Quem gosta de estudar geografia urbana, desenvolvimento urbano ou política pública, por exemplo, acompanha algumas realidades socioeconômicas sobre as cidades, evolução, tendência e interação com cidades vizinhas. De forma mais simples, seria a hierarquia das cidades, mas no sentido de dependência de uma cidade da outra, não no sentido de uma cidade comandar (politicamente) a outra; ou, de outra forma também simplificada, a dependência que uma cidade tem de outra.
Isto aparece de forma bem enfática quando temos uma cidade de médio ou
de grande porte e por perto temos cidades menores com pouca expressão econômica
e baixa geração de empregos: as pessoas desta cidade menor fazem suas compras
principais (e mais caras) nas cidades maiores (que oferecem mais serviços e comércios)
ou trabalham em uma cidade e retornam para casa ao final do dia. Esta é uma
forma de hierarquia das cidades que acontece aqui no Brasil e no mundo inteiro.
Aliás, para quem se interessar por este conceito e tiver interesse em saber em
que ponto está sua cidade, o IBGE tem um mapa colorido e com muitas setas, o
Regic.
Esta hierarquia das cidades é clássica, e estudada. Mas, nem sempre a
hierarquia NA cidade merece o mesmo aproveitamento e o mesmo volume de
pesquisas e estudos. E deveria, pois quando estamos neste período eleitoral há
várias propostas para “melhorar a cidade”, oferecer produtos e serviços em muitos
bairros, uma forma de diminuir a dependência do outro bairro, de uma
centralidade – no caso de algumas cidades, são várias centralidades. Aqui em
Natal temos um duelo histórico entre “o outro lado” e, nem sempre lembrado, mas
“este lado”, a cidade meio dividida por um rio e que determina que a Zona Norte
é “o outro lado” enquanto o restante da cidade é... a cidade, ninguém chama de “este
lado”!
Esta divisão foi, e ainda permanece em algum imaginário social,
decorrente do domínio econômico que existia em Natal nas Zonas Leste, Oeste e
Sul, juntas, com a Zona Norte desfavorecida de muitos serviços públicos e com
baixo desempenho na geração de empregos, criando uma dependência daquela
Região. Hoje mudou muito mas, quando vemos todos os dias os engarrafamentos nas
pontes “velha” e “nova” não temos como esquecer desta hierarquia.
E isto é ruim. Para todos, na cidade. Esta concentração urbana ou algum
domínio de centralidades urbanas provoca estes engarrafamentos (com eles, a
poluição aumenta) e a perda de tempo dos cidadãos que passam longas horas por
semana no carro ou no ônibus, um tempo dedicado quase exclusivamente ao deslocamento.
Um tempo perdido que poderia estar sendo utilizado para estudar, passear,
aproveitar as coisas boas da vida, estar em família etc.
Temos em Natal, como em outras cidades do RN, muitas hierarquias nas
cidades. Alguns gestores e alguns candidatos compreendem isto e conseguem pensar
a cidade em todo o seu contexto, não apenas em ideias soltas de criar isto ou
aquilo aqui ou ali sem pensar no impacto social e nas mudanças que afetará a
cidade e seus habitantes. O desafio de gerenciar uma cidade não é fácil e tanto
quanto maior o descompasso da gestão municipal com a cidade em todos os seus
aspectos, teremos um populismo desenfreado a inaugurar prédios públicos e
depois pensar nas consequências
É bem verdade que é impossível ter uma cidade homogênea, sem hierarquias internas. Mas, poderia haver menos disparidades e maior integração entre/com seus habitantes. Um sonho, esta cidade mais ideal? Prefiro achar que é um desejo, ainda que sem prazo de validade.
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