda “mais” exatamente, para fazer o registro no Instagram, Tik Tok etc. O exemplo clássico brasileiro são as cidades de Canela e Gramado que ficam super movimentadas nestes dias com lotação de hotéis e pousadas e o comércio vendendo de tudo, de decoração à chocolates, sem esquecer o faturamento elevado dos restaurantes.

 

É claro que estas iniciativas são super interessantes e super válidas, além de tornar a cidade também mais bonita para seus visitantes, apesar da reclamação da quantidade de carros na cidade e outras reclamações pontuais. É muito bom que a cidade se transforme em um espaço de lazer coletivo e que as ruas, ainda que sejam somente aquelas próximas ao espaço natalino possam ser ocupadas intensamente a noite e nos finais de semana, com a tranquilidade de poder circular pelas ruas. A cidade ganha mais vida, cria uma relação maior de pertencimento com a população.

 

Hoje toda esta ambientação deixou de ser uma simples decoração de Natal para tornar-se um investimento público para atrair mais pessoas e gerar mais renda e emprego para a população local. Embelezar a cidade nesta época do ano é bem legal, mesmo se a motivação nunca foi pela árvore. Janeiro está batendo às portas e um bom presente de Natal para a população seria manter uma roupagem do ano por todos os meses do ano; se você ainda não sabe o que pedir ao Papai Noel, fica esta dica.

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