quinta-feira, 22 de agosto de 2024

E agora, Mossoró?

 

A pergunta poderia ser também, “quem quer viajar de avião para/de Mossoró?”. A notícia da Voepass com a anulação (dita como meramente temporária) de sua ligação para Mossoró nem deixou muita surpresa, depois do cancelamento de voos para Fernando de Noronha, que é um mercado bem mais rentável do que outros destinos. Agora foi a vez da Azul anunciar que em breve reduzirá sua oferta de voos, não sendo um cancelamento do destino mas, como foi informado, uma readequação em função de demanda, com a restrição para quatro voos semanais.

 

Há uma causa ou uma motivação comum a estas duas empresas e estes dois anúncios, ainda que mais visível a questão da Voepass que com o recente acidente perdeu capacidade de oferta de voos em sua programação normal. O traço comum é que a demanda não é das melhores e o preço cobrado pela passagem não pode aumentar muito para não diminuir ainda mais a ocupação das aeronaves.

 

Não faz muito tempo tivemos a notícia de vários cancelamentos de voos e aparentemente o motivo era a baixa demanda mesmo; era mais barato pagar ônibus, táxi ou carro para levar os passageiros que haviam comprado a passagem do que bancar o custo do voo, de ida e de volta. É uma questão de matemática, de somar “um mais um” e de registrar qual é o menor prejuízo. Parece que a Latam/Voepass não precisou fazer muitas contas quando houve tantos cancelamentos.

 

A aviação regional é um problema aqui e em muitos lugares, em muitos países. Bem que em alguns lugares da Europa a questão é o custo ambiental de voos curtos quando a opção terrestre (ou por trem) pode resolver o problema do deslocamento sem causar muito impacto ambiental (o querosene de aviação é o combustível mais poluente de todos, ou pelo menos bem mais do que o diesel de caminhões). Aqui é uma questão de demanda.

 

E Mossoró não escapa deste dilema de demanda. Será que há tanta gente mesmo querendo viajar de/para Mossoró de avião? Vale lembrar que é uma cidade que não tem turismo regular, a demanda turística é apenas quando tem algum evento. Não vale também dizer que a culpa é da saída da Petrobras da cidade, senão quanto ela estava por lá teríamos muitos e muitos voos regulares; e não houve.

 

O custo de manutenção do aeroporto em Mossoró é alto. Já foi transferido para a Infraero para diminuir os gastos das estaduais mas, de qualquer forma, é mantido com tributos. Ainda que as despesas possam ser reduzidas, os custos de manutenção da pista e dos equipamentos de segurança dificilmente são cobertos apenas com a taxa de embarque. A conta é desigual, bem desigual.

 

E agora, Mossoró? Com a saída da Voepass e a redução de voos da Azul será que há o risco para o aeroporto? Por quanto tempo a operação deficitária poderá ser mantida pela Infraero e, se for o caso, também pelas empresas? Se a lei do mercado é uma junção da oferta com a demanda, qual poderiam ser as ações para que a demanda volte a impulsionar a oferta de voos e de assentos? A ação política, acho, já chegou a seu ápice. Agora é pura questão de mercado, de estratégia empresarial; quem do setor privado encampará novas propostas para aumentar a demanda?

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