terça-feira, 31 de dezembro de 2024

Feliz ano neo-velho

Mudança de calendário a partir de amanhã às vezes passa a imagem de que entraremos em um mundo novo, tudo renovado, nada de antigo, o passado esquecido e o futuro chegando quando, na verdade, sairemos de uma terça-feira para uma quarta-feira, tão banal quanto possa parecer.

É bem verdade que no Brasil o dia primeiro de janeiro é marco a cada dois anos de um pretenso ciclo novo pois elegemos prefeitos e governadores, vereadores, deputados e senadores na expectativa de continuar com o que deu certo e mudar para melhor. Este ciclo social é meio simbólico quando vemos que algumas transições de poder limitam-se à transmissão da faixa do cargo, tamanha é a influência de quem elegeu o “sucessor”, ou mesmo quando há continuidade de uma reeleição em que o vencedor promete fazer mais do que já estava fazendo. É assim a democracia e a vontade de todos, de eleição livre.

Mas é bom lembrar que este ciclo social é uma característica bem brasileira, são poucos os países que iniciam os mandatos em primeiro de janeiro; aliás, nem sei se há outro país ou se a data da posse dos novos mandatários é aquilo que chama-se de jabuticaba, algo que tem apenas no Brasil.

Do ponto de vista individual é um ciclo novo que se inicia e tempo de muitas promessas individuais reveladas ou não em que aposta-se na mudança do calendário para dizer que tudo será diferente. Isto faz parte do psicológico, do individual e do social, de estabelecermos critérios de mudanças baseados no calendário, um marcador de tempo mas também um marcador de atitudes: quem nunca prometeu que na segunda-feira faria tudo diferente, começaria algo novo (ou de novo) e que as coisas mudariam? Não temos como escapar a estes ciclos de vida.

Em 1982 foi lançado o livro Feliz ano velho, de Marcelo Rubens Paiva, uma autobiografia que teve muito sucesso e que deve ter ficado na lista dos mais vendidos por longas semanas (li o livro, mas não lembro quanto tempo liderou as vendas). A história é bastante interessante por sua narrativa e por todo o contexto que o envolveu, fica a sugestão da leitura.

Sempre me marcou, além da história, o título que achei bastante original e que de vez em quando me parece ser premeditado para alguns desejos de Ano Novo. Não me estou referindo a nenhum saudosismo, de forma alguma, mas à lembrança de que a mudança de calendário, da terça para a quarta-feira, do 31 de dezembro para o 1º de janeiro, não significa uma brusca mudança de vida. O tal do Ano Novo quando começa já se prepara para 365 depois tornar-se um ano velho. O ciclo continuará e é ininterrupto. A cada ano podemos celebrar o Ano Novo e devemos rememorar o Ano Velho, não podemos ser etaristas em relação do calendário.

Para todos e qualquer que seja a forma de celebração, um bom e feliz 2025!



segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Datilógrafos. Ainda existem

Talvez a geração mais jovem nem imagine que um dia existiu tal profissão, de datilógrafo, uma profissão essencialmente feminina, em uma época em que a divisão do trabalho por gênero era algo visto quase como natural, sem o entendimento discriminatório quanto ao gênero. Muitas outras pessoas utilizaram uma máquina de escrever, ainda que não tenham seguido a profissão pois era um instrumento de trabalho essencial na vida de muitas pessoas, na vida de muitas empresas.

Hoje, é claro,  a profissão foi extinta. O mundo mudou, as novas técnicas e novas tecnologias mostraram que há um processo evolutivo de melhoria contínua, ainda que possa significar grande mudança de paradigma e modificar bastante a realidade; e isto parece ser cada mais evidente e cada vez mais rápido com tantas mudança que acontecem.

Toda esta introdução para lembrar duas situações: a primeira, mais óbvia, é que a profissão de datilógrafo não é tão valorizada já há algum tempo e a segunda é que ainda temos muitos saudosistas do passado simplesmente pelo fato de que um dia vivenciaram aquele momento, curto ou duradouro, e acham que o passado é sempre melhor quando não conseguem conviver com o presente e com a expectativa de futuro e quando não conseguem visualizar as melhorias ou simplesmente quando não conseguem criticar o tempo atual de forma contundente. É a crítica pela crítica.

Este saudosismo exacerbado pode ter seu valor, aquele de fazer pensar sobre as mudanças, seus resultados e, algumas vezes, o descontrole do que está sendo criado, sem análise crítica. São dois extremos, de um lado o puro saudosismo e do outro lado o criativismo, aquele inconformismo de querer mudar sem necessariamente pensar nas consequências, mas apenas inovar por inovar.

E isto vale para a questão mais óbvia na atualidade com a IA, que deveria ser chamada de AI, a inteligência artificial, como para outros aspectos pessoais, como remédios considerados milagrosos, ou ainda para aspectos sociais, como a mudança na legislação sobre a urbanização de uma cidade ou, e para ficar em um tema bem local, o processo de engorda da faixa de areia na praia de Ponta Negra.

Seja para a AI, seja para Ozempic ou para Ponta Negra há diversas opiniões sobre suas vantagens assim como alertas sobre seus efeitos. Particularmente e para não me furtar à uma opinião, nada contra nenhum destes três exemplos que podem contribuir muito para a melhoria da vida de muita gente, mas não posso também deixar de criticar que estas e outras inovações devem estar sempre avaliadas a partir de seus resultados, do planejamento de seus efeitos e das medidas preventivas para eventuais ajustes; afinal, todo planejamento exige o clássico esquema PDCA e a adaptação entre o planejado e a realidade faz parte da trajetória de todo projeto.

Ainda há muitos datilógrafos neste mundo. Não aqueles que são remunerados com esta profissão e que ainda têm na carteira de trabalho tal anotação e que entram na estatística do Caged com o código da Classificação Brasileira de Ocupações de número 4121-05. Estes merecem todo respeito pela convicção e persistência. Já os saudosistas exclusivos do saudosismo é importante avisar que o mundo mudou; talvez, aos poucos, para que não entrem em crise.


sábado, 28 de dezembro de 2024

Meu caro hidrogênio

“Meu caro hidrogênio” bem que poderia ser o início de uma correspondência para este ícone que está presente em várias conversas em todo o mundo quando o tema é o equilíbrio do meio ambiente, a redução de consumo de energias fósseis e o que ficou sendo chamado de economia verde. É que o hidrogênio parece ter sido eleito como a pedra angular da solução de todos os problemas e, melhor, em qualquer país visto que sua matéria-prima principal é a água. De tão predominante o tema do hidrogênio em algumas conversas que parece até ser um personagem da vida atual.

O fato é que há bons projetos em alguns países e algumas experiências preliminares espalhadas também em vários lugares, inclusive aqui no RN. A produção global de hidrogênio parece ser ainda incipiente em todo o mundo visto que a demanda mundial de energia é bastante elevada e não há nem economicamente nem mesmo tecnicamente como atender a demanda de forma tão rápida e que possa substituir o consumo de energias fósseis; teremos que esperar alguns anos, provavelmente algumas décadas para que o hidrogênio ganhe uma robustez na matriz energética global e até mesmo de um ou outro país.

Mas este é, salvo alguma descoberta nova, o caminho a ser traçado, pelo menos enquanto a energia nuclear continuar a ser um risco incontrolável em caso de acidente. Mas, se o caminho é este, será que teremos o mesmo efeito que aconteceu com as eólicas e as fotovoltaicas? No início foram vários projetos colocados em prática, apesar do elevado custo de produção pois não havia a tal da economia de escala, como temos hoje. No início o preço da produção desta energia é alto e compensavam os investimentos, mais do que agora com um mercado bem maior e uma melhor quantidade de fornecedores e preços mais acessíveis.

E falando em preço, este á um dilema dos grandes investidores em hidrogênio. É que embora o valor a ser investido seja muito elevado, o preço da produção de energia com hidrogênio verde e o que o mercado está disposto a pagar pela compra, além dos incentivos do poder público, faz com que aquele grande investimento, de risco elevado, seja bastante compensador: vender hidrogênio verde pelo preço que o mercado está disposto a pagar hoje é um bom negócio. Mas, e todo bom negócio tem um “mas”, provavelmente acontecerá a mesma curva de queda de preço verificado com as eólicas  e as fotovoltaicas; aliás, curioso ver que quando começaram as fotovoltaicas o custo de produção era muito maior do que com as eólicas, enquanto hoje é quase equiparado.

É por isto que em algumas leituras  começamos a ver a preocupação de investidores: o que é bom hoje, na planta, será bom quando entrar em atividade? Não sei quando teremos a primeira indústria de energia de hidrogênio verde em condições de mercado, ou seja, uma boa e efetiva produção mas, arriscaria a imaginar 2028, 29 ou 30. O preço atual deve ser o mesmo para poder remunerar o elevado valor a ser investido. Em tese, portanto, hidrogênio verde bom seria caro; até que a tecnologia ou a economia de escala mude este paradigma. Quando acontecerá? A acompanhar.


sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

A verticalização de Pipa

Pipa continua com sua animação e sua atratividade para o turismo, uma pequena praia de pescadores e surfistas com difícil acesso nos anos 1970/1980 concentra hoje um grande número de pousadas e hotéis e inúmeras opções de lazer e gastronomia e isto nos três turnos: há sempre o que fazer e o que visitar ou onde passear desde manhã cedo até altas horas da noite, principalmente nos finais de semana.

Pipa já foi um praia com grande promessa de extensão e de valorização das áreas lá nos idos dos anos 1990 quando houve uma expressiva quantidade de investimentos hoteleiros e de condomínios com capital internacional. A crise de 2008 derrubou a curva de expansão e a realidade interrompeu todas as perspectivas de transformar Pipa em um fenômeno internacional, como já estava acontecendo naquele período. Depois da crise global, Pipa voltou a ser, digamos, brasileira, a redução do turismo internacional, principalmente o europeu, foi assustadora e vários projetos ficaram no meio do caminho, aquelas promessas que pareciam mirabolantes deixaram de acontecer e foi necessário adaptar-se a outro público.

Apesar da mudança, a essência de Pipa continuou e bons projetos de hotelaria e de gastronomia persistiram e outros foram chegando. Hoje a praia não depende apenas de um único público-visitante-emissor, ainda que os europeus e seu poder aquisitivo contribuam fortemente para o perfil econômico daquele espaço.

Um fator que não mudou foi a nova urbanização da praia. Se antes, naqueles 1990, o limite de atratividade não se afastava muito da rua principal, novos projetos foram acontecendo para “dentro” de Pipa e novas ruas foram sendo abertas com a instalação de mais e mais pousadas e hotéis. Não parou de crescer, mas mudou um pouco o seu perfil de expansão territorial. Aquelas áreas novas e desocupadas dos anos 1900/2000 tiveram uma grande especulação imobiliária e os terrenos que antes pareciam não ter nenhum atrativo comercial, tiveram forte alta de preços nestes últimos anos.

Apesar de todas estas mudanças uma característica que encontramos em outras praias que tiveram forte crescimento ocupacional (ainda) não é visualizada em Pipa: a verticalização. Não sei se é alguma efeito limitante do uso e ocupação do solo definido pela Prefeitura de Tibau do Sul ou simplesmente ainda vale a pena comprar terrenos para construir casas e condomínios horizontais em vez de investir em condomínios verticais. A geografia de Pipa produziria com a construção de prédios um belo visual e uma paisagem inigualável com vista para o mar e para a mata.

É claro que não se trata de fazer qualquer coisa de qualquer jeito, deve-se seguir as regras e, se houver, o plano diretor municipal. Sem sombra de dúvida não deve ser algo como BC, como estão chamando Balneário Camboriú, mas algo ordenado e com uma paisagem urbana equilibrada. E é claro que os mais puritanos reclamariam desta verticalização, da mesma forma que não reclamam da expansão da “área da praia” por ruas e mais ruas no “interior” de Pipa. Crescer na horizontal, parece, gera menos crítica do que crescer na vertical.

Uma eventual verticalização produziria uma “nova Pipa”. Bom ou ruim? Certamente há muitas opiniões, de um lado e do outro; mas, seria um bom debate.


quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Dólar alto já chegou aqui?

Este mês de dezembro tem sido terrível para  muitas pessoas e muitas empresas com o aumento excessivo da cotação do dólar ou, se você preferir, com a elevada desvalorização do nosso real. O efeito é, na verdade, sentido por todos pois o impacto na variação da moeda afeta desde o preço do combustível – do qual ninguém escapa, diretamente ou indiretamente – como nas importações de matérias-primas para a indústria, sem esquecer o efeito nas compras pessoais (internet) de produtos importados.

A diferença maior no impacto está na velocidade do sofrimento. Explico: quem precisa de dólar agora para pagar suas importações ou quem havia importado algo e deixou para pagar a prazo está sofrendo muito com a variação atual, pois todos os custos foram baseados em um valor da moeda estrangeira e agora terão que arcar com o sobrepreço; quem pode repassar este novo custo, não tenhamos dúvida, já estão fazendo. Já para o cidadão comum, aquele que não depende diretamente da variação cambial, a mudança de preços acontecerá em forma escalonada ou mais suave: acabando os estoques atuais e renovando as importações, seja de produtos de consumo ou insumos da produção ou do combustível, tudo estará com preço novo. E quem pagará por este preço novo? O cidadão, claro.

No entanto, há um grupo de empresas brasileiras que está até animada com esta alta, ainda que passageira: os exportadores terão um benefício a mais, pois aquilo que estava sendo vendido, digamos, a US 10 e que daria ao exportador brasileiro algo como R$ 59, ele passará a receber R$ 61 ou R$ 62 etc. E tudo isto sem precisar fazer qualquer esforço, trata-se de um verdadeiro prêmio de final de ano, um bônus do Papai Noel.

Já para o turismo, dois sinais opostos: quem ia viajar para o exterior está refazendo as contas para minimizar o impacto, principalmente se pensava em comprar no cartão de crédito pois quando chegar a fatura pode ser que o dólar, o euro etc tenha aumentado ainda mais.

O lado bom do turismo não é para o turista brasileiro, mas sim quem trabalha com turismo no Brasil e, claro, aqui no RN! É que o viajante do exterior que estava achando barato passar uns dias aqui terá a oportunidade de consumir mais do que planejava pois simplesmente ficou “mais rico” em pelo menos 10% nos últimos dias. Nem vai precisar escolher entre a sobremesa e a entrada nos restaurantes, as lembrancinhas terão um upgrade e aquele passeio que estava na dúvida agora já poderá confirmar.

Espero, e somente em função, deles, que este aumento do dólar tenha chegado aqui no RN em uma época sensacional para o turismo, o das férias de janeiro e depois, o Carnaval. Aumentaria o faturamento e geraria mais renda. Mas, torço também que seja meramente temporário, no máximo até o Carnaval para que a gente tenha mais riqueza circulando no Estado e, depois, tudo voltar à certa normalidade, aquela de outubro ou novembro para evitar que a inflação entre em uma ciranda muito nefasta.

Bem que caberia uma daquelas pesquisas sobre o efeito do dólar alto no turismo potiguar. A título de referência, o Rio de Janeiro está celebrando o segundo ano consecutivo de melhor ocupação hoteleira, uma média acima dos 70% em 2023 e 2024. Seria bom que fosse no outro Rio, o Rio Grande do Norte.

terça-feira, 24 de dezembro de 2024

Vagas sobrando no estacionamento?

 

Não faz muito tempo o dia de hoje, 24, era um daqueles em que estacionar no shopping poderia ser comparado a qualquer prova de resistência e paciência, sem esquecer a comparação com a ideia de tempo perdido e do pensamento de sempre, “não deveria ter deixado para última hora”.

Particularmente, já superei esta fase há um bom tempo, sempre tento antecipar as compras de Natal pela falta de tempo e de paciência para aguentar um trânsito caótico no estacionamento do shopping, a arrogância e a prepotência de alguns motoristas e o descaso e falta de respeito de algumas pessoas na hora de encontrar uma vaga. Mas, lembro bem direitinho o quanto era penosa esta tarefa.

É por isto que não tenho mais ideia de como será hoje em dia ou como foi nos anos recentes. Os shoppings mudaram muito seus perfis de negócios e incorporam cada vez mais serviços como forma de atrair sua clientela, uma vez que a concorrência do comércio eletrônico é feroz e afeta bastante vários tipos de comércio, seja no tal do comércio de rua como nos shoppings, aqueles locais que foram eleitos como verdadeiros templos de consumo.

No entanto, acho que hoje ainda teremos algumas confusões e conflitos por espaços nos estacionamentos, não como antigamente mas, com ainda algumas dificuldades de circulação. A dúvida se haverá vagas sobrando nos shoppings em plena véspera de Natal me parece ainda bastante pertinente e acho que será ainda uma realidade por alguns anos mas, acho também, que seguindo o formato atual de compras pela internet, será uma realidade daqui a um decênio. Não estou, claro, apostando neste resultado nem torcendo que aconteça, mas é que acho que a forma de comprar já tem mudado bastante o perfil dos shoppings e ainda poderá mudar mais ainda, principalmente naquelas amparados por um mix bem diversificado, algo muito generalista e sem um foco maior em um tipo de clientela ou de segmento empresarial ou ainda sem um bom mix de serviços, também inovadores.

Será, se isto acontecer, muito curioso imaginar que na semana do Natal alguém possa ir ao shopping com toda tranquilidade e encontrar corredores não muito lotados e espaços para estacionar, ainda que com poucas opções de local.

Os shoppings e seus lojistas já sabem que precisam adaptar-se e oferecer mais experiências para o consumidor do que a simples vantagem de entrar em uma loja e comprar um produto. O Midway Mall, por exemplo, tem demonstrado isto ao longo dos anos mais recentes: mais e mais restaurantes e muitos quiosques de lanches nos corredores. E quem diria quando começou, e já faz um bom tempo, com a ideia de um teatro em pleno espaço de compras que hoje transformou-se em um lugar que não é utilizado apenas para shows e apresentações artísticas visto que, afinal, foi devidamente batizado e até hoje continua a ser chamado de “teatro”: há bons tempos que recebe convenções, palestras, eventos promocionais etc e parece até que é mais ocupado por estes eventos do que por shows musicais e peça de teatro!

