sábado, 31 de agosto de 2024

Voleibol em Currais Novos, um evento

 

Neste final de semana está acontecendo e grande evento na cidade de Currais Novos, a 28ª edição da Copa Jorge Guimarães, uma competição de  voleibol para jovens e adolescentes de 7 estados do Nordeste. Alguns números impressionam: cerca de 2 mil atletas e outras de 2,5 mil pessoas envolvidas, das quais 400 técnicos e 60 árbitros. No total são quase 6.000 mil pessoas atuando diretamente neste final de semana em um evento.

 

Aliás, um senhor evento! Um evento, diriam alguns, “simples”, pois um evento esportivo que não ganhou a merecida repercussão. Mas, é um evento que contar com a participação e de reunião de muita gente de diversas cidades e estados como também um final de semana que marcará a cidade de Currais Novos por projetá-la no mapa de muitas pessoas (pessoas de fora, que provavelmente não conheciam a cidade nem seu potencial turístico se não fosse a competição) como também pelo envolvimento com a economia local.

 

É claro que a cidade com seus equipamentos turísticos (hotéis, pousadas, restaurantes etc) não consegue acomodar 6.000 pessoas em um único final de semana. Mas, com uma organização eficiente de acomodação, incluindo espaços escolares, e de logística, a cidade está com plena capacidade de atender todos. E isto é muito bom, muito positivo, para demonstrar que um planejamento efetivo é capaz de solucionar situações diferentes e excepcionais; aliás, em Currais Novos não é o primeiro evento de grande porte que acontece – como deve ser – “normalmente”.

 

Há também uma dupla lição para outras cidades, em especial as de médio porte do RN: primeiramente, que é possível movimentar a economia da cidade e envolver um grande número de pessoas ao promover eventos que estão fora no cenário nacional ou dos chamados megaeventos que muitas entidades e organizações estão “disputando” para ser sua sede; em seguida, que não somente os shows ou as datas tradicionais (emancipação, padroeira etc) que conseguem atrair novos visitantes, há outros segmentos e atividades que devem/podem ser valorizadas.

 

Todas as oportunidades devem ser privilegiadas quanto trata-se de “promover a cidade” e de fazer uma divulgação, o marketing indireto: uma boa recepção e uma boa capacidade de atendimentos podem resultar em um marketing positivo e transformar o visitante do final de semana, que está na cidade por uma única causa (o evento), em um turista que trará sua família e/ou que passará mais dias. Para isto é sempre válido ter um material a ser apresentado aos participantes do evento, uma demonstração de curiosidades e pontos turísticos que estimulem uma nova visita.

 

Mas, neste grande evento em Currais Novos é importante destacar a iniciativa (não sei quem “captou” ou evento para a cidade) e a valorização das cidades de nosso RN. Podemos e devemos ter muitos outros como este e, talvez tenhamos muitos espalhados em outras cidades e eu não tenha conhecimento e, acredito até, por uma divulgação de menor abrangência, às vezes meramente local e de cidades vizinhas, quando deveria ser mais do que regional, deveria ser de conhecimento de todo o RN. Este que seria um turismo de evento, como alguns decidem chamar, é tão bom e importante quanto vários outros. Parabéns aos organizadores e à Currais Novos!

sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Mubadala em energias

 

O maior fundo soberano (aquele que pertence a um país) com investimentos no Brasil deve ser o Mubadala, dos Emirados Árabes Unidos. Desde 2012 investe no Brasil e recentemente anunciou que pretende investir cerca de novos R$ 68,5 bilhões. É muito dinheiro! Talvez para o fundo soberano daquele país seja apenas uma pequena parte de sua capacidade de investimento mas, para uma única empresa é um sólido investimento, ou seja, uma capacidade de gerar recursos suficientemente robustos para esperar que o resultado do investimento de hoje traga um retorno financeiro a médio ou longo prazos.

 

Aqui no Brasil já somam quase R$ 32,0 bilhões os valores aplicados pelo fundo Mubadala. E, apesar se sua origem ser um grande produtor e exportador de petróleo, os investimentos aqui são bem diversificados: academia, metrô, estradas, educação, rede de fast food etc, sem esquecer usinas de álcool e refinaria de petróleo. Esta, diria, dispersão de investimento deve ter uma lógica bastante simplificada, o retorno sobre o capital investido ou, em outras palavras, um bom lucro em relação às valores aplicados.

 

Mas, claro, deve também ter alguma outra lógica nesta estratégia tão distinta: o volume de negócios e o mercado de uma rede de academia são bem diferentes do gerenciamento de metrô no Rio de Janeiro. Não consegui identificar alguma sinergia entre os diferentes tipos de investimento para entender qual seria esta lógica e por isto me vejo obrigado a imaginar 2 conclusões iniciais: a primeira, de que o que move mesmo a escolha do fundo Mubadala é o retorno do investimento e a segunda é que não há “preconceito” nem limite para investimentos em outras áreas.

 

É nesta segunda razão que acho pode haver alguma expectativa de termos o fundo Mubadala com investimentos no Nordeste e, quem sabe, no Rio Grande do Norte. Curiosamente, não investem em energias renováveis e talvez o motivo seja uma questão de ideal, pois se dependem do petróleo no país não haveria sentido em investir na “concorrência”, as energias renováveis. Mas, considerando que negócios são negócios, quem sabe um dia teremos uma boa surpresa?

 

Seria muito interessante se o Brasil conseguisse convencer o fundo soberano a investir em duas atividades distintas mas, de alguma forma, complementares: aviação civil e turismo. Bem que poderiam comprar uma das nossas empresas aéreas em dificuldade e investir em uma rede de hotéis (e nem precisava ser nova, poderia simplesmente comprar alguma existente ou adquirir o direito de novas franquias). Seria muito bom para o Nordeste e especialmente para o RN. Alavancaria, de forma muito expressiva, o nosso turismo e daria um novo salto, mais ou menos parecido quando aconteceu há cerca de 1-2 décadas quando recebemos muitos investidores turísticos no RN, quando Pipa apareceu de forma exponencial na mídia e nos mercados emissores de turistas europeus.

 

Não tenho nenhuma ideia se um dia Mubadala chegará aqui perto de nós. Mas acho que seria uma boa oportunidade, uma boa notícia para ilustrar o noticiário do RN. Ficar, então, na torcida.

quinta-feira, 29 de agosto de 2024

A arte de mentir

 

A tal da arte de mentir, convenhamos, é uma dupla mentira: primeiramente pelo fato de que uma mentira não é uma arte, é um inverdade que pode ser apresentada de forma tosca, direta ou repaginada para enganar um ou enganar muitos, e depois pelo fato de que embora arte possa ser configurada como todo expressão humana, ela jamais foi imaginada desta forma, com o propósito de iludir, de criar uma ilusão propositalmente para enganar as pessoas (a arte no modo clássico seja de forma abstrata, figurativa etc é apresentada explicitamente como representação de um ponto de vista, não uma mentira para enganar as pessoas).

 

Digo isto pois estamos em período eleitoral e vamos escutar muitas promessas e também muitas afirmações do que “eu fiz certo” e que o opositor fez de “errado”. A arte jornalística criou seu próprio jargão ao repetir continuamente a expressão “fake ou fato”. É bem verdade que escutaremos coisas meio absurdas, a começar pelas críticas aos opositores, de mentiras deslavadas, mesmo, à pequenos erros por falta de dados ou de informação adequada. E vamos também escutar muitas promessas e é aí, infelizmente, que teremos um grande arsenal de mentiras apresentadas! Devemos, claro, excluir aquelas propostas que podem parecer diferentes ou até dificilmente realizáveis mas que não se tratam necessariamente de uma mentira, pode ser uma grande pretensão, uma intensa ilusão ou um ideal perdido e completamente fora da realidade.

 

Por isto (também) não consigo visualizar na campanha política um domínio do que seria a “arte de mentir”. Como em qualquer tempo e local, encontraremos mentirosos e mentiras, perto da gente, um pouco mais longe ou em outros países e, independentemente de ser período eleitoral. “Faz parte”. Por outro lado, acho até interessante algumas ideias que aparecem mesmo se à primeira vista parecem fora do contexto pois, podem estar apenas muito avançadas para o momento ou pode ser ainda muito cara hoje, e amanhã com novas tecnologias podem tornar-se viáveis. É claro que temos que ter o bom senso para distinguir ideias “sem pé nem cabeça” (tal como prometer que todo mundo poderá passear na Lua) com outras mais ousadas (tal como garantir acesso livre e irrestrito à alimentação, saúde e educação em patamares de qualidade, de excelência).

 

Acho que por estas contradições e também pelas inovações que surgem a cada campanha eleitoral é um dos motivos que me faz gostar de assistir aos programas partidários-eleitorais e de ver as propagandas que aparecem por aí. Nesta eleição estou bem “atrasado” em relação às demais, vi poucas coisas, li quase nada de propaganda mas, nada que o mês de setembro chegando e eu não me “recupere” deste compromisso particular. Diga-se de passagem, já escolhi meus candidatos e como tenho apenas um voto para o cargo de vereador, estou na torcida para que outros (bons) candidatos consigam seus votos. A pluralidade é importante e interessante mas temos que pensar em “colocar” candidatos sérios e com boas propostas ou até mesmo uma única boa proposta pois, se uma única ideia for suficiente válida e boa para a população, já é um avanço para a nossa democracia.

 

A “arte de mentir”, existe? É pura mentira! Existe arte, existe mentira e existe política e políticos. Cada um no seu quadrado e a cada um de nós de não sermos, como se dizia antigamente, “arteiros”.

quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Viçosa existirá em 2070?

 

Semana passada o IBGE apresentou estatísticas da evolução da população brasileira e demonstrou sua indicação e projeção do que deveria acontecer nos próximos anos: o Brasil está envelhecendo e em algumas décadas a população de idosos será maior do que a população de jovens. Todos nós já percebemos que há um envelhecimento da população nacional e também percebemos que encontramos menos pessoas passeando com crianças ou até mesmo menos pessoas (jovens) que anunciam casamento & filhos; basta a gente sair na rua, por exemplo, em bancos e shoppings, para perceber que aquela “fila de prioridades” ou “fila de idosos” tem sempre um movimento, não fica tão “vazia” quanto há algum tempo.

 

A legislação nacional até avançou neste tempo e se antecipou ao envelhecimento populacional: temos uma regra de prioridade para os idosos com mais de 60 anos e temos a prioridade da prioridade, aquela que é referência para quem tem mais de 80 anos: em outras palavras, quem tem seus 80 anos poderá “furar” a fila dos idosos e passar na frente de que tem “apenas” seus 75 anos.

 

Há vários problemas para enfrentarmos e precisamos conhecer as experiências internacionais, principalmente na Europa. Ou teremos nosso caos de todo dia do mesmo jeito ou mais agravado penalizando os mais idosos: há a questão da aposentadoria e seu custo e a questão da idade para aposentadoria sem falar nos custos de saúde e de um mercado que deverá criar condições de adaptabilidade às terceira e quarta idades. É pura realidade em alguns lugares, em alguns será aqui também.

 

Mas, gostaria de fazer outra abordagem desta questão numérica e demográfica: como ficarão as pequenas cidades nos anos 2070? Haverá população “suficiente” para que a cidade mantenha-se ativa e, mais ainda, economicamente viável enquanto gestão pública?

 

Explico: o antigo chamado êxodo das pequenas cidades continua, embora mais lento, acontecendo para as cidades de médio/grande porte e em geral para ter melhores oportunidades educacionais e de emprego. Com o envelhecimento da população esta migração tenderá a continuar ou se ampliar mas, por motivos diferentes: saúde. As pequenas cidades terão condições de oferecer serviços para os mais idosos e de forma descentralizada? Do setor privado não podemos esperar que façam investimentos importantes nas pequenas cidades, já não é rentável hoje e será menos ainda para os serviços de saúde dos idosos. E do setor público também não se pode esperar uma grande disponibilidade de recursos para oferecer serviços, inclusive novos (fisioterapia, fonoaudiologia etc), nestas cidades. Um dilema, portanto.

 

Se hoje os jovens já aprenderam que sair de uma cidade pequena é possível e viável, quando alcançarem a terceira idade e perceberem que terão 1, 2 ou décadas pela frente sem os serviços básicos de saúde na cidade onde estão, continuarão a morar no mesmo lugar? Ou será uma nova migração?

 

E se você preferir, já considerando a queda prevista com o envelhecimento da população e somando com um provável novo ciclo migratório, como ficarão as pequenas cidades. Pensando aqui no RN, daqui a 20 ou 30 anos, qual será a população de Viçosa? Subsistirá ao tempo? Subsistirá ao tempo de vida das pessoas?

terça-feira, 27 de agosto de 2024

Contribuintes ativos (2)

 

Ontem comentei sobre o número de empresas ativas no RN que são contribuintes de ICMS. Mencionei que eram 136.051 em 31/12/2023 e 124.031 em 31/12/2022. Agora, acrescento os dados para 31/12/2021 quando havia 102.119 empresas registradas (e ativas). O saldo para estes três anos, isto é, a diferença entre empresas novas e empresas que encerraram suas atividades foi um acréscimo de 33.932 na base de contribuintes, um expressivo aumento de 33,2%.

 

Quando comparamos a arrecadação do ICMS também constatamos um aumento: em 2021 a receita fechou em R$ 5,8 bilhões, passou para R$ 7,2 bilhões no ano seguinte encerrou 2023 com R$ 8,2 bilhões, uma variação positiva de 40,6%.

 

Algumas constatações são possíveis com estes números, mas devemos relativizar alguns dados. Primeiramente, o crescimento de receita e arrecadação após a saída do Covid foi bastante elevada e muito compreensível, afinal o mundo, o Brasil e claro o RN foram muito prejudicados em sua economia. Por isto, a comparação 2023/2022 seria mais pertinente: + 14,2% na arrecadação do ICMS. Ora, o número de empresas entre 2023 e 2022 cresceu 9,7%, ou seja, arrecadou-se mais ICMS do que houve empresas no mercado: isto significa que as empresas que permaneceram no mercado em 2023 além daqueles novos investimentos apresentaram um faturamento melhor e maior e são, portanto, empresas mais “rentáveis” do ponto de vista da tributação. Aspecto negativo pode ser que isto se explique pelo aumento dos preços de insumos básicos (energia e combustível) e tenha gerado inflação, mas aspecto positivo pode ter sido simplesmente a expansão do mercado para as empresas do RN. Somente uma depuração detalhada dos dados nos esclareceria qual destes fatores foi preponderante, visto que as duas coisas ocorreram.

 

Mas, há outra variável importante a avaliar. Em 2021 eram 12.715 empresas no chamado “regime normal de tributação”, passando a 12.245 no ano seguinte e chegando a 17.707 em 2023. Neste período uma variação positiva de 4.992 empresas, ou 39,3% de aumento. É este universo de empresas que aporta a maior contribuição para o Governo do Estado em termos de ICMS. Quando a gente compara o aumento da quantidade destas empresas entre 2012 e 2023 temos um crescimento na base de 39,3% e quando vemos a evolução do ICMS temos um aumento de 40,6%.

 

Incontestavelmente as empresas no Simples Nacional e MEI têm uma importante contribuição para o crescimento econômico, desenvolvimento social e geração de emprego e renda diretamente para a população. Mas, para fazer face às despesas da Administração Pública, do Governo do Estado, o esforço de arrecadar mais está centrado nas empresas com regime normal de tributação. Aliás, aqui no RN e em todo o Brasil. Devem ser continuadas e melhoradas as políticas públicas de estímulos aos empresários, sobretudo àqueles de micro e pequeno porte mas não se pode deixar “sozinhos” no mercado as médias e grandes empresas.

 

Vale repetir: são mais de 75 mil MEI e quase 18 mil empresas no regime normal de tributação. São complementares para o RN, ainda que em diferentes situações de vendas e de pagamento de ICMS. E, quanto mais contribuintes, melhor para nossa economia; e não fará mal algum se o maior aumento de contribuintes estejam classificados no “regime normal”. O RN ganhará.


PS: São comentários "numéricos", nenhuma interpretação ou avaliação sobre o aumento ou não do ICMS. A ideia foi simplesmente de comparar a base de empresas e sua contribuição na arrecadação; outras interpretações além disto são estranhas ao propósito deste texto.


segunda-feira, 26 de agosto de 2024

Contribuintes ativos (1)

 

O Rio Grande do Norte chegou em 31/12 de 2023 com 136.501 contribuintes ativos de ICMS, ou seja, são as empresas que estão ativas (ou pelo menos não foi declarada sua “inatividade” formal) e que pagam este tribo ao Governo do Estado. Há mais empresas no RN do que estas mas, são aquelas que não pagam tributos (cooperativas ou associações que não comercializam produtos ou ainda aquelas que são exclusivamente prestadoras de serviços e por isto pagam apenas o ISS, que é municipal). Portanto, o RN tem um número maior de empresas com seus CNPJ mas, se a gente considerar apenas a arrecadação de tributos vinculados à sede da empresa (imposto estadual ou municipal), é para estas 136.501 que devemos prestar atenção na sua movimentação, no que fazem e como esta quantidade aumenta ou diminui.

 

Um primeiro comparativo importante é a evolução em 2023 em relação à 2022 (na mesma data, ou seja, 31/12 de cada ano): se 2023 terminou com 136.501 empresas contribuintes de ICMS, no ano de 2022 este número era de 124.031. Fazendo as contas a primeira impressão que fica é que foram abertas 12.020 ao longo do ano de 2023 mas, na verdade, este é o saldo, isto é, o resultado líquido entre as empresas que fecharam (foi dada a “baixa” do registro) e as que foram abertas. O aumento – deste saldo líquido – não deixa se ser significativo: + 9,7%

 

Mas, precisamos avançar mais um pouco sobre estes números. É que das 136.501 empresas ativas muitas delas não pagam ICMS ou recolhem valores quase irrisórios ou menos expressivos, quando comparadas às demais empresas. Estamos falando dos MEI, em que o valor do ICMS é – diria – meramente simbólico, mas também das empresas que estão enquadradas no Simples Nacional e que gozam de uma tributação diferenciada que faz com que o ICMS no final do mês seja bem menos impactante nos negócios (são empresas com faturamento relativamente mais baixo e que têm uma simplificação na sua contabilidade além de uma maior simplicidade no recolhimento dos tributos; é uma forma de incentivar as pequenas e médias empresas no forte mercado concorrencial).

 

Vamos começar com o ano de 2023: havia 75.156 MEI (55,2% do total) e 32.990 empresas no Simples Nacional (24,2% do total). E apenas 17.707 (13,0% do total) no regime de tributação chamado de “Normal”. Em resumo, somadas MEI e Simples Nacional, 79,5% da as empresas do RN pagam pouco ICMS!

 

Comparando com o ano de 2022: eram 68.270 MEI (55,0% do total) e 33.980 empresas no Simples Nacional (27,4% do total). E apenas 12.245 (9,9% do total) no regime de tributação chamado de “Normal”. Em resumo, somadas MEI e Simples Nacional, 82,4% da as empresas do RN pagam pouco ICMS!

 

A primeira constatação é que a carga tributária fica sob a responsabilidade de um pequeno universo de empresas. Portanto, para a imensa maioria das empresas do RN aumentar ou não o ICMS não as afetará – de forma imediata – já que pagam pouco ICMS; o efeito, é claro, ocorre, mas de forma indireta. Amanhã comento mais sobre estes números.

domingo, 25 de agosto de 2024

Temos petróleo no RN

 

Temos petróleo no RN e, ao que tudo indica, por mais algumas décadas de exploração e beneficiamento, apesar de todo o movimento em favor da descarbonização da economia, em especial aquela automotiva, com poluição diária e constante em todas as cidades; não temos no RN uma produção industrial muito “carbonizada”, a maior parte do consumo de energia nas indústrias utiliza a energia eólica ou fotovoltaica do Estado, visto que produzimos muito mais do que consumimos. Ainda devemos ter indústrias consumidores de óleo diesel para movimentar seus equipamentos mas acho que este impacto do setor industrial é residual em relação ao montante da energia consumida (há um impacto negativo muito maior no setor industrial que utiliza a lenha como fonte energética).

 

Nossa indústria é mais consumidora de gás natural, um combustível fóssil com ainda grande potencial de consumo no Estado, os gasodutos que saem de Guamaré e seguem para o Ceará e Pernambuco “passam” por grandes indústrias do RN. O horizonte na mudança deste perfil de consumo demorará um pouco.

 

Nesta semana tivemos um anúncio de um projeto piloto da produção de energia a partir de hidrogênio verde. A ideia é que em 2027 esteja pronto o chamado “piloto” ou, como preferem alguns leigos, simplesmente uma “experiência”. De fato, o acordo firmado diretamente entre empresas (ambas de capital internacional, Bélgica de um lado, e China do outro) é apenas para a experimentação de um projeto de uma usina de produção de hidrogênio verde; o investimento anunciado foi de R$ 44 milhões, valor que não chega nem perto dos custos de projeto e licenciamento de uma plena indústria de hidrogênio verde para abastecer o mercado ou um grande consumidor. É um começo, um bom começo.

 

Mas, voltando ao título, sim, temos petróleo no RN. Esta economia “carbonizada” ainda resiste e persiste em todo o mundo e não é diferente aqui em nossa terrinha. Os investimentos na indústria do petróleo/gás continuam elevadíssimos e o retorno do investimento continua sendo extremamente atrativo. O mundo está em fase de transição e há cada vez mais políticas indutoras para a redução do uso de energia fósseis. Estamos no Brasil criando ideias e ideais e buscando alternativas para fazer acontecer grandes investimentos, via setor privado. Não é fácil investir em energias renováveis novas, como o hidrogênio (verde, branco ou cinza), e tem sido um desafio global: é que a tecnologia está em forte expansão e os parâmetros de investimento mudam rapidamente: a realidade para produzir hidrogênio muda bastante a cada 6 meses. O desafio é contínuo.

 

Na divulgação da projeto-piloto entre as empresas CPF e Mizu uma representante de entidade (acho era a Associação Brasileira de Hidrogênio Verde) celebrou o começo de uma resposta que, como ela afirmou, está sempre buscando: quando haverá a primeira nota fiscal de venda de hidrogênio verde? Em princípio, como foi informado pelas empresas, em breve, no ano de 2027; ainda que seja em um projeto embrionário, experimental.

 

Até lá continuaremos a ter petróleo no RN com sua exploração/beneficiamento e sua extensa cadeia produtiva envolvida nestes negócios. A transição energética é essencial, mas o ritmo econômico da “conta a pagar” ainda está ditando as regras. A primeira nota fiscal foi prometida para 2027 mas, para as demais nem a Mizu nem a CPFL detalharam o calendário. Portanto, aguardar com toda a atenção merecida pelo novo hidrogênio potiguar.


PS: Antigamente se chamava "pré-teste" depois em tempos mais modernos, todo negócio tem seu MVP mas o mais importante, principalmente em novos mercados, é começar o projeto, ainda que seja um piloto; o anúncio, certamente, atrairá novos interessados no mercado!

sábado, 24 de agosto de 2024

Ideias boas, conselhos ruins

 Não sou muito fã das palestras, seminários, livros etc quando a temática é (como ficou batizada) a autoajuda. Reconheço que é um mercado muito importante e muito valioso, tem muita gente ganhando (muito) dinheiro querendo ensinar as pessoas que a simples leitura de um livro ou a participação em uma palestra será capaz de mudar a vida de todo mundo. Não é bem assim, sabemos todos nós, mas muita gente continua a acreditar na história e, às vezes, acho até, na anedota.

 

Como não sou adepto destas teorias – se funcionassem tão facilmente o mundo seria muito melhor já há muito tempo – não compro tais livros, não sei nem quem são os tais influenciadores da autoajuda e nem participo de seminários ou algo parecido em que o foco está no “mudar ao escutar” ou “mudar ao ler”. Comparo às vezes, e tenho certeza haverá críticas, ao interesse que alguns concedem ao horóscopo e passam a acreditar na sorte lançada em poucas palavras para definir como será o dia; muita gente lê no início do dia, ao final já nem lembra mais se foi exatamente como “previsto”.

 

Costumo chamar alguns destes momentos de “ideias boas, conselhos ruins”. É que as histórias são contadas com tanta facilidade, com tanta ênfase e tão repleta de exemplos pessoais que a lição moral ao final é algo como “se você fizer igual, tudo mudará e você ficará melhor”. Por isto entendo que as ideias são boas, pelo simples fato que funcionaram com alguém, principalmente o autor ou palestrante, mas os conselhos são ruins pois não há como replicar exatamente um comportamento para outra pessoa. Se tudo isto funcionasse como prometido seria puro mimetismo. Há sempre a lembrar aquela velha piada: “se você ficar triste, eu fico triste, se você ficar feliz, eu fico feliz; por favor, fique rico!”

 

Não discordo que os bons exemplos e as boas histórias são inspiradoras mas raramente são transformadoras para quem apenas escuta. Quando participo de uma tarde de palestras ou um dia inteiro de boas histórias tenho – acho – a mesma sensação de muita gente, de que a boa ideia ou a boa história do começo do evento já ficou para trás e foi superada pela mais recente; e, no máximo, ultrapassa os 30 minutos depois que tudo acaba e que voltamos à realidade do barulho, do movimento, do trânsito etc e das dificuldades. O mundo real é maior do que o livro ou um dia inteiro de palestras. A gente consegue fechar o livro e abrir na página que quiser, a gente consegue memorizar um momento qualquer da palestra mas, o mundo não conspira ao nosso favor na mesma exatidão da autoajuda que acabamos de ouvir ou ler.

 

Não sou cético dos bons exemplos! Pelo contrário, entendo que são essenciais para nos ajudar a pensar no nosso futuro. Não sou cético quanto à felicidade e à possibilidade de mudar de verdade sem ter que passarmos por um trauma, uma dor ou uma situação constrangedora. Acredito muito nas boas histórias e acho sensacionais cada vez que escuto uma delas. Mas acho que são pessoais, personalíssimas.

 

Recentemente fui a um evento com um palestrante com boa dicção e encadeamento das propostas. As ideias apresentadas eram boas. Achei interessante. Depois, saí, fui entrei no carro, e enfrentei o trânsito, fui ao supermercado, enfrentei a conta no caixa. E pensei: como estava bem naquele momento ouvindo coisas interessantes. E pensei: se todo mundo estivesse lá, mas todos mesmo, quem sabe algo mudaria; e nem mais haverá necessidade de ver os livros de autoajuda nas livrarias (e na internet). Isto seria não uma autoajuda, mas uma alta ajuda, e a todos.

sexta-feira, 23 de agosto de 2024

Um Câmara de Natal elitizada?

 

Do ponto de vista estatístico temos uma probabilidade de eleição igual para todo os candidatos a vereadores e portanto, todas as combinações matemáticas são possíveis. A probabilidade, portanto, de visualizarmos como eleitos apenas os candidatos que começam com as primeiras letras do alfabeto é a mesma daqueles que começam com as últimas letras (claro, considerando que haja o mesmo número de um lado e do outro). Friamente, numericamente, de forma aleatória, a probabilidade de eleição de “Maria” é a mesma de “João”. Mas, como números são números e não existem na vida real, são uma criação humana para simplificar (e como simplificam!) nossa vida, esta frieza não é reflexo da realidade.

 

Admitamos por um momento que todas as probabilidades de eleição sejam iguais. Poderíamos ter, então, uma Câmara Municipal de Vereadores 100% elitizada. Isto mesmo, pois como são 29 vagas, temos candidaturas que expressam uma elite universitária, pelo menos do ponto de vista da formação acadêmica, visto que concluíram cursos superiores e estão atuando na profissão (sempre vale a ressalva que não é uma discriminação contra qualquer profissional ou profissão mas, o acesso aos cursos universitários ainda não alcança a totalidade dos brasileiros; infelizmente).

 

Em Natal temos 19 candidatos abertamente declarados da área educacional, 11 da área médica e ainda temos 16 que se identificam por sua religião. Na educação são 18 professores e 1 instrutor e na saúde são 10 doutores (um é mais especialista na denominação, pois identifica-se como oftalmologista), 1 médico-veterinário, 1 odontólogo e 3 enfermeiros. E com a religião temos 8 pastores, 4 missionários, 3 “irmãos” e 1 padre.

 

E olhe que estou falando apenas daqueles que fizeram questão de colocar uma destas identificações como o nome oficial da campanha, portanto o nome que aparecerá em toda a propaganda eleitoral e o nome que estará na urna eletrônica. Há outras candidaturas associadas à área de alimentação, prestadores de serviços, vinculados à localidade etc mas achei que estes da educação, saúde e religião são os mais expressivos, numericamente falando.

 

Certamente há uma duplicidade intencional na escolha: a mais óbvia deveria ser a forma de o público reconhecer a pessoa, o “Dr.” ou o “Professor” ou o “Pastor” mas acho que a intenção é mais com a finalidade de conquistar o eleitor que votaria em um médico, professor ou pastor pelo simples fato de gostar da área médica, educacional ou religiosa; é, acredito, uma expectativa do eleitor sem candidato que acha que escolher pela profissão significaria a qualidade do voto. Posso estar enganado, ou parcialmente enganado e aliás, até gostaria.

 

É que o ideal seria o eleitor escolher o candidato não por sua profissão ou sua área de atuação, mas por seu trabalho, por sua ética (pessoal e profissional) e, mais ainda, pelas propostas que defende para melhorar a cidade e a qualidade de vida do cidadão, ou seja, do próprio eleitor. No mundo inteiro temos eleições personalistas, vota-se pela pessoa, mas na maioria das vezes associa-se a pessoa aos seus ideias e suas propostas, enquanto aqui continuamos a votar pela pessoa em si (e ainda tem a justificativa do voto: “gosto dele”...). Uma pena!

quinta-feira, 22 de agosto de 2024

E agora, Mossoró?

 

A pergunta poderia ser também, “quem quer viajar de avião para/de Mossoró?”. A notícia da Voepass com a anulação (dita como meramente temporária) de sua ligação para Mossoró nem deixou muita surpresa, depois do cancelamento de voos para Fernando de Noronha, que é um mercado bem mais rentável do que outros destinos. Agora foi a vez da Azul anunciar que em breve reduzirá sua oferta de voos, não sendo um cancelamento do destino mas, como foi informado, uma readequação em função de demanda, com a restrição para quatro voos semanais.

 

Há uma causa ou uma motivação comum a estas duas empresas e estes dois anúncios, ainda que mais visível a questão da Voepass que com o recente acidente perdeu capacidade de oferta de voos em sua programação normal. O traço comum é que a demanda não é das melhores e o preço cobrado pela passagem não pode aumentar muito para não diminuir ainda mais a ocupação das aeronaves.

 

Não faz muito tempo tivemos a notícia de vários cancelamentos de voos e aparentemente o motivo era a baixa demanda mesmo; era mais barato pagar ônibus, táxi ou carro para levar os passageiros que haviam comprado a passagem do que bancar o custo do voo, de ida e de volta. É uma questão de matemática, de somar “um mais um” e de registrar qual é o menor prejuízo. Parece que a Latam/Voepass não precisou fazer muitas contas quando houve tantos cancelamentos.

 

A aviação regional é um problema aqui e em muitos lugares, em muitos países. Bem que em alguns lugares da Europa a questão é o custo ambiental de voos curtos quando a opção terrestre (ou por trem) pode resolver o problema do deslocamento sem causar muito impacto ambiental (o querosene de aviação é o combustível mais poluente de todos, ou pelo menos bem mais do que o diesel de caminhões). Aqui é uma questão de demanda.

 

E Mossoró não escapa deste dilema de demanda. Será que há tanta gente mesmo querendo viajar de/para Mossoró de avião? Vale lembrar que é uma cidade que não tem turismo regular, a demanda turística é apenas quando tem algum evento. Não vale também dizer que a culpa é da saída da Petrobras da cidade, senão quanto ela estava por lá teríamos muitos e muitos voos regulares; e não houve.

 

O custo de manutenção do aeroporto em Mossoró é alto. Já foi transferido para a Infraero para diminuir os gastos das estaduais mas, de qualquer forma, é mantido com tributos. Ainda que as despesas possam ser reduzidas, os custos de manutenção da pista e dos equipamentos de segurança dificilmente são cobertos apenas com a taxa de embarque. A conta é desigual, bem desigual.

 

E agora, Mossoró? Com a saída da Voepass e a redução de voos da Azul será que há o risco para o aeroporto? Por quanto tempo a operação deficitária poderá ser mantida pela Infraero e, se for o caso, também pelas empresas? Se a lei do mercado é uma junção da oferta com a demanda, qual poderiam ser as ações para que a demanda volte a impulsionar a oferta de voos e de assentos? A ação política, acho, já chegou a seu ápice. Agora é pura questão de mercado, de estratégia empresarial; quem do setor privado encampará novas propostas para aumentar a demanda?

quarta-feira, 21 de agosto de 2024

Qual a validade de um buraco?

 

Faço esta pergunta meio estranha baseado, como dizem alguns filmes, em “fatos reais”. Há alguns dias que tem um buraco na faixa de pedestres no Alecrim, em um cruzamento bastante movimentado. Nada muito extenso mas o suficiente para uma moto levar um queda ou um susto ou ainda um pedestre machucar-se. Parece comum e simples, como acontece em várias ruas da cidade. E é isto mesmo, algo tão comum que passou alguns dias do mesmo jeito; ou quase.

 

Há outro fator inusitado, mas antes vou comentar sobre o buraco. Primeiro colocaram dois pneus, uma na vertical e outro na horizontal, para sinalizar de longe que havia um problema na rua. Depois, tiraram os pneus e não colocaram nada. Depois, colocaram alguns galhos no buraco e na altura da rua dava para ver as folhas. Mas, como as folhas foram várias vezes “atropeladas”, não ficou mais nada. Exceto, claro, o buraco.

 

O inusitado, o curioso, é que todo dia de manhã tem dois agentes da STTU atuando na avenida, e ficam a menos de 10 metros do buraco, das plantas e dos pneus! Todos os dias de manhã cedo estão lá. Acho inacreditável, mesmo entendendo que não é papel da STTU o conserto. Mas, duas observações: são agentes públicos municipais e poderiam ter avisado à Semurb ou outro órgão da Prefeitura e deveriam ter colocado uma sinalização oficial indicando um problema na via urbana.

 

Mas nada disso. Todo dia tem gente nova, passam do ladinho do problema e todos os dias continuam a ignorar a situação. São dois agentes “controlando” o trânsito, nenhum deles se propõe a alertar os motoristas sobre o problema ali do lado. Muita tranquilidade, parece, ou muita morosidade, também parece, ou muita falta de interesse, também me parece. Mas, claro, não tenho certeza. Quem sabe eles até ligaram todos os dias para a Semurb (ou sei lá qual órgão) alertando sobre o problema e do outro lado ninguém se comoveu. São dúvidas pertinentes e, como há o benefício da dúvida, quem sabe a culpa não é de ninguém; certamente, não é de quem passa por lá, pelo risco.

 

Por tudo isto, fico me perguntando “qual é a validade de um buraco?” ou, traduzindo, como fazer para que o serviço possa ser realizado? Será que dependeria do cidadão comum, eu, por exemplo? E somente se alguém solicitasse o serviço? Se depende sempre de alguém fazer uma reclamação é hora de ajustar as equipes de manutenção para que não esperem por um “aviso” do cidadão, para que haja uma atividade preventiva.

 

Não é fácil administrar uma cidade e um problema pequeno como este é uma simples e básica situação considerando tantos outros problemas mais urgentes. É verdade que há algo mais importante para ser resolvido e com impacto maior mas, depois de alguns dias os problemas menores acabam “crescendo” pois tornam-se repetitivos. A crítica, claro, é meramente pontual e não pode refletir o resultado total, assim como não é a cereja que salva o bolo, mesmo se muitas vezes as pessoas preferem enaltecer a cereja, atentar mais aos detalhes do que à plena realidade.

 

Qual a “validade” de um buraco? Não sei, deveria nem ter validade, o ideal é que a gente nem notasse; ou que ele nem existisse.

terça-feira, 20 de agosto de 2024

Deveria ser proibido?!

 

Neste ano teremos 100 mil candidatos a menos do que nas eleições para prefeitos e vereadores em 2020. Por um lado, uma boa notícia: os que se apresentam devem ser, efetivamente, candidatos e não alguns “laranjas” ou mero preenchimento de vagas seja por interesse partidário seja por delírio pessoal ou até mesmo por delírio coletivo de estimular alguém a candidatar-se mesmo sabendo que não teria a menor chance. Mas há um lado negativo com a notícia: diminui o tamanho da democracia (se considerarmos que muitos candidatos sérios desistiram de buscar os votos) e diminui a conta para o mercado local que espera ansiosamente por eleições para ter contratos (publicidades, impressos, advogados, fornecedores de alimentos etc) firmados e, geralmente, bons contratos.

 

Este número impressiona nacionalmente, ainda que sejam mais de 450 mil candidatos em todo o Brasil, misturados os que pretendem chegar à Câmara Municipal e os que buscam a Prefeitura.

 

Mas, há outro dado que entendo menos valioso para a democracia. Aqui no RN, mesmo. Dos 167 municípios não haverá concorrência para a prefeitura em 9 cidades. É muito! Considerando que estamos em uma democracia e que todo mundo pode candidatar-se e votar livremente, saber que nestas cidades haverá, desde já, um vencedor declarado, acho negativo; é claro que mesmo sendo candidato terá que conseguir pelo menos 50% dos votos, senão haverá uma nova eleição. Mas, convenhamos, se houve candidatura única deve-se muito provavelmente a um “consenso” coletivo. Consenso entre os candidatos, talvez não entre os eleitores.

 

Em Acari, Coronel João Pessoa, Riacho da Cruz e São José do Seridó o atual gestor será reeleito: nestas cidades o atual gestor é candidato único. Avaliando friamente e à distância poderíamos imaginar que a gestão é tão eficiente e tão validada pela população que ninguém se “atreve” a candidatar-se. Mas, trata-se de política, não de literatura.

 

Em Frutuoso Gomes, Lucrécia, Pilões, Rafael Godeiro e Serrinha dos Pintos também será candidato único. A maioria deles apoiado pela atual gestão e, em algumas situações, pelo fato do atual gestor já ter encerrado seus dois mandatos. Continuidade assegurada, portanto, pelo menos para a eleição. Depois, durante o mandato, a ver.

 

Quando vejo um universo tão grande quanto este, de eleitores em (dezenas de) milhares, me impressiona o fato de não haver concorrência. É claro que não se trata de atacar o candidato único nem de julgar se deve continuar ou não mas, é um posicionamento contrário ao que entendo ter sido um direito conquistado pela Humanidade em vários países e defendido arduamente no Brasil: democracia se faz com liberdade de voto e com liberdade de candidatos e por mais que seja consensual a candidatura única entre os partidos e alianças políticas, pode parecer a-democrático.

 

Deveria ser proibida candidatura única? Eventualmente, acho. Ou poderia ter outro indicador, outra barra de limite. Se para ser eleito é necessário o mínimo de 50% dos votos nas candidaturas únicas, poderia haver um acréscimo: no mínimo 2/3 dos votos e participação de pelo menos 2/3 da população no dia da eleição. Seria a validação da composição política com a vontade popular. É uma ideia.

segunda-feira, 19 de agosto de 2024

Caboré Audiovisual em Gramado

 

Deve ter sido o dia e o horário. É que no sábado a noite começaram as premiações do maior festival de cinema do Brasil, o Festival de Gramado. Não tem o mesmo glamour de outros festivais internacionais, mas é o maior do Brasil e ainda tem o seu reconhecimento no mercado nacional. Não vi (ou então não achei) muitas notícias sobre o tema, neste domingo.

 

Pois é. É uma produção do RN ganhou sua “menção honrosa”. Foi com o curta-metragem Navio, uma produção da empresa Caboré Audiovisual, sob a direção tripla, de Alice Carvalho, Larinha Dantas e Vitória Real e que estão assim descritas formalmente, no texto da candidatura: “Alice Carvalho é atriz, roteirista, dramaturga e diretora potiguar. Vitória Real é bacharel em Comunicação Social, pós-graduada em Cinema pela UFRN e mestranda em Comunicação pela UFC. Larinha Dantas, artista potiguar com uma trajetória profissional sólida no audiovisual, atua como diretora, cinegrafista e montadora há mais de 12 anos no cenário local.”

 

Um boa para o RN, mesmo não sendo o maior prêmio. Mas sua inclusão na lista final da disputa e a “menção honrosa” são suficientes para estimular a categoria vinculada ao cinema aqui no RN, do produtor, diretor, passando pelos atores, coadjuvantes, equipe técnica etc. Não somos, claro, um polo de produção de cinema, filmes de longa ou curta metragem, mas é sempre bom saber que há o reconhecimento na produção local.

 

Não vi o curta e o que conheci da obra foi o (curtíssimo) resumo de sua apresentação. Navio é apresentado com a seguinte história: “A catadora Dandara vaga invisível pela cidade. O encontro com Exu Mirim a leva para o fundo da memória.” Não sei se entendi bem a temática e nem sei se gostaria de assistir ao filme, talvez o perfil da história não esteja entre as minhas preferências de história, de arte e de cinema. De qualquer forma, o registro.

 

Outra curiosa... curiosidade é que na página da internet da Caboré Audiovisual, na aba “curtas” não aparece o filme premiado. Há 15 filmes ilustrados e o mais recente, de 2023. Acho que o premiado Navio deve ser de 2024. No histórico do “Quem somos” são apresentadas 3 pessoas: André Santos, sócio-fundador, Babi Baracho, igualmente sócia-fundadora, e Márcia Lohss, atriz. Acho até que a página da internet não está mais sendo utilizada, não encontrei menções mais atuais. Por outro lado, o Instagram está ativo e (felizmente) menciona a premiação do Festival de Gramado! Ontem, cerca de 24h depois do resultado, havia cerca de 30 comentários; pouco, achei.

 

Temos um bom festival de curta-metragem no RN, o de Caicó. Começou com muita intenção e cresceu bastante, recebendo muitas inscrições de todo o Brasil. Não sei quantas eram as inscrições de curtas do RN mas quem sabe com mais este “incentivo” possamos ter novas obras e novas temáticas regionalizadas, seja de nossa literatura/cultura/folclore seja em ambientações/cenários bem característicos da geografia potiguar. É uma opção artística.


PS: Já fui mais ao cinema, hoje continuo a assistir filmes, pela telinha de casa; assisto muitos, mas ainda não consigo gostar de alguns gêneros/temáticas, tais terror, violência (pura), ficção científica (exagerada) etc. E quanto aos curtas continuo a apreciar as histórias ("de filmes"), bem menos os que estão mais para documentários ou autobiografias.


domingo, 18 de agosto de 2024

Quase 1/3

 Natal tem 430 candidatos a vereador neste ano, para apenas 29 vagas. Houve uma substancial redução dos interessados em todo o Brasil e também aqui na Capital mas, mesmo assim, é muita gente! Alguns devem estar apenas buscando uma promoção pessoal, um reconhecimento público e uma tentativa de ter mais espaço público ou político-partidário. De qualquer forma, toda candidatura espontânea é legítima.

 

E como em eleição há algumas curiosidades nos nomes registrados. Listei aqui  141 nomes, ou quase 1/3 de todas as candidatura em Natal. A curiosidade, na lista abaixo, não é do ponto de vista pejorativo nem depreciativo mas simplesmente um apresentação do nome próprio com alguma associação, seja profissional ou afetiva; em outras palavras, uma associação que tem por finalidade atrair mais votos, sobretudo daqueles que não os conhecem mas poderiam reconhecer na profissão, atividade, localidade etc alguma identificação e, quem sabe, conseguir o voto. A ideia quase sempre é que, por exemplo, um contador poderia votar em um contador assim como um morador da Ribeira votaria no seu vizinho. Não sei se funciona assim, mas alguns têm esta esperança.

 

São 141 nomes. Diversidade assegurada. Alguma destas associações faria você votar em alguém deles? Seria em Adriana da Sopa, Adriana de Quebra Osso, Albert Dickson Oftalmologista, Alexandre Bancada Socialista, Ângelo do Prae, Antônio do Salgado, Apóstolo Théo, Artesão Bambam, Babá Cláudio, Bambam, Bia do MLB, Brechinha da Padaria, Carlinhos do Gás, Carlos Enfermeiro, Cassiano o Rei do Caranguejo, Célia do Povo, César de Adão Eridan, Chico Ambulante, Cicinho Bike, Cleiton da Policlínica, Coletivo Eliu, Coronel Dimas, Cristiane do PT, Cristian Gari, Dagmar da Saúde, Dario da Auto Elétrica, Doutor Geraldo Pinho, Dr. Milano Máximo, Dr. Samir Aquino, Dra. Bárbara Alves, Dra. Luciana Monteiro, Dra. Samara, Dra. CristianeTrajano, Dra. Dália Veterinária, Dra. Júlia Raquel, Edivan Enfermeiro, Edmilson Acari, Eduardo Propaganda, Elias das Paradas, Eliel do Gás, Emanoel do Cação,  Emerson Repórter, Eri Guerreira,  Frank Areia, Gaguinho dos Teclados, Gal do Guarapes, Gari Aldair, Garrincha, Gêmeos Pedro e Paulo, Genivaldo Gonçalves GG, Geraldo Dantas Jr Radialista, Gi do Táxi, Gilmar do Depósito, Gilvan Balada, Henrique Mosquito, Instrutor Pires, Irmão Ademir Almeida, Irmão Dailton, Irmão Gilberto da Livraria, Ítalo Xaxá, Jakson Capixaba, Jean Dantas da Saúde, Jean do Alternativo, João Cunha da Ambulância, Joãozinho do Planalto, Junior do Posto, Karlla Morena, Lady Day, Lili Odonto, Luciano Budu, Mandrake, Mano Targino, Maria do Bar, Maurício Samu, Max do América, Mc Preguiça, Missionária Cristiane, Missionária Cuidadora Priscila, Missionária Raíla, Missionária Saana Rosa, Nego Fred, Nildo Borracheiro, Padre Caio Cavalcanti, Pastor Johnson, Pastor Judson, Pastor Mauro, Pastor Odélio Batista, Pastor Rubens, Pastora Kácia, Pastora Marta Brandão, Pastora Rose Gonçalves, Paulo César (PC), Pedro do Alto, Pedro Proarmas, Pequeno Sempre Presente, Preto Aquino, Prof. Aquino, Prof. Thaysa Camargo, Prof. Xico, Professor Adriano Barros, Professor Carlos Silvestre, Professor Luar, Professor Mário Sérgio, Professor Orestes, Professor Raphael Cavalcante, Professor Robério Paulino, Professor Xandão, Professora Celeste, Professora Clarice, Professora Karina Melo, Professora Márcia Hissett, Professora Margareth, Professora Rosângela, Professora Rose Feitosa, Rei Pop, Ricardinho do Planalto, Ricardo Batatinha, Rosa Guerreira, Samoel Xaropinho, Sargento Castilho, Sargento Manassés, Sargento Wellington, Sena Frentista, Sérgio Côco, Sgt Sabino, Sonia do Nova Natal, Subtenente Eliabe, Subtenente Vantuil, Tárcio de Eudiane, Tati Ribeiro e Sandro Pimentel (o registro está assim, com 2 nomes na mesma candidatura), Tchê, Tia Val, Tiago Auto Escola, Tourum Produções, Tt Modas, Vereador Peixoto, Veterinária Shirlei Medeiros, Waugia Nega, Will, Xexeu de Natal, Zé Negão ou Zezinho do Kintal II? 

sábado, 17 de agosto de 2024

Sem ação

 

A saga das Lojas Americanas continua e a cada resultado divulgado parece que a solução está mais distante ainda. Os números desta semana revelaram que o prejuízo continua forte, eu diria que é quase sistêmico. O efeito imediato aconteceu na Bolsa de Valores com as ações despencando, mais uma vez. Quando a gente compara com o valor de um ano atrás, cada ação das Americanas eram negociado a R$ 2,17 e ontem fechou com R$ 0,14, ou seja, uma queda de quase 95% do valor. Muita coisa, mesmo. E mais catastrófica ainda quando lembramos que antes da crise começar cada ação era negociada a quase R$ 17,00.

 

Para ficar bem claro o prejuízo que pode ter acontecido com algum investidor que tinha, digamos, 1.000 ações antigamente e um patrimônio de R$ 17.000,00, se não tiver vendido as ações antes, hoje teria apenas R$ 140,00 ou pouco mais de 0,8% do total. Agora imagine que tinha investido cem mil, um milhão etc.

 

Este efeito virtual na tela da cotação da Bolsa é bem mais real nas lojas da empresa. Já comentei aqui a tristeza de ver várias lojas fechando e aquelas que permanecem abertas já não têm mais tantos produtos. Recentemente fui ao Partage Shopping Mossoró e tive pena de ver uma grande parte da loja com prateleiras completas vendendo bolachas e chocolates. Quem diria que um dos centros de compra para os brasileiros terminasse com foco maior em uma barra de chocolate...

 

E olha que a empresa já foi proprietária do Submarino, uma plataforma de vendas on line que gostava de contar vantagens. Não deu certo, depois da crise, e o grupo foi perdendo muita coisa. Ainda sobrevive mas se continuar neste ritmo acho que o final do ano teremos mais espaços vazios no comércio de Natal e no shopping de Mossoró. Para Mossoró a reação será ainda negativa, pois instalada em um shopping que nunca conseguiu ser uma plenitude de atrativos e de lojas importantes para o comércio local.

 

Muito provavelmente a esta altura os gestores dos pontos comerciais onde estão as Lojas Americanas voltaram a ficar preocupados com o fechamento da empresa. Que empresa encontrar para substituir em uma loja grande e que, certamente, deve ter um aluguel elevado? Aqui em Natal, na Cidade Alta seria apenas mais uma perda de ocupação econômica em um local que segue – infelizmente – os mesmos passos da Ribeira. Uma lugar onde “já foi’ Natal.

 

O comércio eletrônico e o paradigma da destruição criativa é bem presente: quando achamos que acontece longe da gente vemos, de perto, a decadência das Lojas Americanas e da Cidade Alta, em Natal. O mundo moderniza-se rapidamente, e os negócios também. Se para alguns consumidores a adaptação é mais penosa, para quem produz na economia o impacto pode ser cruel e sem chances de sobrevida. Nos mundo dos negócios ninguém tem pena de ninguém, nem a empresa do consumidor, nem o mercado da empresa; não é uma “vingança” a ser celebrada toda vez que uma empresa encerra suas atividades, é apenas a expectativa de que um novo negócio venha mostrar sua cara e que seja melhor do que o que já existia. Só assim diminuiria o pesar da perda.

sexta-feira, 16 de agosto de 2024

Um plano nacional de turismo

 O Governo Federal publicou seu Decreto 12.136 nesta segunda-feira, dia 12. O novo texto trata da aprovação do “Plano nacional de turismo para o quadriênio 2024-2027” e, portanto, já está em vigor, visto que estamos em pleno segundo semestre de 2024. Como todos os planos neste formato, é um direcionamento, uma orientação e uma política de boa-vontade sobre o que se pretende fazer mas ao mesmo tempo, uma indicação das prioridades governamentais ou pelo menos da intenção de atuar diretamente naquelas áreas que são elencadas.

 

Todo plano setorial traz políticas públicas já consolidadas e que estão em andamento e inclui algumas novidades ou pelo menos reforça ideias que podem ter sido lançadas ou apenas iniciadas ou algumas vezes também, intenções baseadas em tendências e projeções. Por isto, apesar de ser um documento genérico e indicativo, pode servir de referencial assim como pode servir de cobrança para que o poder público execute atividades nas áreas indicadas.

 

E há outra vantagem: se há uma política nacional caberá às prefeituras e aos governos estaduais conhecerem as estratégias para inserirem em suas políticas municipais e estaduais uma sintonia mais próxima, não somente para ter uma unidade territorial na política pública mas para entender que o foco da política nacional é que servirá de modelo para os projetos municipais e estaduais ou, em outras palavras, de onde sairá recurso do orçamento federal.

 

Tudo isto para reforçar que é um documento a ser lido e compreendido, mesmo não sendo exclusivo nem exaustivo afinal, cada cidade e cada estado tem suas características e particularidades que merecem atenção na promoção do turismo e no desenvolvimento de sua economia do turismo.

 

Nos diversos eixos deste Decreto destaco aqui o Eixo 2, chamado de “Formalização, qualificação e certificação”, e mais especialmente uma ação, o “Programa de certificação de destinos”. É extremamente importante que os municípios do RN estejam alinhados com esta estratégia e comecem a criar seus programas de certificação e de reconhecimento do turismo local/regional. O simples selo ou simplesmente a certificação não terá efeito muito além de uma notícia em um blog local ou em páginas oficiais, se for entendido apenas como uma ação de marketing do gestor público.

 

Certa ocasião conversei com pessoas envolvidas no turismo municipal de uma cidade que tinha, como diziam, “potencial turístico” mas que não conseguia se firmar para atrair mais pessoas, exceto em momentos muito específicos ou ocasiões em que uma notícia saia aqui ou ali. Um “potencial” que continuava a ser... um potencial. Infelizmente não é incomum em outras cidades ou em outros atrativos turísticos do RN. Temos alguns que merecem uma maior – e melhor visibilidade – com uma política pública mais efetiva mas também, e este é um elo bem importante, com uma qualificação do investimento privado, do empreendedor disposto a oferecer um serviço compatível com o “atrativo” turístico da cidade; e, ainda mais: não é apenas um pousada ou um restaurante que transformará o “potencial” em realidade, precisa haver um conjunto ou uma “rede turística” ou de “apoio ao turista”, de “apoio ao turismo”.

 

Do plano nacional à execução local, a certificação pode ser um começo. Temos, no RN, várias ideias; depois comento algumas ideias.

quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Alô, binário

 

Não faz muitos dias Natal passou por uma importante transformação em seu sistema viário com a implantação do binário nas ruas Jaguarari e São José embora, na verdade, foi algo que se aproximou (um pouco) de um sistema binário, um meio binário ou um a-binário ou qualquer outra coisa. O resultado foi que o trânsito mudou, mas não sei se o tráfego mudou. Explicando: mudou a forma de ir a vir com mão única nas duas ruas em boa parte mas não sei avaliar se passou a ter mais carros andando pelas ruas ou se, ao contrário, criou mais transtorno e afastou o público.

 

Não sei, mas imagino que tenha sido realizada uma simulação em algum computador da STTU (são eles?) com base no fluxo existente para verificar as alternativas de mudança e qual impacto ocorreria, desde o acesso aos prédios das ruas e das quadras vizinhas, ao impacto no comércio. Espero que tenha havido algumas simulações para, no mínimo, a gente ter certeza de que houve um planejamento e que este foi intencionalmente positivo na avaliação dos resultados.

 

Achei, mas mera opinião pessoal, que poderia ter sido melhor. Primeiramente para tornar o sistema 100% binário e não ter que colocar pneus ou outras formas menos convencionais de alerta na mudança do sentido das ruas. E, efetivamente, se era para aumentar o fluxo, para intensificar a velocidade dos veículos, deveriam ter sido eliminados todos os estacionamentos. Mas, há trechos em que pode-se estacionar e outros não; na simulação, certamente, deve ter sido feita avaliação em relação ao fluxo, para não parecer que alguns trechos são mais importantes do que os outros e que alguns locais são mais privilegiados.

 

Seria interessante (se já não tiver sido feito) que fossem divulgadas estatísticas do antes e do depois e lembrando sempre que a motivação deveria ter sido liberar o fluxo também nas avenidas paralelas, Prudente de Morais e Salgado Filho. A lógica é simples: se uma rua tem o trânsito mais fluído receberá mais veículos e automaticamente liberará mais espaço nas ruas e avenidas paralelas. Por isto, os dados devem ser de todo o espaço mais diretamente afetado.

 

Avaliar estes números permitirá também melhor planejar outras alterações. Toda experiência “no papel” tem tendência a funcionar muito bem, embora a prática possa até superar a teoria e, como trata-se de um somatório de decisões individuais (cada motorista teria a liberdade de escolher seu caminho), o resultado pode até ser previsível mas dificilmente reflete a teoria.

 

Tudo passa por planejamento. Depois, por gestão. E como manda o ciclo do PDCA, eventuais correções. É assim que funciona naturalmente com todo projeto. E como todo bom projeto as correções ocorrem a partir da constatação da realidade e, igualmente como em todo projeto bem gerenciado, a constatação depende de números que comprovem os fatos. Uma leitura da realidade comparada com o planejamento deste novo trânsito em Natal ajudará a refletir sobre este crônico problema de cidades de médio e grande portes; quem sabe até, ajudará a fazer as eventuais correções para poder servir de exemplo para Natal. Mas, aí já é outra história.

quarta-feira, 14 de agosto de 2024

Areia Preta em Paris, tudo a ver

 

Mais uma vez, como acontece em praticamente em todos os boletins de balneabilidade das praias de Natal, a de Areia Preta aparece com índices elevados de poluição, sendo desaconselhada para o banho e até mesmo a frequentação da faixa de areia. É um tema recorrente que até deixei de ler com mais calma estas notícias, com medo de encontrar as mesmas explicações para o problema e, talvez pior, as mesmas explicações de soluções; e suas promessas.

 

Saneamento básico e coleta de água e esgoto são problemas nacionais e talvez presente em todas as cidades, onde encontramos um cenário às vezes apenas preocupante e outras vezes catastróficos com imagens que beiram o limite da dignidade humana. A população cresce nas cidades assim como a arrecadação de tributos e, na mesma velocidade, os problemas de saneamento também crescem nas cidades. O problema, é claro, não está no crescimento da população, mas na forma como acontece sem o controle ou o acompanhamento do poder público seja por não oferecer condições mais adequadas de habitação seja por desprezar investimentos em saneamento.

 

Curiosamente, em Areia Preta o problema não é este. É claro que a população cresceu quando fizeram a impressionante alteração na legislação para permitir que prédios grandes fossem ali construídos, diferenciando o perfil (número de andares) beira-mar em comparação às vizinhas praias dos Artistas, do Forte e do Meio. Os prédios ali instalados seguem um perfil econômico diferenciado, do luxo “normal” ao alto luxo e foram construídos seguindo – em tese – todas as normas urbanas, ou seja, não foi um crescimento populacional desordenado, ao contrário até, bem planejado. No mesmo bairro (sim, Areia Preta não é bairro) de Mãe Luiza as habitações são mais precárias, comparando com os prédios beira-mar; mas, são antigas, a ocupação daquele espaço geográfico não é novidade nem se deu se forma desordenada nos últimos 10, 20 ou 30 anos.

 

A culpa, vale ressaltar, não é das residências de menor poder aquisitivo mas da ausência do poder público que não regulamentou, não fiscalizou e também não investiu em um sistema eficiente de coleta de água e esgoto. Não se pode culpabilizar a população menos favorecida, especialmente neste caso.

 

O que choca – acho que ainda alguns se sentem chocados – é que a Capital se anuncia como uma cidade turística e que pretende também fazer com que sua população local tenha acesso às praias, não sendo apenas um espaço para os “de fora” mas plenamente acessível aos “de dentro”, os moradores da cidade. No entanto, ao mesmo tempo mantém esta enorme contradição de ter seu cartão postal – a ideia de praia – literalmente manchada por águas escuras (de esgoto, inclusive) que escorrem pelas areias, dividindo a poluição com todo mundo que passa por lá.

 

Gerenciar uma cidade não é simples mas acho que alguns desafios, de tão conhecidos e banalizados pelo tempo, parecem mais simples de priorizar. Acho que a poluição das praias se encaixa neste perfil. Areia Preta não é o rio Sena em Paris mas fiquei com muita inveja em saber que por lá estão investindo muito em busca de uma solução. Aqui, o problema é menor, o investimento idem. Já pensou a gente – um dia – esnobar e dizer que a praia de Areia Preta é melhor do que o rio Sena, lá de Paris! Chic, não?

terça-feira, 13 de agosto de 2024

Haja cigarro para o RN

 

Uma notícia do final de semana aqui no RN foi a apreensão de dois veículos carregados de cigarro no interior do Estado. O número é impressionante à primeira vista: foram apreendidas 900 mil carteiras de cigarro neste dia ou 18 milhões de cigarros. Infelizmente, na verdade, quando observamos o consumo de cigarro no Brasil esta apreensão nem assusta muito. Uma primeira consideração é de que se tratava de cigarro produzido no exterior, em outras palavras, não há uma estatística completa que permita avaliar qual é o real consumo de cigarros no Brasil. Mas, temos alguns indicadores que nos dão uma pista.

 

Do ponto de vista formal a produção nacional (controlada pela Receita Federal na tributação dos selos de lacre de cada carteira de cigarro) foi de quase 4,5 bilhões de carteiras e isto nos dá uma pista de que o consumo médio anual per capita nacional é de aproximadamente 20 carteiras/ano. Considerando estes números e trazendo para a realidade do RN (população de cerca de 3,4 milhões de habitantes), o consumo médio de cigarros no Estado é de cerca de 71 milhões de carteiras/ano ou quase 6 milhões de carteiras/mês. É muito, muito mesmo.

 

A apreensão das 900 mil carteiras de cigarro na semana passada impressionam até a gente descobrir que isto representa apenas o consumo de 15 dias no RN. A rigor, portanto, nem afetará o consumo potiguar nem mesmo as vendas clandestinas (com cigarros importados de forma irregular), facilmente o estoque será reposto e todo mundo terá condições de vender um produto contrabandeado assim como facilmente muitas pessoas continuarão a comprar cigarros sem saber a origem nem a qualidade do produto.

 

A tentativa para diminuir o consumo é aumentar a tributação. Dá resultado mas, provoca um efeito perverso: a sonegação com a importação de cigarros ou ainda a produção nacional sem o menor controle de qualidade. Em outras palavras, se fumar faz mal, fumar cigarro contrabandeado ou produzido de forma irregular apenas aumenta a possibilidade de piorar a situação do fumante (saúde financeira e saúde corporal).

 

A luta é grande e o controle deve aumentar ainda mais. Há uma medida que poderia auxiliar em relação aos caminhões carregados de cigarros ilegais: as balanças nas rodovias, com pesagem obrigatória. Como cigarro não pesa muito, todo grande caminhão com peso abaixo da média poderia ser objeto de fiscalização.

 

Não é isto que resolverá a questão da saúde pública e do consumo de cigarros, sem dúvida. Mas, ajudará a combater o crime organizado, o que é um bom resultado. E se houver mais apreensões de cigarros ilegais, aumentar a tributação para o cigarro ficar mais caro seria ainda melhor e, quem sabe, diminuiria a conta de todos, inclusive dos não-fumantes que “contribuem” indiretamente com o custo do tratamento de saúde. Menos (cigarro) é sempre mais (e melhor).