A crise na Síria e a derrubada do poder, saindo de uma ditadura, e ainda sem expectativas reais de um novo regime democrático ou tão ditatorial quanto o anterior mostra que a luta pelo poder é tão global quanto regional ou tão nacional quanto local. E como acontece em todas estas crises de poder a solução não é fácil, sempre ficando a impressão que a tomada de poder pelas armas de um poder que se defendia justamente pelas armas, tende a não dar certo. A Síria é um dos exemplos, assim como foi a Líbia ou o Iraque, apenas para ficar na região mais próximo do mais novo conflito.
Transpondo isto para o nosso Brasil, temos “outras” Síria
acontecendo aqui em nosso território, não muito distante de todos nós e que nem
precisamos ficar de olho no noticiário da tv ou no celular para saber o que
está acontecendo ao nosso redor: a violência urbana provocada pela guerra do
tráfico de drogas. Este é um conflito constante, permanente, duradouro e
infelizmente até agora sem alguma solução aparente nem mesmo conjuntural,
quanto mais de forma estrutural.
Vemos as facções tomando o poder regional de bairros
inteiros e determinando suas regras ao criar verdadeiros feudos impondo o
terror ou a ameaça da força em troca de uma chamada paz social: enquanto a
facção dominar aquele território a vida de seus moradores será tranquila pois
ninguém ousará fazer alguma besteira, ninguém terá coragem de se insurgir
contra o poder dominante; é o mesmo paralelo quando vemos a tomada de um poder
em um país, pelas armas, em que uma corrente decide quem pode o quê, como pode e
ainda estabelece restrições para todos aqueles que são os “estrangeiros”, ou
seja, aqueles que “se não estão comigo, estão contra”.
Muda o referencial geográfico mas não muda o cenário de
dominação com a força e pela força. Todo mundo dirá, e mais ainda aqueles
saudosistas seletivos (que lembram somente das coisas boas) que em Natal
antigamente tudo era mais tranquilo, podia-se ir para as calçadas e ficar
conversando com a porta da casa aberta. É verdade. E também é verdade que o
mundo era bem diferente! Hoje não temos o terrorismo das drogas tão presente no
nosso dia a dia, ainda que antigamente sempre houvesse tráfico de drogas mas, jamais
na dimensão atual.
Não tenho a solução, mas ainda tenho a sensação de que a
romantização da droga a e associação ao livre prazer de usufruir de seu consumo
deu uma margem muito grande para este mercado. Sim, é um mercado e como todos
os mercados econômicos depende da oferta e da demanda e sempre que a demanda
aumenta o mercado acaba se expandindo; e como todo mercado concorrencial, cada
um quer ter o seu espaço e seu o maior ou o melhor. No caso das drogas a
conquista do mercado passa pela violência, pela dominação e pelo medo.
É uma realidade que nos alcança diariamente pelos fatos
que nem assustam todos, e infelizmente apenas de vez em quando. O mundo inteiro
não encontrou solução para o problema, apesar de várias tentativas de coibir a
demanda e de atrapalhar a oferta, e para cada uma das iniciativas os críticos de
plantão sempre encontravam os “defeitos”, poucas sugestões, repetindo o mote da
“liberdade pessoal”, esquecendo que para as drogas não há como individualizar
nem simplesmente romantizar todas as etapas, da produção ao consumo.
Quem sofre e quem se preocupa com os efeitos da droga na sociedade não vê romantismo. Ainda bem.
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