A discussão sobre os “tigrinhos” da vida e os leões que abocanham parcela da renda da população com os famosos “bets” não deve diminuir, principalmente em um País onde a ascensão social é sempre difícil e complicada e a idolatria dos artistas, dos jogadores de futebol e agora, na nova moda, dos tais influenciadores digitais atiça a vontade de ficar rico, muito rico, rapidamente. Antes a riqueza rápida ou de forma impactante estava muito associada à qualidade de alguma pessoa ou algum dom, como também era chamado, seja para jogar futebol ou tornar-se cantor de sucesso; com os influenciadores digitais a qualidade do sucesso está mais vinculada à empatia, ao sorriso programado – e instagramável –, como atributo. Nada mais.
Com as apostas on line que passaram a ser chamadas simplesmente de bets, a ideia do sucesso espetacular apenas aumentou, e com uma vantagem, digamos assim: não precisa de nenhum dom, não precisa saber jogar futebol, não precisa saber dançar ou cantar e não precisa nem mesmo saber sorrir e ter um bom Instagram pois– e tem gente que acredita – bastaria ter sorte. Um sorte que vem do baixo valor da aposta (é a ilusão) e fará chegar rapidamente à riqueza.
E tem gente que acredita que é sorte. Tem mesmo. Basta ver os exemplos dos patrocinadores principais em alguns eventos, a começar pelo futebol, com tantas propagandas de bets que parece não ter sobrado mais espaço para nada nem para ninguém. Outro dia, assistindo um jogo pela TV eram 3 propagandas de bets no gramado, mais uma nos painéis ao lado do campo e duas nas camisas dos jogadores; e no intervalo da transmissão, tome propaganda de bets.
Tenho que reconhecer que as bets permitem realmente alguém ficar rico! Mas, não é muita gente, embora a fortuna seja grande: os que enriquecem mais rapidamente são os donos destas empresas. Somente eles. Há alguns ganhadores, sem dúvida, mas como em todo jogo de azar, ainda que seja o mais honesto possível, o número de perdedores é maior, muito maior do que o número de vencedores. É assim que funciona, mesmo para quem não acredita.
Recentemente estive em uma feira comercial e vi em um estande as filas para participar da bet, com sorteio ao vivo como tão bem anunciavam. Bastava “iniciar” com R$ 10 para ganhar até R$ 50 na hora, ao vivo, e em espécie. E de fato algumas pessoas ganharam R$ 50 ou menos, mas recebiam o dinheiro ao vivo. E o mais “divertido” era que ninguém precisava preencher nenhum recibo, assinar nada, para ganhar seu prêmio. Foi uma bela distribuição de dinheiro sem nenhum controle.
Claro, sem regulamentação, sem controle nenhum, dá para receber e pagar sem problema.
Por isto sou a favor da tributação das bets. E alta, bem alta. Mais ou menos como acontece com as loterias da Caixa em que o resultado final do prêmio nem chega a 50% do que foi apostado, muito fica com a Receita Federal e o imposto de renda e outra parte segue para projetos (mesmo se poderiam servir a outra finalidade, acho).
E um acréscimo nesta tributação que entendo ser fundamental
para as bets: parte do imposto deveria ficar com as prefeituras e o governo do
estado do local da aposta. O ideia é simples: todo dinheiro apostado deixa de circular
nos mercados local/estadual, diminui o consumo; portanto, nada mais justo que
possa haver um “retorno”. No mínimo diminuiria a perda para os entes públicos,
já que não há mesmo como salvar o dinheiro dos perdedores, digo, dos apostadores
contumazes.
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