A tal da arte de mentir, convenhamos, é uma dupla mentira: primeiramente
pelo fato de que uma mentira não é uma arte, é um inverdade que pode ser apresentada
de forma tosca, direta ou repaginada para enganar um ou enganar muitos, e
depois pelo fato de que embora arte possa ser configurada como todo expressão
humana, ela jamais foi imaginada desta forma, com o propósito de iludir, de
criar uma ilusão propositalmente para enganar as pessoas (a arte no modo
clássico seja de forma abstrata, figurativa etc é apresentada explicitamente
como representação de um ponto de vista, não uma mentira para enganar as
pessoas).
Digo isto pois estamos em período eleitoral e vamos escutar muitas
promessas e também muitas afirmações do que “eu fiz certo” e que o opositor fez
de “errado”. A arte jornalística criou seu próprio jargão ao repetir continuamente
a expressão “fake ou fato”. É bem verdade que escutaremos coisas meio absurdas,
a começar pelas críticas aos opositores, de mentiras deslavadas, mesmo, à
pequenos erros por falta de dados ou de informação adequada. E vamos também
escutar muitas promessas e é aí, infelizmente, que teremos um grande arsenal de
mentiras apresentadas! Devemos, claro, excluir aquelas propostas que podem
parecer diferentes ou até dificilmente realizáveis mas que não se tratam
necessariamente de uma mentira, pode ser uma grande pretensão, uma intensa
ilusão ou um ideal perdido e completamente fora da realidade.
Por isto (também) não consigo visualizar na campanha política um domínio
do que seria a “arte de mentir”. Como em qualquer tempo e local, encontraremos
mentirosos e mentiras, perto da gente, um pouco mais longe ou em outros países
e, independentemente de ser período eleitoral. “Faz parte”. Por outro lado,
acho até interessante algumas ideias que aparecem mesmo se à primeira vista parecem
fora do contexto pois, podem estar apenas muito avançadas para o momento ou
pode ser ainda muito cara hoje, e amanhã com novas tecnologias podem tornar-se
viáveis. É claro que temos que ter o bom senso para distinguir ideias “sem pé
nem cabeça” (tal como prometer que todo mundo poderá passear na Lua) com outras
mais ousadas (tal como garantir acesso livre e irrestrito à alimentação, saúde
e educação em patamares de qualidade, de excelência).
Acho que por estas contradições e também pelas inovações que surgem a
cada campanha eleitoral é um dos motivos que me faz gostar de assistir aos
programas partidários-eleitorais e de ver as propagandas que aparecem por aí. Nesta
eleição estou bem “atrasado” em relação às demais, vi poucas coisas, li quase
nada de propaganda mas, nada que o mês de setembro chegando e eu não me “recupere”
deste compromisso particular. Diga-se de passagem, já escolhi meus candidatos e
como tenho apenas um voto para o cargo de vereador, estou na torcida para que
outros (bons) candidatos consigam seus votos. A pluralidade é importante e
interessante mas temos que pensar em “colocar” candidatos sérios e com boas
propostas ou até mesmo uma única boa proposta pois, se uma única ideia for
suficiente válida e boa para a população, já é um avanço para a nossa
democracia.
A “arte de mentir”, existe? É pura mentira! Existe arte, existe mentira
e existe política e políticos. Cada um no seu quadrado e a cada um de nós de não
sermos, como se dizia antigamente, “arteiros”.
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