quinta-feira, 29 de agosto de 2024

A arte de mentir

 

A tal da arte de mentir, convenhamos, é uma dupla mentira: primeiramente pelo fato de que uma mentira não é uma arte, é um inverdade que pode ser apresentada de forma tosca, direta ou repaginada para enganar um ou enganar muitos, e depois pelo fato de que embora arte possa ser configurada como todo expressão humana, ela jamais foi imaginada desta forma, com o propósito de iludir, de criar uma ilusão propositalmente para enganar as pessoas (a arte no modo clássico seja de forma abstrata, figurativa etc é apresentada explicitamente como representação de um ponto de vista, não uma mentira para enganar as pessoas).

 

Digo isto pois estamos em período eleitoral e vamos escutar muitas promessas e também muitas afirmações do que “eu fiz certo” e que o opositor fez de “errado”. A arte jornalística criou seu próprio jargão ao repetir continuamente a expressão “fake ou fato”. É bem verdade que escutaremos coisas meio absurdas, a começar pelas críticas aos opositores, de mentiras deslavadas, mesmo, à pequenos erros por falta de dados ou de informação adequada. E vamos também escutar muitas promessas e é aí, infelizmente, que teremos um grande arsenal de mentiras apresentadas! Devemos, claro, excluir aquelas propostas que podem parecer diferentes ou até dificilmente realizáveis mas que não se tratam necessariamente de uma mentira, pode ser uma grande pretensão, uma intensa ilusão ou um ideal perdido e completamente fora da realidade.

 

Por isto (também) não consigo visualizar na campanha política um domínio do que seria a “arte de mentir”. Como em qualquer tempo e local, encontraremos mentirosos e mentiras, perto da gente, um pouco mais longe ou em outros países e, independentemente de ser período eleitoral. “Faz parte”. Por outro lado, acho até interessante algumas ideias que aparecem mesmo se à primeira vista parecem fora do contexto pois, podem estar apenas muito avançadas para o momento ou pode ser ainda muito cara hoje, e amanhã com novas tecnologias podem tornar-se viáveis. É claro que temos que ter o bom senso para distinguir ideias “sem pé nem cabeça” (tal como prometer que todo mundo poderá passear na Lua) com outras mais ousadas (tal como garantir acesso livre e irrestrito à alimentação, saúde e educação em patamares de qualidade, de excelência).

 

Acho que por estas contradições e também pelas inovações que surgem a cada campanha eleitoral é um dos motivos que me faz gostar de assistir aos programas partidários-eleitorais e de ver as propagandas que aparecem por aí. Nesta eleição estou bem “atrasado” em relação às demais, vi poucas coisas, li quase nada de propaganda mas, nada que o mês de setembro chegando e eu não me “recupere” deste compromisso particular. Diga-se de passagem, já escolhi meus candidatos e como tenho apenas um voto para o cargo de vereador, estou na torcida para que outros (bons) candidatos consigam seus votos. A pluralidade é importante e interessante mas temos que pensar em “colocar” candidatos sérios e com boas propostas ou até mesmo uma única boa proposta pois, se uma única ideia for suficiente válida e boa para a população, já é um avanço para a nossa democracia.

 

A “arte de mentir”, existe? É pura mentira! Existe arte, existe mentira e existe política e políticos. Cada um no seu quadrado e a cada um de nós de não sermos, como se dizia antigamente, “arteiros”.

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