Mais uma vez, como acontece em praticamente em todos os boletins de
balneabilidade das praias de Natal, a de Areia Preta aparece com índices
elevados de poluição, sendo desaconselhada para o banho e até mesmo a
frequentação da faixa de areia. É um tema recorrente que até deixei de ler com
mais calma estas notícias, com medo de encontrar as mesmas explicações para o
problema e, talvez pior, as mesmas explicações de soluções; e suas promessas.
Saneamento básico e coleta de água e esgoto são problemas nacionais e
talvez presente em todas as cidades, onde encontramos um cenário às vezes
apenas preocupante e outras vezes catastróficos com imagens que beiram o limite
da dignidade humana. A população cresce nas cidades assim como a arrecadação de
tributos e, na mesma velocidade, os problemas de saneamento também crescem nas
cidades. O problema, é claro, não está no crescimento da população, mas na
forma como acontece sem o controle ou o acompanhamento do poder público seja
por não oferecer condições mais adequadas de habitação seja por desprezar
investimentos em saneamento.
Curiosamente, em Areia Preta o problema não é este. É claro que a
população cresceu quando fizeram a impressionante alteração na legislação para
permitir que prédios grandes fossem ali construídos, diferenciando o perfil
(número de andares) beira-mar em comparação às vizinhas praias dos Artistas, do
Forte e do Meio. Os prédios ali instalados seguem um perfil econômico
diferenciado, do luxo “normal” ao alto luxo e foram construídos seguindo – em tese
– todas as normas urbanas, ou seja, não foi um crescimento populacional
desordenado, ao contrário até, bem planejado. No mesmo bairro (sim, Areia Preta
não é bairro) de Mãe Luiza as habitações são mais precárias, comparando com os
prédios beira-mar; mas, são antigas, a ocupação daquele espaço geográfico não é
novidade nem se deu se forma desordenada nos últimos 10, 20 ou 30 anos.
A culpa, vale ressaltar, não é das residências de menor poder aquisitivo
mas da ausência do poder público que não regulamentou, não fiscalizou e também
não investiu em um sistema eficiente de coleta de água e esgoto. Não se pode
culpabilizar a população menos favorecida, especialmente neste caso.
O que choca – acho que ainda alguns se sentem chocados – é que a Capital
se anuncia como uma cidade turística e que pretende também fazer com que sua
população local tenha acesso às praias, não sendo apenas um espaço para os “de
fora” mas plenamente acessível aos “de dentro”, os moradores da cidade. No
entanto, ao mesmo tempo mantém esta enorme contradição de ter seu cartão postal
– a ideia de praia – literalmente manchada por águas escuras (de esgoto,
inclusive) que escorrem pelas areias, dividindo a poluição com todo mundo que
passa por lá.
Gerenciar uma cidade não é simples mas acho que alguns desafios, de tão
conhecidos e banalizados pelo tempo, parecem mais simples de priorizar. Acho
que a poluição das praias se encaixa neste perfil. Areia Preta não é o rio Sena
em Paris mas fiquei com muita inveja em saber que por lá estão investindo muito
em busca de uma solução. Aqui, o problema é menor, o investimento idem. Já pensou
a gente – um dia – esnobar e dizer que a praia de Areia Preta é melhor do que o
rio Sena, lá de Paris! Chic, não?
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