terça-feira, 31 de dezembro de 2024

Feliz ano neo-velho

Mudança de calendário a partir de amanhã às vezes passa a imagem de que entraremos em um mundo novo, tudo renovado, nada de antigo, o passado esquecido e o futuro chegando quando, na verdade, sairemos de uma terça-feira para uma quarta-feira, tão banal quanto possa parecer.

É bem verdade que no Brasil o dia primeiro de janeiro é marco a cada dois anos de um pretenso ciclo novo pois elegemos prefeitos e governadores, vereadores, deputados e senadores na expectativa de continuar com o que deu certo e mudar para melhor. Este ciclo social é meio simbólico quando vemos que algumas transições de poder limitam-se à transmissão da faixa do cargo, tamanha é a influência de quem elegeu o “sucessor”, ou mesmo quando há continuidade de uma reeleição em que o vencedor promete fazer mais do que já estava fazendo. É assim a democracia e a vontade de todos, de eleição livre.

Mas é bom lembrar que este ciclo social é uma característica bem brasileira, são poucos os países que iniciam os mandatos em primeiro de janeiro; aliás, nem sei se há outro país ou se a data da posse dos novos mandatários é aquilo que chama-se de jabuticaba, algo que tem apenas no Brasil.

Do ponto de vista individual é um ciclo novo que se inicia e tempo de muitas promessas individuais reveladas ou não em que aposta-se na mudança do calendário para dizer que tudo será diferente. Isto faz parte do psicológico, do individual e do social, de estabelecermos critérios de mudanças baseados no calendário, um marcador de tempo mas também um marcador de atitudes: quem nunca prometeu que na segunda-feira faria tudo diferente, começaria algo novo (ou de novo) e que as coisas mudariam? Não temos como escapar a estes ciclos de vida.

Em 1982 foi lançado o livro Feliz ano velho, de Marcelo Rubens Paiva, uma autobiografia que teve muito sucesso e que deve ter ficado na lista dos mais vendidos por longas semanas (li o livro, mas não lembro quanto tempo liderou as vendas). A história é bastante interessante por sua narrativa e por todo o contexto que o envolveu, fica a sugestão da leitura.

Sempre me marcou, além da história, o título que achei bastante original e que de vez em quando me parece ser premeditado para alguns desejos de Ano Novo. Não me estou referindo a nenhum saudosismo, de forma alguma, mas à lembrança de que a mudança de calendário, da terça para a quarta-feira, do 31 de dezembro para o 1º de janeiro, não significa uma brusca mudança de vida. O tal do Ano Novo quando começa já se prepara para 365 depois tornar-se um ano velho. O ciclo continuará e é ininterrupto. A cada ano podemos celebrar o Ano Novo e devemos rememorar o Ano Velho, não podemos ser etaristas em relação do calendário.

Para todos e qualquer que seja a forma de celebração, um bom e feliz 2025!



Nenhum comentário: