Do ponto de vista estatístico temos uma probabilidade de eleição igual
para todo os candidatos a vereadores e portanto, todas as combinações
matemáticas são possíveis. A probabilidade, portanto, de visualizarmos como
eleitos apenas os candidatos que começam com as primeiras letras do alfabeto é
a mesma daqueles que começam com as últimas letras (claro, considerando que
haja o mesmo número de um lado e do outro). Friamente, numericamente, de forma
aleatória, a probabilidade de eleição de “Maria” é a mesma de “João”. Mas, como
números são números e não existem na vida real, são uma criação humana para
simplificar (e como simplificam!) nossa vida, esta frieza não é reflexo da
realidade.
Admitamos por um momento que todas as probabilidades de eleição sejam
iguais. Poderíamos ter, então, uma Câmara Municipal de Vereadores 100%
elitizada. Isto mesmo, pois como são 29 vagas, temos candidaturas que expressam
uma elite universitária, pelo menos do ponto de vista da formação acadêmica,
visto que concluíram cursos superiores e estão atuando na profissão (sempre
vale a ressalva que não é uma discriminação contra qualquer profissional ou
profissão mas, o acesso aos cursos universitários ainda não alcança a
totalidade dos brasileiros; infelizmente).
Em Natal temos 19 candidatos abertamente declarados da área educacional,
11 da área médica e ainda temos 16 que se identificam por sua religião. Na
educação são 18 professores e 1 instrutor e na saúde são 10 doutores (um é mais
especialista na denominação, pois identifica-se como oftalmologista), 1
médico-veterinário, 1 odontólogo e 3 enfermeiros. E com a religião temos 8
pastores, 4 missionários, 3 “irmãos” e 1 padre.
E olhe que estou falando apenas daqueles que fizeram questão de colocar
uma destas identificações como o nome oficial da campanha, portanto o nome que
aparecerá em toda a propaganda eleitoral e o nome que estará na urna
eletrônica. Há outras candidaturas associadas à área de alimentação,
prestadores de serviços, vinculados à localidade etc mas achei que estes da
educação, saúde e religião são os mais expressivos, numericamente falando.
Certamente há uma duplicidade intencional na escolha: a mais óbvia
deveria ser a forma de o público reconhecer a pessoa, o “Dr.” ou o “Professor”
ou o “Pastor” mas acho que a intenção é mais com a finalidade de conquistar o
eleitor que votaria em um médico, professor ou pastor pelo simples fato de
gostar da área médica, educacional ou religiosa; é, acredito, uma expectativa
do eleitor sem candidato que acha que escolher pela profissão significaria a
qualidade do voto. Posso estar enganado, ou parcialmente enganado e aliás, até
gostaria.
É que o ideal seria o eleitor escolher o candidato não por sua profissão
ou sua área de atuação, mas por seu trabalho, por sua ética (pessoal e
profissional) e, mais ainda, pelas propostas que defende para melhorar a cidade
e a qualidade de vida do cidadão, ou seja, do próprio eleitor. No mundo inteiro
temos eleições personalistas, vota-se pela pessoa, mas na maioria das vezes
associa-se a pessoa aos seus ideias e suas propostas, enquanto aqui continuamos
a votar pela pessoa em si (e ainda tem a justificativa do voto: “gosto
dele”...). Uma pena!
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