Neste ritmo, quem sabe, passarei nas entradas dos shoppings em pleno dia 24 de dezembro e encontrarei um painel luminoso e chamativo com a clássica frase “há vagas”. Será??


segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

Nunca foi pela árvore

 

Hoje em dia são várias as cidades que se preparam de verdade para as festividades do Natal, algumas investindo milhões enquanto outras com orçamentos mais modestos fazem pontualmente alguma decoração na praça principal ou na sede da prefeitura. Não sei, claro, se todas as cidades do RN se preparam para o Natal decorando a cidade e criando algum espaço mais visível para que seja cenário de encontro das pessoas, em geral na parte da noite, ou um lugar para fotos e registros, tudo com uma destinação principal, as redes sociais.

 

Um conceito básico tem sido criar um local chamado de instragramável para que a população local e principalmente os turistas e visitantes possam registrar que ali estiveram e possam divulgar a cidade. É o conceito da modernidade uma foto na rede social para valorizar o que cada um está fazendo, muito mais do que registrar, como se fazia “muito” antigamente (até o início deste século), para servir de memória e de recordação por onde se andava.

 

O espaço do Natal e sua simbologia que gera provavelmente menos discórdia é a tal da árvore de Natal. O Presépio, embora desprovido de intencionalidade religiosa cristã, pode ser interpretado como alguma discriminação religiosa para aqueles que escolhem uma outra opção; do ponto de vista dos recursos públicos, por exemplo, não caberia mais esta argumentação depois que o STF validou a possibilidade de símbolos religiosos em órgãos públicos, ou seja, embora o Estado seja laico não há problemas em aceitar – e estimular? – a representação religiosa.

 

Mas, voltando ao tema. Em algumas cidades toda a ambientação natalina tornou-se uma competição entre quem faz melhor, entre quem tem mais a mostrar, entre quem é mais criativo etc, tudo isto com uma finalidade que ultrapassa os limites do município: na verdade, parece mais uma competição para saber qual cidade atrai mais turistas, seja quem vem de perto seja quem viaja para aquele lugar exatamente nesta época do ano e exatamente para visitar a decoração da cidade e, ainda “mais” exatamente, para fazer o registro no Instagram, Tik Tok etc. O exemplo clássico brasileiro são as cidades de Canela e Gramado que ficam super movimentadas nestes dias com lotação de hotéis e pousadas e o comércio vendendo de tudo, de decoração à chocolates, sem esquecer o faturamento elevado dos restaurantes.

 

É claro que estas iniciativas são super interessantes e super válidas, além de tornar a cidade também mais bonita para seus visitantes, apesar da reclamação da quantidade de carros na cidade e outras reclamações pontuais. É muito bom que a cidade se transforme em um espaço de lazer coletivo e que as ruas, ainda que sejam somente aquelas próximas ao espaço natalino possam ser ocupadas intensamente a noite e nos finais de semana, com a tranquilidade de poder circular pelas ruas. A cidade ganha mais vida, cria uma relação maior de pertencimento com a população.

 

Hoje toda esta ambientação deixou de ser uma simples decoração de Natal para tornar-se um investimento público para atrair mais pessoas e gerar mais renda e emprego para a população local. Embelezar a cidade nesta época do ano é bem legal, mesmo se a motivação nunca foi pela árvore. Janeiro está batendo às portas e um bom presente de Natal para a população seria manter uma roupagem do ano por todos os meses do ano; se você ainda não sabe o que pedir ao Papai Noel, fica esta dica.

sábado, 21 de dezembro de 2024

 Todos os dias uma cena se repete na entrada do aeroporto em São Gonçalo do Amarante: uma centena (ou duas?) de veículos fica parado na entrada do acesso, antes da entrada oficial (e da cobrança), espalhados entre canteiro central e as duas laterais da pista, no sentido entrada como no de  saída do aeroporto. É uma cena que acho constrangedora, de ver ali muitos carros parados por longos minutos a fio. São todos motoristas-Uber ou motoristas-99, empreendedores autônomos que decidiram alinhar um extra no orçamento ou que decidiram ter como profissão a de motoristas de veículos particulares de aluguel, como é uma das definições técnica da profissão.

É bem ali na entrada da “suíça potiguar”, aquele espaço que fica no município de São Gonçalo do Amarante mas que é administrado pela empresa suíça, a Zurich Airport, grupo empresarial que comprou os direitos de gerenciar o aeroporto depois da desistência-prejuízo da argentina Inframerica.

Nesta fronteira entre São Gonçalo do Amarante e o Airport Natal, como a Zurich batizou o lugar, em uma área que não é de ninguém, é que ocorre um silencioso conflito, social. De um lado a administradora, empresa com bom patrimônio e excelente capacidade de obter dinheiro e do outro lado centena de pessoas que diariamente tentam conseguir um mínimo necessário para pagar o combustível, o financiamento ou aluguel do carro, e o que sobrar que se transforma em renda pessoal ou familiar. E se a gente comparar em termos de recursos, o contraste suíço com a realidade local é ainda mais gritante: de um lado um empresa que acaba de receber confirmação de milhões de reais em financiamento do BNDES para expansão de suas atividades e de outro lado alguns motoristas que trabalham intensamente e o dia inteiro para ter uma receita mensal bruta de R$ 5, 10 ou até mesmo 12 mil. O contraste é grande.

E há conflito? Não do ponto de vista do embate político, mas das realidades bem distintas de um em frente ao outro e com uma curiosidade adicional: na parte interna, ali do aeroporto, não falta espaço para acomodar todos os carros de forma estruturada.

Mas claro, não é este apenas o conflito: os dois espaços, de dentro e de fora, são públicos, de um lado a concessão do aeroporto e do outro a via pública. Quem está dentro tem toda uma estrutura e quem está de fora não tem nada, a não ser alguma sombra de poucas árvores que ali existem. E nada de banheiro, nada de água, nada de, na verdade, nada.

Faltou, talvez, sensibilidade na hora de fazer o novo edital de concessão e exigir que a empresa vencedora montasse uma estrutura ou minimamente um espaço para os motoristas autônomos, assim como há para os taxistas com seu estacionamento privado logo na área do desembarque e podendo usufruir do conforto do terminal aeroportuário.

E, quem sabe, a solução deste conflito social poderia ser uma ação da própria Zurich? Bem que ela poderia criar um novo espaço para eles, com alguma estrutura básica de atendimento, minimamente uma área coberta e banheiros. Esta seria uma ação bastante positiva da empresa, seria uma boa ação. E como estamos em período natalino, nada melhor do que anunciar esta boa ação; as crianças (filhos dos motoristas) agradeceriam e os adultos saberiam reconhecer o espírito natalino suíço, e nada a ver com o frio do inverno de lá, mas tudo a ver com o calor de uma ação movida não pelo bolso ou resultado contábil, mas apenas e simplesmente pelo coração.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

A deseconomia de uma ponte

 

A ponte de Igapó é emblemática para a cidade de Natal em pelo menos 3 questões. A primeira delas é a única que segue seu curso normal, ou seja, a única que se identifica realmente com o que deveria ser uma ponte, unir dois lados, passando por cima (geralmente) de um rio, criando um elo entre dois lados da cidade de Natal, o lado de lá com o lado de cá; e este é o benefício desde sua criação.

Ultimamente a ponte tem se transformado em lugar de conflito. É que com toda a demora de todas as obras e agora com a tentativa de consertar ou recuperar uma das vias, o que vemos diariamente de lá para cá ou de cá para lá é a disputa intensa entre veículos para saber quem passa na frente, saber quem fura a fila para posar de esperto. O caos é agravado no início da manhã e  no final da tarde mas, considerando a dimensão da obra dá para dizer que não há horário tranquilo (de madrugada talvez sim!), toda travessia requer habilidade e paciência para enfrentar a disputa de quem será que passará na frente para chegar na ponte e ficar, relativamente livre, de toda a confusão. Sufoco todo ida.

Com isto, e de pois de vários meses de obra e de vários anos sem obra, a ponte tem gerado muita deseconomia, para utilizar o “des” que virou moda desde que se propagou a história do despiora. O primeiro sinal de impacto negativo relevante é do tempo que se perde para andar poucos metros, do combustível que se gasta e da paciência que se desperdiça, sem outra alternativa de solução.

O impacto negativo econômico afeta também o setor de serviços de entregas ou serviços de pessoas (táxi, Uber etc) pois o tempo perdido ali impede o aumento do faturamento e aumenta o custo de transporte que, claro, é repassado diretamente ao consumidor.

Há ainda outra dano social bastante grave que gera impacto na economia produtiva da cidade: como um trabalhador que gasta 1 ou 2 horas por dia para fazer apenas um percurso pode ser tão diferenciado a ponto de dizer que não chega cansado, não chega chateado etc e querer achar que o tempo perdido no ônibus não afeta sua atividade e sua produtividade? O desgaste diário afeta o emocional do dia a dia e, silenciosamente, vai afetando a saúde das pessoas. Este é um “custo” que não consegue ser mensurado mas tem um impacto muito efetivo para as empresas que contratam estas pessoas e com um dano ainda maior, na vida de cada uma destas pessoas; e este é um dano pessoal e social, sem mensuração e sem recuperação pois, afinal, como “tirar” 2 ou 4 h por dia de uma pessoa que fica presa no ônibus indo e voltando do trabalho e “compensar” de alguma forma? Duas horas por dia, por exemplo, são duas horas a menos com a família, descansando, no lazer, estudando etc.

Prometem para 2025 a conclusão da obra e o retorno à uma que seria a normalidade, ou seja, um caos com menor proporção. Sairemos do pior para o menos bom e ainda será motivo de comemoração. Será que não dá para fazer um túnel?!

quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Entre carvão e energia limpa

 

Neste mundo de incertezas temos  certeza de que é necessário cuidar do meio ambiente antes que a situação global torne-se de tal forma negativa que comprometa a vida de todo mundo, em qualquer lugar do planeta, e vale lembrar que ainda estamos em uma fase de transição que não deverá ser encerrada tão rapidamente quanto parece. Pelo menos é esta a impressão que fica quando descobre-se que o carvão, uma das maiores fontes de poluição no mundo, vai “bem, obrigado”, pelo menos para os produtores: ontem foi divulgado que a demanda mundial continua a crescer até 2027, de acordo com os especialistas do setor, para depois começar a estabilizar, ou seja temos ainda três anos de carvão sendo queimado e muitos poluentes lançados ao ar.

Tudo isto é, curiosamente, culpa da China. Digo curiosamente pois o país é não somente o maior produtor de carvão do mundo assim como é o maior consumidor e, ao mesmo tempo, é o país que mais investe em energias renováveis, em especial as fotovoltaicas. É mais ou menos como aquele antigo ditado que dizia “um olho no peixe e outro no gato”, a China aposta na energia no futuro mas não abandona a situação atual de total dependência do carvão para produzir energia.

É neste dilema ou nesta tentativa de mudança de trajetória que está o mundo. E não diferente no Brasil, do qual o Rio Grande do Norte tem um papel relevante nesta mudança. É que ao mesmo tempo que a Petrobras continua a querer explorar mais e mais petróleo, a empresa investe em projetos de energia eólica offshore, não larga a demanda atual e a riqueza que produz com o óleo e não deixa de investir no futuro.

Na prática é muito simples mencionar a necessidade de novas energias limpas, como a maioria das pessoas decidiu tratar o assunto mas, também na prática, em uma prática muita mais real e cruel, aquela que mexe no bolso de todo mundo, não dá para abandonar tudo de uma vez e por uma questão principal bastante simples: quem pagaria a conta de uma mudança radical tão drástica? É claro que nãos se trata de defender a situação atual e deixar tudo como está, não mesmo. Temos que mudar, sim, mas temos que fazer a mudança para o futuro sem que o custo no presente se transforme em outro ditado popular, mais danoso, aquele que diz que o “remédio matou o paciente”.

Neste aspecto da mudança o Rio Grande do Norte tem um papel relevante. Infelizmente mais por sua geografia do que por sua capacidade de interferência ou deliberação; não que a ação política estadual ou a regulamentação dos investimentos não possa ter a contribuição local, mas é que as estratégias são nacionais e os projetos de leilão de energia assim como o licenciamento das offhsores é competência exclusiva do Governo Federal. O RN terá sua participação, mas o processo decisório não é em nosso território (basta lembra que que todos os grandes projetos de eólica e de fotovoltaica tem como composição econômica o capital nacional e internacional, muito pouco é investimento 100% potiguar).

Entre o fim do carvão mineral no mundo e a totalidade de energias verdes no mundo termos algumas décadas. Por outro lado, a transição no Brasil tende a ser mais curta, temos boa produção de energia limpa, e podemos mais. Deste mais que podemos o RN tem sua visibilidade e sua importância. Podemos ter mais, muito provavelmente. E acredito nisto.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

Como vai a Havan de Natal?

A inauguração da loja Havan em Natal rendeu muito polêmica em setembro de 2022, em pleno período eleitoral. Para quem se lembra da discussão da época, o proprietário esteve em Natal e reclamou da necessidade de adiar a abertura da loja em função  de documentação que foi solicitada para seu funcionamento; não lembro exatamente dos detalhes do que faltava, mas lembro de algumas declarações bem animadas de um lado e do outro, dos defensores da loja e dos não-defensores da loja e do empresário.

No final, a loja foi inaugurada e continua a funcionar até hoje. O projeto não é dos mais grandiosos no formato Havan mas não deixa de ser imponente em alguns números que a empresa tratou de divulgar: a filial de número 174 recebeu R$ 45 milhões em investimentos para uma área construída de 14 mil metros quadrados e contratou cerca de 200 pessoas dentre a infinidade e currículos que recebeu. Segundo a divulgação da empresa, são mais de 350 mil itens comercializados pela Havan mas, embora tenha ido 3 ou 4 vezes à loja, não consigo imaginar o que representa 350 mil itens diferentes! É gigantesco, acho.

No momento em que se falava da Havan Natal deixou-se de falar da Havan Mossoró. A expansão para o interior do RN foi cancelada ou simplesmente adiada, mas o fato é que não temos nenhum anúncio de uma segunda loja, nem em Mossoró nem mesmo em outra cidade da Grande Natal. Mais do que uma questão de logística, é uma questão econômica, de retorno sobre o investimento e do mercado comprador; certamente Mossoró tem uma boa renda e recebe diariamente muitas pessoas de cidades vizinhas mas, por exemplo, não consegue fazer com que o seu shopping Partage tenha movimento nem que todas as lojas estejam ocupadas, apesar do ar-condicionado. Pode ser algo cultural, local, de não privilegiar tais espaços.

Já se passaram dois anos da Havan e não li mais notícias sobre a empresa e suas atividades aqui em Natal. Talvez a empresa seja bem discreta e tenha investido pouco na mídia local e nos influenciadores locais para espalhar suas notícias. É bem verdade que a empresa faz propagandas de seus itens, investe bem em marketing, mas pouco divulga sobre seus resultados.

Por isto tenho dúvidas ou melhor, curiosidades: será que expandiu o quadro de funcionários, houve aumento de demanda de trabalho em função das boas vendas aqui em Natal? E como estará o projeto Mossoró, adormecido, sendo atualizado ou esperando uma melhor oportunidade?

Não se trata obviamente de comemorar maus resultados, mas a expectativa de conhecer como anda este mercado de grandes lojas que vendem muitas coisas, a exemplo da Havan, da Leroy Merlin ou da Ferreira Costa. É interessante acompanhar a evolução de novos investimentos no RN, transmite uma mensagem mais otimista para o comércio local, principalmente diante da concorrência do comércio eletrônico.

Torço pelo empreendedorismo e empresário potiguar, de origem ou que aqui investiu. Como vai a Havan de Natal? Espero que esteja bem, que venda mais e que contrate mais pessoas.


terça-feira, 17 de dezembro de 2024

Tributar as “bets”

 

A discussão sobre os “tigrinhos” da vida e os leões que abocanham parcela da renda da população com os famosos “bets” não deve diminuir, principalmente em um País onde a ascensão social é sempre difícil e complicada e a idolatria dos artistas, dos jogadores de futebol e agora, na nova moda, dos tais influenciadores digitais atiça a vontade de ficar rico, muito rico, rapidamente. Antes a riqueza rápida ou de forma impactante estava muito associada à qualidade de alguma pessoa ou algum dom, como também era chamado, seja para jogar futebol ou tornar-se cantor de sucesso; com os influenciadores digitais a qualidade do sucesso está mais vinculada à empatia, ao sorriso programado – e instagramável –, como atributo. Nada mais.

Com as apostas on line que passaram a ser chamadas simplesmente de bets, a ideia do sucesso espetacular apenas aumentou, e com uma vantagem, digamos assim: não precisa de nenhum dom, não precisa saber jogar futebol, não precisa saber dançar ou cantar e não precisa nem mesmo saber sorrir e ter um bom Instagram pois– e tem gente que acredita – bastaria ter sorte. Um sorte que vem do baixo valor da aposta (é a ilusão) e fará chegar rapidamente à riqueza.

E tem gente que acredita que é sorte. Tem mesmo. Basta ver os exemplos dos patrocinadores principais em alguns eventos, a começar pelo futebol, com tantas propagandas de bets que parece não ter sobrado mais espaço para nada nem para ninguém. Outro dia, assistindo um jogo pela TV eram 3 propagandas de bets no gramado, mais uma nos painéis ao lado do campo e duas nas camisas dos jogadores; e no intervalo da transmissão, tome propaganda de bets.

Tenho que reconhecer que as bets permitem realmente alguém ficar rico! Mas, não é muita gente, embora a fortuna seja grande: os que enriquecem mais rapidamente são os donos destas empresas. Somente eles.  Há alguns ganhadores, sem dúvida, mas como em todo jogo de azar, ainda que seja o mais honesto possível, o número de perdedores é maior, muito maior do que o número de vencedores. É assim que funciona, mesmo para quem não acredita.

Recentemente estive em uma feira comercial e vi em um estande as filas para participar da bet, com sorteio ao vivo como tão bem anunciavam. Bastava “iniciar” com R$ 10 para ganhar até R$ 50 na hora, ao vivo, e em espécie. E de fato algumas pessoas ganharam R$ 50 ou menos, mas recebiam o dinheiro ao vivo. E o mais “divertido” era que ninguém precisava preencher nenhum recibo, assinar nada, para ganhar seu prêmio. Foi uma bela distribuição de dinheiro sem nenhum controle.

Claro, sem regulamentação, sem controle nenhum, dá para receber e pagar sem problema.

Por isto sou a favor da tributação das bets. E alta, bem alta. Mais ou menos como acontece com as loterias da Caixa em que o resultado final do prêmio nem chega a 50% do que foi apostado, muito fica com a Receita Federal e o imposto de renda e outra parte segue para projetos (mesmo se poderiam servir a outra finalidade, acho).

E um acréscimo nesta tributação que entendo ser fundamental para as bets: parte do imposto deveria ficar com as prefeituras e o governo do estado do local da aposta. O ideia é simples: todo dinheiro apostado deixa de circular nos mercados local/estadual, diminui o consumo; portanto, nada mais justo que possa haver um “retorno”. No mínimo diminuiria a perda para os entes públicos, já que não há mesmo como salvar o dinheiro dos perdedores, digo, dos apostadores contumazes.


segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

O prisma da energia no mar

Chegou ao fim a tramitação no Congresso Nacional do projeto de lei que trata da possibilidade de produção de energia no mar territorial, a chamada eólica offshore visto que os projetos em perspectiva estão todos associados à implantação das torres (também chamados cataventos) ao longo da costa brasileira. O projeto segue agora para a sanção presidencial.

A discussão no Legislativo nem extrapolou tanto assim o tempo, considerando o tema sempre cheio de controvérsias e considerando também que algumas discussões demoram bastante na tramitação entre a Câmara e o Senado. Para este projeto de lei as alterações apresentadas foram acatadas e com isto não cabe mais apreciação pelo Congresso. Finalmente, portanto, em breve poderemos ter uma regulamentação que tanto os investidores esperam (são mais de 80 projetos credenciados no Ibama, salvo engano) para saber como funcionará a repartição de pedaços do território nacional para a exploração econômica por parte de empresas do setor privado.

Mas, a novela ainda não acabou. Começa agora outra discussão em série que também é extremamente agradável, a do licenciamento ambiental. Considerando que é uma ideia nova – aqui no Brasil – não há ainda um manual, um roteiro ou um termo de referência que possa subsidiar os investidores e, mais importante ainda, que possa subsidiar o Ibama na hora de analisar a licença ambiental. Afinal, falta definir o que pode e o que não pode, qual documento apresentar, qual estudo de impacto será exigido, qual o limite de extensão de cada projeto, qual ... e tantos outros “quais” por aí. Próxima etapa, portanto, será a regulamentação ambiental.

E esta é uma etapa muito aguardada pelos ambientalistas, aqueles que entendem que o ser humano também é parte do meio ambiente quanto aqueles que entendem que o ser humano é apenas uma pequena parte do meio ambiente e as regras mais estritas de preservação devem prevalecer sobre as demandas econômicas ou sociais; às vezes, parece, que a tendência é algo como uma política-de-zoológico, isola-se, preservar-se e apenas mantém o espaço para observação. É o ter para ver.

É claro, e antes que alguém se assuste, que não se deve fazer qualquer coisa de qualquer jeito, da mesma forma que não se deve deixar de fazer as coisas, de todo jeito. O bom senso deve prevalecer e os cuidados ambientais, idem. Assim com o cuidado humano não deve ser deixado de lado e ser considerado apenas como efeito colateral. Não há espaços, reitero, para extremismos. Vamos ter que aprender como fazer, e desaprender como proibir por proibir.

Será interessante ver esta nova dinâmica na zona costeira, seus projetos e seu formato de implantação. Cada área em que será permitida a instalação dos parques eólicos ganhará um nome: o lote no mar, digamos assim, de acordo com o projeto de lei terá o nome de “prisma”. Pode ter sido a famosa mera coincidência na escolha do nome, mas este projeto, a depender do... prisma de observação, terá várias nuances e muitas cores.

A partir de agora, cada um escolhendo seu prisma. E seu ponto de vista.


domingo, 15 de dezembro de 2024

Brisanet e favelas, tudo a ver

E a Brisanet estará em breve nas favelas do Nordeste! Semana passada foi anunciado investimento da empresa cearense que pretende instalar internet em 5 favelas do Nordeste, dentre elas aqui no Rio Grande do Norte, e que alcançará mais de 600 mil novos usuários. Tudo, claro, como acontece em grandes investimentos, com recursos garantidos pelo BNDES, um investimento total de R$ 214,5 milhões.

A notícia leva a algumas reflexões. A primeira delas, do ponto de vista comercial, é o fato de que a empresa está bem, continua em sua mágica expansão e obteve um boa parcela de seu novo investimento com empréstimo do Governo Federal (certo, de forma indireta, via BNDES) com recursos públicos originários do tal Fust, o Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações, uma contribuição que todos nós pagamos e que vemos pouco seus efetivos resultados. São, portanto, tributos do contribuinte que servirão para financiar um negócio privado, privado e lucrativo. É assim que o “jogo é jogado”.

Por outro lado não podemos deixar de valorizar o benefício que está sendo prometido, pois significa que uma grande parcela da população brasileira ainda tem dificuldade de acessar um serviço que hoje, e até mesmo pelo Judiciário, é considerado como essencial, tanto quanto o fornecimento de água e energia elétrica. É claro que 613 mil pessoas que deverão ser beneficiadas, se comparada à população somada dos 5 estados nordestinos, não representam um percentual impactante. Mas, a conta não pode ser esta, pois o público-alvo é justamente aquele que tem mais dificuldade de acessar serviços básicos, de entrar no mercado consumidor e, quando se trata de internet, de ter a possibilidade de ser um cidadão como os demais, com acesso à informação, à comunicação e à multiplicidade de serviços que hoje fazem parte do nosso dia a dia.

Tenho convicção que foram feitos vários estudos de mercado a partir da natural inquietação da empresa de ter rentabilidade com o investimento, ou seja, a Brisanet não está pretendendo fazer nenhuma caridade ou assistencialismo puro, está pretendendo fazer o que faz com todos os seus negócios, vender um serviço pensando no lucro. Normal. Mas, fico na dúvida quanto à análise de eventuais investimentos públicos que poderiam ser realizados pelas prefeituras ou governos estaduais para oferecer internet gratuita.

Temos alguns, mas acho que são poucos e pontuais, exemplos de internet gratuita em pontos muito específicos da cidade, como praças públicas. Ano passado conheci o exemplo de Messias Targino, o belo trabalho de oferecer internet gratuita na praça principal da cidade; entendo que não é possível oferecer em toda a cidade não somente pelo custo de implantação mas também pela concorrência desleal que provocaria no mercado e que poderia significar um retorno à vetusta ideia do estatismo a todo custo (quando o próprio poder público não detém o monopólio da saúde e da educação, não haveria sentido ter logo o monopólio da internet!).

Empréstimo anunciado pelo BNDES, Brisanet em breve com dinheiro em caixa e, é que se espera, o mais breve possível começar a oferecer seus serviços nas favelas. Temos algumas favelas aqui no RN, esperamos que todas sejam contempladas e, os moradores, acredito, esperam o mesmo que todos os demais consumidores: serviço de qualidade por preço bem acessível. Em breve saberemos.

Obs: são 416 favelas nestes 5 estados; haja favelas, muita ação social necessária.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

Uma “outra” Síria

 A crise na Síria e a derrubada do poder, saindo de uma ditadura, e ainda sem expectativas reais de um novo regime democrático ou tão ditatorial quanto o anterior mostra que a luta pelo poder é tão global quanto regional ou tão nacional quanto local. E como acontece em todas estas crises de poder a solução não é fácil, sempre ficando a impressão que a tomada de poder pelas armas de um poder que se defendia justamente pelas armas, tende a não dar certo. A Síria é um  dos exemplos, assim como foi a Líbia ou o Iraque, apenas para ficar na região mais próximo do mais novo conflito.

 

Transpondo isto para o nosso Brasil, temos “outras” Síria acontecendo aqui em nosso território, não muito distante de todos nós e que nem precisamos ficar de olho no noticiário da tv ou no celular para saber o que está acontecendo ao nosso redor: a violência urbana provocada pela guerra do tráfico de drogas. Este é um conflito constante, permanente, duradouro e infelizmente até agora sem alguma solução aparente nem mesmo conjuntural, quanto mais de forma estrutural.

 

Vemos as facções tomando o poder regional de bairros inteiros e determinando suas regras ao criar verdadeiros feudos impondo o terror ou a ameaça da força em troca de uma chamada paz social: enquanto a facção dominar aquele território a vida de seus moradores será tranquila pois ninguém ousará fazer alguma besteira, ninguém terá coragem de se insurgir contra o poder dominante; é o mesmo paralelo quando vemos a tomada de um poder em um país, pelas armas, em que uma corrente decide quem pode o quê, como pode e ainda estabelece restrições para todos aqueles que são os “estrangeiros”, ou seja, aqueles que “se não estão comigo, estão contra”.

 

Muda o referencial geográfico mas não muda o cenário de dominação com a força e pela força. Todo mundo dirá, e mais ainda aqueles saudosistas seletivos (que lembram somente das coisas boas) que em Natal antigamente tudo era mais tranquilo, podia-se ir para as calçadas e ficar conversando com a porta da casa aberta. É verdade. E também é verdade que o mundo era bem diferente! Hoje não temos o terrorismo das drogas tão presente no nosso dia a dia, ainda que antigamente sempre houvesse tráfico de drogas mas, jamais na dimensão atual.

