sábado, 24 de agosto de 2024

Ideias boas, conselhos ruins

 Não sou muito fã das palestras, seminários, livros etc quando a temática é (como ficou batizada) a autoajuda. Reconheço que é um mercado muito importante e muito valioso, tem muita gente ganhando (muito) dinheiro querendo ensinar as pessoas que a simples leitura de um livro ou a participação em uma palestra será capaz de mudar a vida de todo mundo. Não é bem assim, sabemos todos nós, mas muita gente continua a acreditar na história e, às vezes, acho até, na anedota.

 

Como não sou adepto destas teorias – se funcionassem tão facilmente o mundo seria muito melhor já há muito tempo – não compro tais livros, não sei nem quem são os tais influenciadores da autoajuda e nem participo de seminários ou algo parecido em que o foco está no “mudar ao escutar” ou “mudar ao ler”. Comparo às vezes, e tenho certeza haverá críticas, ao interesse que alguns concedem ao horóscopo e passam a acreditar na sorte lançada em poucas palavras para definir como será o dia; muita gente lê no início do dia, ao final já nem lembra mais se foi exatamente como “previsto”.

 

Costumo chamar alguns destes momentos de “ideias boas, conselhos ruins”. É que as histórias são contadas com tanta facilidade, com tanta ênfase e tão repleta de exemplos pessoais que a lição moral ao final é algo como “se você fizer igual, tudo mudará e você ficará melhor”. Por isto entendo que as ideias são boas, pelo simples fato que funcionaram com alguém, principalmente o autor ou palestrante, mas os conselhos são ruins pois não há como replicar exatamente um comportamento para outra pessoa. Se tudo isto funcionasse como prometido seria puro mimetismo. Há sempre a lembrar aquela velha piada: “se você ficar triste, eu fico triste, se você ficar feliz, eu fico feliz; por favor, fique rico!”

 

Não discordo que os bons exemplos e as boas histórias são inspiradoras mas raramente são transformadoras para quem apenas escuta. Quando participo de uma tarde de palestras ou um dia inteiro de boas histórias tenho – acho – a mesma sensação de muita gente, de que a boa ideia ou a boa história do começo do evento já ficou para trás e foi superada pela mais recente; e, no máximo, ultrapassa os 30 minutos depois que tudo acaba e que voltamos à realidade do barulho, do movimento, do trânsito etc e das dificuldades. O mundo real é maior do que o livro ou um dia inteiro de palestras. A gente consegue fechar o livro e abrir na página que quiser, a gente consegue memorizar um momento qualquer da palestra mas, o mundo não conspira ao nosso favor na mesma exatidão da autoajuda que acabamos de ouvir ou ler.

 

Não sou cético dos bons exemplos! Pelo contrário, entendo que são essenciais para nos ajudar a pensar no nosso futuro. Não sou cético quanto à felicidade e à possibilidade de mudar de verdade sem ter que passarmos por um trauma, uma dor ou uma situação constrangedora. Acredito muito nas boas histórias e acho sensacionais cada vez que escuto uma delas. Mas acho que são pessoais, personalíssimas.

 

Recentemente fui a um evento com um palestrante com boa dicção e encadeamento das propostas. As ideias apresentadas eram boas. Achei interessante. Depois, saí, fui entrei no carro, e enfrentei o trânsito, fui ao supermercado, enfrentei a conta no caixa. E pensei: como estava bem naquele momento ouvindo coisas interessantes. E pensei: se todo mundo estivesse lá, mas todos mesmo, quem sabe algo mudaria; e nem mais haverá necessidade de ver os livros de autoajuda nas livrarias (e na internet). Isto seria não uma autoajuda, mas uma alta ajuda, e a todos.

Nenhum comentário: