Hoje, 8 de setembro, é celebrado o Dia mundial da alfabetização, uma data que tem importante significado em vários países assim como também no Brasil e aqui no nosso Rio Grande do Norte. Infelizmente, no entanto, seria ideal se esta data passasse totalmente desapercebida como deve acontecer no Canadá, França, Holanda, Japão etc, pelo simples fato de que praticamente toda a população destes países deve estar alfabetizada, e não apenas naquele mínimo necessário, o tal do “analfabeto funcional” que sabe apenas ler e assinar seu próprio nome. Nestes países a educação funciona desde a primeira idade e as oportunidades nas escolas (e depois no ensino superior) são reais, factíveis e absolutamente acessíveis a todos. Aliás, não se imagina em alguns países que uma criança esteja fora da escola e que não tenha acesso à alfabetização.
Aqui no Brasil (e em uma centena de países, muito provavelmente) a
realidade é diferente. Não chega a ser crônica como, por exemplo, no Afeganistão
em que as crises sociais, econômicas e políticas afastam e impede o acesso à
escola. Mas, temos nossos problemas, e como temos.
Os mais antigos poderão lembrar do tal do Mobral, uma tentativa do
Governo Federal, ainda no século passado, de permitir o acesso à educação e à
alfabetização para milhões de brasileiros que não tiveram a oportunidade de
ler-e-escrever e de estudar pelo simples fato de que, ainda que desejassem e
ainda que economicamente isto fosse possível, não havia escolas por perto, não
havia sequer a possibilidade de escolha. Faz tempo, o Mobral, e ficou muito
tempo na memória do brasileiro que até utilizava a sigla do programa educacional
de forma pejorativa, quando queria brincar (ou ofender) alguém que não estava
entendo algum assunto: “parecer até que é Mobral!”
Saímos disto, melhoramos muito, sensivelmente. Uma grande evolução foi a
criação do Brasil Escola (acho nome era este) e que hoje é o Bolsa Família. A proibição
de crianças no trabalho, em detrimento de ir a escola, foi fortalecida não
somente com as tentativas de punição mas com um remédio bem mais eficiente: o
chamado trabalho infantil, para famílias carentes, era uma forma de subsistência
familiar, quase (infelizmente) uma necessidade, pois contribuía com a renda;
com o auxílio financeiro do poder público a família podia “trocar” o trabalho
dos filhos pelo acesso à escola e ainda com a vantagem de ter a merenda
escolar. Felizmente esta dura realidade das crianças trabalhando, ainda que por
extrema necessidade familiar, acabou. Vale um parêntesis aqui: este trabalho
infantil familiar, como subsistência, não é uma característica tipicamente
brasileira, o mundo mais rico de hoje em dia passou muito por isto na agricultura,
não era incomum acontecer em países como Alemanha ou França; a diferença é que
este ciclo nefasto foi interrompido bem mais cedo por lá, bem antes do Brasil.
Embora o Mobral esteja longe no tempo, semana passada aqui em Natal, em
pleno 2024, tivemos um reflexo do drama social brasileiro: uma candidata a
vereadora teve que provar que era alfabetizada, que sabia sim ler e escrever
para poder ser candidata. Precisamos entender melhor este drama. O programa
Mobral acabou em 1985, ou seja, faz mais de 40 anos que tivemos um programa de
alfabetização de adultos e ainda hoje temos pessoas no Brasil e aqui, do nosso
lado, no Rio Grande do Norte que não sabe nem ler, nem escrever. Enquanto boa
parte da população não desgruda do celular, lendo um pouco sobre muita coisa,
ainda temos analfabetos para os quais o celular é algo meramente limitado ao
som e imagens.
É uma triste realidade. Até quando? Até quando como está no título, “Muitos não poderão ler isto”? Quando será que o Dia mundial da alfabetização será apenas uma data no calendário, uma memória do passado longe, e não a memória de uma realidade que machuca?
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