 

Não tenho a solução, mas ainda tenho a sensação de que a romantização da droga a e associação ao livre prazer de usufruir de seu consumo deu uma margem muito grande para este mercado. Sim, é um mercado e como todos os mercados econômicos depende da oferta e da demanda e sempre que a demanda aumenta o mercado acaba se expandindo; e como todo mercado concorrencial, cada um quer ter o seu espaço e seu o maior ou o melhor. No caso das drogas a conquista do mercado passa pela violência, pela dominação e pelo medo.

 

É uma realidade que nos alcança diariamente pelos fatos que nem assustam todos, e infelizmente apenas de vez em quando. O mundo inteiro não encontrou solução para o problema, apesar de várias tentativas de coibir a demanda e de atrapalhar a oferta, e para  cada uma das iniciativas os críticos de plantão sempre encontravam os “defeitos”, poucas sugestões, repetindo o mote da “liberdade pessoal”, esquecendo que para as drogas não há como individualizar nem simplesmente romantizar todas as etapas, da produção ao consumo.

 

Quem sofre e quem se preocupa com os efeitos da droga na sociedade não vê romantismo. Ainda bem.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

Carnatal e shoppings

 

Mais um Carnatal encerrou neste final de semana, não tão grandioso quanto antigamente, nos tempos áureos em que movimentava muito a cidade, mas ainda com alguma expressão e com boa participação que, salvo engano, foi anunciada em mais de 100 mil pessoas, ou, na média mais de 30 mil pessoas na sexta, e no sábado e no domingo. É que o número de 100 mil parece indicar que é todo esse povo mas, como o evento dura 3 dias, não dá para imaginar tudo isto...

 

Houve tempo em que Carnatal era muito criticado pelo comércio local que argumentava que a data coincidia com o melhor período do ano, das vendas de Natal. Alguns diziam que muita gente ia ao Carnatal e comprava os abadás caros (ainda continuam, aliás) o que comprometia a compras de final de ano. Nunca achei que fosse tudo isto, embora, é claro, algumas pessoas acabam optando por uma despesa ou outra, nem todo mundo pode fazer duas despesas tão elevadas no mesmo mês.

 

Mas, parece que agora a crítica desistiu de persistir ou então foi menos divulgada.

 

Acho que alguns fatores podem contribuir para a mudança de discurso. A primeira delas é que hoje com as compras eletrônicas não há mais a mesma concentração somente no mês de dezembro, embora continue sendo o melhor mês comercial. A outra é que as compras eletrônicas, assim como o Carnatal, permitem a utilização do cartão de crédito e o escalonamento da dívida, criando a ilusão de que se dividir no cartão parece que a despesa é menor; estranho, do ponto de cista econômico, mas real do ponto de vista da psicologia do consumidor.

 

Mas talvez uma mudança maior ao longo dos últimos anos tenha sido o público consumidor dos blocos e camarotes. Quando o evento era bem imponente o público principal era de natalenses ou de potiguares, poucos eram – quantitativamente – os turistas que passavam aqui; é claro, sempre existiram mas não na dimensão atual. Hoje, pelo menos em termos de sensação que fica, é que os “locais” já não comentam tanto sobre o Carnatal, como se houvesse uma redução deste segmento na festa dos 3 dias.

 

Esta mudança do perfil, mais turistas do que natalenses, acaba diminuindo o impacto no comércio local visto que há menor direcionamento das compras. E provavelmente o comércio já tenha analisado os números e verificado que não há muita correlação direta – e negativa – do Carnatal com a movimentação comercial na Capital. E também, espero, tenham percebido os empresários que o consumidor não se limita apenas às compras de bens, mas também e muitas vezes cada vez mais ao consumo de serviços e deles decorrentes, especialmente a partir do turismo.

 

Nesta lógica, quanto mais turistas melhor para a nossa economia. O Carnatal parece que tem um efeito positivo. Quem diria até, se continuarmos a ter mais turistas no evento do que público local as reclamações quanto à realização da festa no mês de dezembro se transformem em elogios. Com direito a parcerias locais. Seria bom!

 

E um detalhe: ano passado na mídia noticiaram 70 mil pessoas e agora, 100 mil. Quem dá mais para o Carnatal de 2025? 150 mil, 200 mil, 250 mi?...

sábado, 7 de dezembro de 2024

Meu carro importado. Da Europa

Nesta semana vi uma notícia, sobre carros, que me deixou desanimado e logo depois uma outra que quase me deixa animado! Até cair na realidade, aquela de mercado, que é cruel e não deixa muitas oportunidades para o cidadão comum, o consumidor tradicional.

A semana abriu com uma notícia que ainda me impressiona: no Brasil há apenas 4 carros que custam menos de R$ 80 mil. Impressionante, acho, mais ainda quando a gente compara com a quantidade de salários mínimos necessários para comprar um carro novo. Sei, não sou ingênuo, que quem ganha salário mínimo no Brasil não terá nenhuma chance de ter seu carro zero, assim como dificilmente acontecerá em outros países, mesmos aqueles mais ricos. Mas, quem ganha 4 ou 5 salários mínimos na Europa pode até pensar na ideia, enquanto aqui no Brasil continuará apenas um sonho (imagine então para um carro elétrico, verdadeiras fortunas ambulantes, até para os modelos mais “simples, com dizem).

Logo depois apareceu a notícia do acordo Mercosul-União Europeia e me animei! Quem sabe poderia comprar um carro zero europeu?! Talvez um carro básico, daqueles com direção hidráulica, GPS incorporado, marcha automática, air bags e sensores, uma básico mesmo. É que o básico de lá é quase o nosso de luxo. Mas, pensei com o anúncio de que esse acordo que vai salvar a agricultura brasileira bem que poderia salvar também o consumidor brasileiro. Curioso é que um carro zero em alguns países europeus parece preço de carro brasileiro; a diferença (e que diferença!) é que a renda por lá é bem maior ou, em outras palavras, embora seja um objeto de consumo caro é acessível (sem falar nas linhas de financiamento com juros excelentes).

Mas, o mercado mostrou um lado que existe e é bem forte. Se aqui reclamamos do protecionismo dos agricultores franceses, não podemos esquecer do protecionismo das montadoras de automóveis brasileiras, digo, das montadoras de automóveis estrangeiras instaladas no Brasil. Já foi anunciado que haverá uma sobretaxa na importação de carros, apesar do milagroso acordo comercial. Parece até aquele bordão antigo, algo que foi sem nunca ter sido: vamos esquecer as importações. É claro que mexe com toda a indústria aqui no Brasil e pode afetar a cadeia produtiva e os empregos, diretos e indiretos. Não se trata de defender a abertura comercial de qualquer forma e lembrando ainda que já vimos este filme aqui no Brasil e, para quem não se lembra, o lado cômico foi o absurdo da medida, mas o lado trágico foi cruel; e para todo mundo.

Mas o que quero chamar a atenção é que temos que pensar no acordo comercial vantajoso para quem exporta, sempre, pois afetará a renda nacional, mas não devemos esquecer que o comércio exterior tem as exportações e as importações. Já fomos um país em que viajar para o Paraguai era muito interessante para comprar uísque para oferecer na festa de casamento pois era algo impensável comprar aqui na terrinha; é um exemplo besta, mas mostra que na importação o beneficiado pode ser o consumidor.

Todo acordo comercial é feita para beneficiar o maior número de pessoas. Eu, particularmente, não faço compras na Shein ou na Tamu – e não tenho nada contra – mas gostaria de poder ter acesso a novos produtos, melhores e tecnologicamente mais avançados. Pensei que o acordo Mercosul-União Europeia poderia abrir mais oportunidades e olha que nem precisava ser para o carro zero. Minha lista de compras é até boa mas, pelo visto não será este acordo que me que fará... acordar do sonho.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

Portabilidade do IPTU

 

Já faz algum tempo aqui em Natal, e já comentei outras vezes, que o ano novo era inaugurado com o primeiro compromisso obrigatório para muita gente, o pagamento do IPTU. Era o sinal de que um ciclo tinha se encerrado e que começaria o outro, inaugurado pelo IPTU, seguido das mensalidades escolares e concluindo pelo imposto de renda; quando chegava o imposto de renda era sinal que teríamos apenas as obrigações “normais” pela frente. Mas, já faz tempo que o gostinho de final de ano é interrompido pela lembrança e lançamento do tal do carnê do IPTU.

 

A sensação, aliás, é que parece ser cada vez mais cedo. O imposto tem vencimento em janeiro de 2025, mas mais de um mês antes já e anunciado com pompa e circunstância. E o anúncio é bem festivo, do estilo “aproveitem e paguem logo para ter direito ao desconto”.

 

(Isto também me faz lembrar a mesma saga com as árvores de Natal nos shoppings e nas lojas. Antes, o Natal começava a ter sua decoração em dezembro, depois passou para novembro e agora parece que logo depois do Dia de finados já é hora de exibir a decoração natalina. No ritmo de antecipação em breve teremos a decoração de Natal começando logo no Dia das crianças ou assim que terminar o São João...É claro que é um comentário irônico e não acontecerá mas, é bem capaz de algum especialista no assunto e adepto de marketing revolucionário imaginar que isto é possível.)

 

Já visualizei minha conta do IPTU na internet. Há um desconto, mas não é como eu esperava. Ele não é linear. É um desconto, é bem verdade, mas esperava que fosse da forma como eu tinha entendido a mensagem. Nestes casos, infelizmente, não há muito o que fazer, pois praticamente impossível contestar o lançamento do IPTU que será cobrado, exigiria uma ação civil pública que demandaria um bom conjunto de informações e de dados sobre cada um dos imóveis da cidade e, naturalmente, estes dados são de exclusivo conhecimento da municipalidade. E ainda haveria necessidade de convencer que, embora pagar tributos seja algo normal, comum e necessário, ele não pode ser arbitrado sem uma fundamentação técnica e jurídica e avaliando o impacto social.

 

Qualquer um desses anos, e talvez bem próximo, a campanha do IPTU será lançada na Black Friday afinal, o princípio é o mesmo, o de aproveitar o dia especial para pagar mais barato por alguma coisa. “Aproveite a super promoção da Black Friday e pague seu IPTU com 17% de desconto. É apenas hoje. Super promoção”. Claro que o marketing seria melhor mas a essência da mensagem é a mesma. Talvez quando isto acontecer haverá alguém na internet lançando uma página para comprar os preços que existiam antes para confrontá-los com o descontão anunciado, como acontece com várias empresas e sites de compra on line.

 

A diferença, infelizmente para o cidadão, é que não dá para trocar de fornecedor; a criatividade jurídica ainda não foi capaz de lançar a “portabilidade do IPTU”. Mas até que seria ideia inovadora; muito inovadora!

quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

Projeto: Bioeconomia, no Brasil e no RN (parte 2)

 

A Bioeconomia pode envolver diferentes segmentos produtivos e diferentes variações ou subdivisões temáticas e, naturalmente, estar associadas com outros conceitos tão caros à Economia e à Ecologia tais como economia circular ou economia sustentável, ou às condições sociais tais como os ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável), sustentabilidade ou ainda biodiversidade, em seus aspectos que considerem o Ser Humano como presente nestas relações com o mundo.

Aqui no RN temos alguns setores que poderiam estar bem enquadrados na ideia da sustentabilidade ou da Bioeconomia, e o exemplo maior está na produção de energias renováveis a partir do efeito do vento ou do sol, nossos parques eólicos e fotovoltaicos permeiam parte da paisagem em algumas localidades, a exemplo do Litoral Norte, do Mato Grande e, mais recentemente, com a expansão no Seridó. Estes investimentos, apesar de grandiosos quando a referência é monetária (estamos sempre a falar de dezenas, centenas de milhões de dólares), são mais tímidos em expressar números também impactantes nos efeitos sociais e, principalmente, locais; vale ressaltar que há um forte impacto local, é efetivo e sensível, mas é desproporcional ao investimento, por exemplo, em equipamentos.

Direcionando para outro grupo de atividades parece que a Bioeconomia está um pouco mais distante na teoria e na prática. Pode ser mera impressão, mas temos um número menor de atividades industriais que podem estar associadas a produção e conservação dos recursos biológicos.

E é nesta percepção que uma pesquisa poderia ser realizada para conhecermos nossa realidade, ampliar o potencial econômico-produtivo, sempre preservando o princípio da Bioeconomia. Temos, por exemplo, várias pequenas indústrias de confecção mas, quantas utilizam-se de algodão ecológico? Temos várias indústrias de alimentos mas, quantas utilizam-se de insumos sem agrotóxico ou originários de antigas áreas degradadas? Temos várias empresas de pesca mas, quantas compram seus produtos de fazendas certificadas. Não é, evidentemente, nenhuma crítica a nenhum setor produtivo, mas uma avaliação da realidade atual que poderá inclusive servir de exemplo para outras indústrias e empresas que possam vir a se instalar no RN.

Não precisaríamos, talvez, imediatamente de um comitê estadual para replicar o modelo Federal mas podemos ter pesquisas que conheçam e reconheçam nossa realidade para que políticas públicas possam ser reforçadas ou criadas para beneficiar os investidores aliados ao conceito da (verdadeira) Bioeconomia. Esta é uma pesquisa que o RN poderá começar.

E como todo projeto deve ter um ponto de partida e uma segmentação, até mesmo para servir de modelo, poderia ser com o perfil industrial potiguar. É uma sugestão, uma ideia de pesquisa.


quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

Projeto: Bioeconomia, no Brasil e no RN (parte 1)

Bioeconomia não é um conceito necessariamente novo ou inovador. Mas, já foi considerado revolucionário lá pelos anos 1960/70 quando o economista romeno Nicholas Georgescu-Roegen criou o conceito de Bioeconomia ou economia ecológica. Apesar da contextualização da época, foi o relatório da OCDE (Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico) no ano de 2009 que popularizou e, digamos, globalizou a ideia, destacando tratar-se de “um mundo no qual a biotecnologia representa uma parcela significante da produção econômica, sendo guiada pelos princípios do desenvolvimento sustentável”.

De lá para cá muita coisa mudou, o conceito ampliou-se e passou a ser adotado em vários países até tornar-se uma ideia que já está incorporada na economia política global, seja de forma direta seja de forma indireta. E a cada COP, a conferência global do clima, o tema retoma o noticiário e alguns avanços aparecem de forma enfática e emblemática. O tema, diga-se de passagem, deverá ser uma das vedetes na COP-30, em Belém, em plena Amazônia.

Hoje Bioeconomia é avaliada como um vasto campo de atuação  que reúne setores da economia que utilizam recursos biológicos. Nesta definição, percebe-se facilmente, muitas atividades de encaixam. Mas, claro, não é somente a utilização de recursos naturais, que deve ser associada à ideia da Bioeconomia. É que não deve ser analisada sob o exclusivo aspecto da matéria-prima e de sua utilização, mas de algo que vai bem adiante e que ficou popularizado (embora, acho, de forma inadequada) como “desenvolvimento sustentável”. É indispensável que o conceito seja utilizado de forma correta, ou seja, deve-se considerar aquela produção que baseia-se no conhecimento (ciência e tecnologia)  para utilização racional de recursos naturais que assegurem a preservação dos recursos biológicos; é neste binômio produção-conservação que a FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação) alicerça e incentiva a prática da Bioeconomia.

A ideia, volto a insistir, não é das mais novas, nem do ponto de vista conceitual nem mesmo sob o aspecto prático e para isto basta lembrar do Proálcool, dos anos 1970, uma iniciativa brasileira de diminuir a dependência do petróleo importado e fazer os veículos ter como opção abastecimento a gasolina e o álcool; é bem verdade que não se encaixava exatamente nos rigores da Bioeconomia, pois a finalidade não era a produção com foco na conservação ou na preservação, eram meros interesses econômicos. Mas, deu certo e hoje é possível dizer que o Proálcool é um claro exemplo da Bioeconomia brasileira!

Em junho de 2024 houve uma iniciativa mais formal do Governo Federal quando criou, por Decreto (12.044, de 5 de junho)

a Estratégia Nacional de Bioeconomia e, como toda legislação gosta de ter uma definição própria, assim ditava a regra: “Art. 2º Para fins do disposto neste Decreto, considera-se bioeconomia o modelo de desenvolvimento produtivo e econômico baseado em valores de justiça, ética e inclusão, capaz de gerar produtos, processos e serviços, de forma eficiente, com base no uso sustentável, na regeneração e na conservação da biodiversidade, norteado pelos conhecimentos científicos e tradicionais e pelas suas inovações e tecnologias, com vistas à agregação de valor, à geração de trabalho e renda, à sustentabilidade e ao equilíbrio climático.” Veja que além da preservação foram incluídas a ética, justiça e inclusão.

Mais recentemente, no mês passado saiu finalmente a Portaria Interministerial que institui a CNBio (Comissão Nacional de Bioeconomia) para poder criar e implementar o tal do Plano Nacional de Desenvolvimento da Bioeconomia. A responsabilidade está nas mãos de 34 representantes do Governo Federal, de setores empresariais, de pesquisadores e da sociedade. É muita gente para deliberar sobre o tema, mas sempre há expectativa que as reuniões sejam produtivas e com resultados práticos. A esperar, com muito interesse.

 

(continua)

segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Distopia ao contrário: os pagers

 

A notícia da explosão de vários pagers no Líbano, extraídas as questões político-ideológica-bélicas (que não entram na lista de meus comentários), mostrou que o mundo tem suas distopias, inclusive no seu sentido contrário. Em outras palavras, as rupturas geradas pelas inovações tecnológicas que tendem a romper com o passado nem sempre conseguem extinguir toda uma história, mas não para tudo. É bem verdade que depois do computador não faz sentido ter uma máquina de escrever e depois do carro flex não faz mais sentido ter um carro com combustível somente à gasolina ou somente à álcool; e assim são vários exemplos.

 

Algumas destas tecnologias totalmente ultrapassadas são mantidas com um conceito comercial criado (não sei por quem) que classifica os itens com vintage para justificar quem ainda tem um toca-disco, um telefone à disco, uma máquina de escrever etc; mas, aí é outra história que gera a mesma curiosidade de uma fita k-7, apenas o tempo suficiente de ser algo interessante temporariamente, com futuro apenas para quem é bem saudosista ou para quem quer ganhar dinheiro vendendo os itens vintage.

 

Mas, o que me chamou a atenção sobre os pagers foi saber que na França eles ainda são usados! E nada de questão política ou ideológica, é que tem pessoas que preferem a simplicidade e objetividade do contato por mensagem, com a vantagem de que quem tem o pager não precisa responder: pode ouvir o bip, ler a mensagem e simplesmente não fazer nada. Não precisa continuar o diálogo com outra pessoa, algo impossível com o pager.

 

Se a gente considerar o universo de celulares e a quantidade de habitantes na França, a quantidade de usuários de pagers é pouco expressiva, mas quando a gente descobre que tem 130.000 usuários ativos, isto mesmo, este mundo todo que utiliza o aparelhinho regularmente, é de se espantar com sua receptividade. Mais uma curiosidade sobre os pagers? A empresa que tem estes 130 mil clientes é a mesma que comercializa GPS, que vende bem na França: de um lado a tecnologia avançada dos GPS e de outro a tecnologia ultrapassada dos pagers em uma mesma empresa. Se a gente considerar que negócios são negócios, do ponto de vista comercial fica tudo explicado.

 

Não sei se no Brasil alguém ainda usa pager. Acho que não, em geral somos muito preconceituosos socialmente, em especial quanto ao uso de gadgets e tecnologias que não consigo imaginar alguém sair na rua ou ir a um bar ou restaurante com o seu pager “bipando” em vez de ter um celular! Se bem que, ano passado fui ao interior do RN e encontrei uma loja de celular vendendo aqueles aparelhos “pé duro”, que tem apenas as teclas com os números e nada de Whatspp, internet ou aplicativos: é o telefone-raiz, aquele que é usado para ligar e receber chamadas. Nada mais do que isto.

 

O mundo é disruptivo e as tecnologias mostram que isto acontece cada vez mais rapidamente. Pager por lá no mundo rico e moderno e celular-raiz aqui no interior do RN mostram que as desigualdades existem. Acho que lá compram os pager por teimosia dos franceses enquanto aqui acho que é uma questão meramente econômica; bem que gostaria que aqui também fosse por simples teimosia.

domingo, 22 de setembro de 2024

Clima: culpa das cidades?

 

Hoje começa a primavera e o tema do calor nas cidades e no mundo se aproximará ainda mais nos debates o Hemisfério Sul, onde sofreremos com o aquecimento global e um verão que promete mais prejuízos regionais/globais que serão sentidos nas cidades. Ainda estamos um pouco distante (3 meses parecem muito tempo!?) do nosso verão e, infelizmente, há pouco a fazer até lá para que haja um resultado climático mais complacente com o planeta Terra e com a vida humana.

 

O mundo está neste alerta do aquecimento global já há algumas décadas e os debates promovidos pelo ONU e por dezenas de milhares de ONG espalhadas nos continentes tentam conscientizar a população a fazer algo para evitar catástrofes maiores, que anunciam. Algumas iniciativas são apenas, diria, “fogo de palha”, promovem apenas uma ideia pontual ou um aspecto específico embora tenham contribuído para que a população tome consciência de sua responsabilidade. Outras iniciativas são bem mais efetivas no sentido em que miram os gestores públicos, as autoridades que detém o poder decisório para modificar alguma realidade seja criando medidas preventivas, mudando o aspecto dos gastos públicos seja ainda punindo os infratores e aqueles que agridem o meio ambiente sem perceber o efeito climático. É claro que ainda há os céticos que acreditam quem o mundo se regenerará sozinho, que nada precisa ser feito e aqueles que acham que nada disto existe; eles existem, mas acho que até os céticos estão percebendo que é preciso ser feito algo.

 

Cabe ao cidadão comum duas ações proeminentes: a primeira delas é adotar práticas individuais que contribuam para diminuir o efeito negativo, desde a coleta seletiva à simples observação de escolher produtos menos poluentes ou que tenham maior consumo de energia, e a segunda delas é a escolha do gestor, a opção por alguém que promova ou anuncie políticas públicas efetivas.

 

Não vi o programa eleitoral dos candidatos às prefeituras do RN e por isto o comentário é absolutamente genérico e geral, não visa promover nem criticar este ou aquele candidato, este ou aquele partido ou perfil político. Mas é que poderíamos avaliar, incluir no fator decisivo do voto, as propostas para melhoria da cidade além das questões básicas de saúde, educação, transporte, habitação etc para também avaliar a questão da responsabilidade ambiental nos programas de governo. Exemplificando, apoiar propostas de arborização dos centros urbanos, da criação de praças/parques urbanos, da modificação do perfil de consumo de energia nos prédios públicos, do planejamento dos prédios públicos com uso (mínimo, diria!) de conceitos arquitetônicos que facilitem e diminuam os gastos em energia ou ainda do planejamento urbano na criação de rotas de ônibus (diminuir, por exemplo, o tempo de circulação de cada linha) ou da construção e expansão dos bairros etc. Há muitas propostas que poderiam ser implementadas, das mais simples e objetivas àquelas mais custosas, sem esquecer aquelas que demandam engajamento dos servidores públicos e da população.

 

Não é tarefa fácil, mas pode começar por algumas iniciativas. E também não se trata de todo mundo ser radicalmente ecológico ou totalmente verde, ainda que seja um verde mitigado, um verde meio desbotado. É possível que cada candidato mantenha seu perfil ideológico sem esquecer que é nas cidades que vamos sofrer cada vez mais com os efeitos climáticos. Em um mandato de 4 anos não se consegue fazer tudo, mas é possível fazer muita coisa; o que não pode, eu acho, é deixar para pensar neste planejamento somente depois de iniciado o mandato pois, se demorar muito para fazer algo a única mudança talvez seja preparar o programa de governo para o próximo mandato...

sábado, 21 de setembro de 2024

A hierarquia na cidade

 Quem gosta de estudar geografia urbana, desenvolvimento urbano ou política pública, por exemplo, acompanha algumas realidades socioeconômicas sobre as cidades, evolução, tendência e interação com cidades vizinhas. De forma mais simples, seria a hierarquia das cidades, mas no sentido de dependência de uma cidade da outra, não no sentido de uma cidade comandar (politicamente) a outra; ou, de outra forma também simplificada, a dependência que uma cidade tem de outra.

 

Isto aparece de forma bem enfática quando temos uma cidade de médio ou de grande porte e por perto temos cidades menores com pouca expressão econômica e baixa geração de empregos: as pessoas desta cidade menor fazem suas compras principais (e mais caras) nas cidades maiores (que oferecem mais serviços e comércios) ou trabalham em uma cidade e retornam para casa ao final do dia. Esta é uma forma de hierarquia das cidades que acontece aqui no Brasil e no mundo inteiro. Aliás, para quem se interessar por este conceito e tiver interesse em saber em que ponto está sua cidade, o IBGE tem um mapa colorido e com muitas setas, o Regic.

 

Esta hierarquia das cidades é clássica, e estudada. Mas, nem sempre a hierarquia NA cidade merece o mesmo aproveitamento e o mesmo volume de pesquisas e estudos. E deveria, pois quando estamos neste período eleitoral há várias propostas para “melhorar a cidade”, oferecer produtos e serviços em muitos bairros, uma forma de diminuir a dependência do outro bairro, de uma centralidade – no caso de algumas cidades, são várias centralidades. Aqui em Natal temos um duelo histórico entre “o outro lado” e, nem sempre lembrado, mas “este lado”, a cidade meio dividida por um rio e que determina que a Zona Norte é “o outro lado” enquanto o restante da cidade é... a cidade, ninguém chama de “este lado”!

 

Esta divisão foi, e ainda permanece em algum imaginário social, decorrente do domínio econômico que existia em Natal nas Zonas Leste, Oeste e Sul, juntas, com a Zona Norte desfavorecida de muitos serviços públicos e com baixo desempenho na geração de empregos, criando uma dependência daquela Região. Hoje mudou muito mas, quando vemos todos os dias os engarrafamentos nas pontes “velha” e “nova” não temos como esquecer desta hierarquia.

 

E isto é ruim. Para todos, na cidade. Esta concentração urbana ou algum domínio de centralidades urbanas provoca estes engarrafamentos (com eles, a poluição aumenta) e a perda de tempo dos cidadãos que passam longas horas por semana no carro ou no ônibus, um tempo dedicado quase exclusivamente ao deslocamento. Um tempo perdido que poderia estar sendo utilizado para estudar, passear, aproveitar as coisas boas da vida, estar em família etc.

 

Temos em Natal, como em outras cidades do RN, muitas hierarquias nas cidades. Alguns gestores e alguns candidatos compreendem isto e conseguem pensar a cidade em todo o seu contexto, não apenas em ideias soltas de criar isto ou aquilo aqui ou ali sem pensar no impacto social e nas mudanças que afetará a cidade e seus habitantes. O desafio de gerenciar uma cidade não é fácil e tanto quanto maior o descompasso da gestão municipal com a cidade em todos os seus aspectos, teremos um populismo desenfreado a inaugurar prédios públicos e depois pensar nas consequências

 

É bem verdade que é impossível ter uma cidade homogênea, sem hierarquias internas. Mas, poderia haver menos disparidades e maior integração entre/com seus habitantes. Um sonho, esta cidade mais ideal? Prefiro achar que é um desejo, ainda que sem prazo de validade.