quarta-feira, 14 de agosto de 2024

Areia Preta em Paris, tudo a ver

 

Mais uma vez, como acontece em praticamente em todos os boletins de balneabilidade das praias de Natal, a de Areia Preta aparece com índices elevados de poluição, sendo desaconselhada para o banho e até mesmo a frequentação da faixa de areia. É um tema recorrente que até deixei de ler com mais calma estas notícias, com medo de encontrar as mesmas explicações para o problema e, talvez pior, as mesmas explicações de soluções; e suas promessas.

 

Saneamento básico e coleta de água e esgoto são problemas nacionais e talvez presente em todas as cidades, onde encontramos um cenário às vezes apenas preocupante e outras vezes catastróficos com imagens que beiram o limite da dignidade humana. A população cresce nas cidades assim como a arrecadação de tributos e, na mesma velocidade, os problemas de saneamento também crescem nas cidades. O problema, é claro, não está no crescimento da população, mas na forma como acontece sem o controle ou o acompanhamento do poder público seja por não oferecer condições mais adequadas de habitação seja por desprezar investimentos em saneamento.

 

Curiosamente, em Areia Preta o problema não é este. É claro que a população cresceu quando fizeram a impressionante alteração na legislação para permitir que prédios grandes fossem ali construídos, diferenciando o perfil (número de andares) beira-mar em comparação às vizinhas praias dos Artistas, do Forte e do Meio. Os prédios ali instalados seguem um perfil econômico diferenciado, do luxo “normal” ao alto luxo e foram construídos seguindo – em tese – todas as normas urbanas, ou seja, não foi um crescimento populacional desordenado, ao contrário até, bem planejado. No mesmo bairro (sim, Areia Preta não é bairro) de Mãe Luiza as habitações são mais precárias, comparando com os prédios beira-mar; mas, são antigas, a ocupação daquele espaço geográfico não é novidade nem se deu se forma desordenada nos últimos 10, 20 ou 30 anos.

 

A culpa, vale ressaltar, não é das residências de menor poder aquisitivo mas da ausência do poder público que não regulamentou, não fiscalizou e também não investiu em um sistema eficiente de coleta de água e esgoto. Não se pode culpabilizar a população menos favorecida, especialmente neste caso.

 

O que choca – acho que ainda alguns se sentem chocados – é que a Capital se anuncia como uma cidade turística e que pretende também fazer com que sua população local tenha acesso às praias, não sendo apenas um espaço para os “de fora” mas plenamente acessível aos “de dentro”, os moradores da cidade. No entanto, ao mesmo tempo mantém esta enorme contradição de ter seu cartão postal – a ideia de praia – literalmente manchada por águas escuras (de esgoto, inclusive) que escorrem pelas areias, dividindo a poluição com todo mundo que passa por lá.

 

Gerenciar uma cidade não é simples mas acho que alguns desafios, de tão conhecidos e banalizados pelo tempo, parecem mais simples de priorizar. Acho que a poluição das praias se encaixa neste perfil. Areia Preta não é o rio Sena em Paris mas fiquei com muita inveja em saber que por lá estão investindo muito em busca de uma solução. Aqui, o problema é menor, o investimento idem. Já pensou a gente – um dia – esnobar e dizer que a praia de Areia Preta é melhor do que o rio Sena, lá de Paris! Chic, não?

Nenhum comentário: