sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

A prova do líder

 

Não, não sou de assistir BBB, nem sou fã, já passei – há um bom tempo, felizmente, de assistir algo sobre o assunto e hoje nem propaganda em me interesso mais – desta fase. Não sei quem entra ou sai mas não deixo de ver algumas notícias nos jornais de grande circulação que às vezes mencionam um ou outro malabarismo. Uma das coisas que aprendi, mesmo não sabendo como funciona, é que tem uma prova do líder. Achei o nome bem interessante e bem sugestivo e às vezes acredito que foi inspirado na política. Tenho certeza, claro, que não foi inspirado nem no momento atual nacional nem mesmo no momento atual local.

Mas, temos pelo menos duas provas de líderes acontecendo, uma pontual e outra mais duradoura. A prova do líder mais pontual ou pelo menos mais imediata é a da eleição para presidentes da Câmara e do Senado, acirrada, como não deveria deixar de ser (eleição com candidato único é quase sinônimo de antidemocracia – ou de falta de opção) e com promessas e apoios, tal como acontece em todo o processo de escolha. Nesta prova do líder nacional todas as especulações são possíveis, todas as artimanhas são desmontadas ou demonstradas e todo tipo de informação circula, daquelas reais e daquelas bem fantasiosas. Nada de diferente, diria. Nestas duas eleições nacionais o eleitor, o cidadão comum, passa longe, nem participa e nem tem mesmo direito a opinar, e isto é tanto real que não tem nenhuma pesquisa de intenção de voto com a população. Claro, nós não votamos, são eles. Mas, se eles estão nos representando, bem que poderia haver uma consulta popular. Mero sonho ou mera divagação, mas seria interessante saber qual é a opinião pública pois vale lembrar que estarão elegendo, ainda que de forma eventual ou esporádica, alguém que poderá ocupar a cadeira da Presidência da República.

Já aqui mais perto – inclusive geograficamente – perto de nós, temos a prova de liderança do atual Prefeito de Natal que em menos de um mês de mandato já teve que modificar sua nomeação para a Secretaria da Saúde. Pelo que li no noticiário, a atual ex-Secretária teria nomeado pessoas com sintonia diferente do viés político do Prefeito, seu Chefe. A pressão deve ter sido forte e ele não demorou muito para mostrar que tinha outras ideias e de que atendia ao resultado da eleição popular. Mais do que isto, criou sua própria prova do líder.

Lá e cá, cá e lá, não é diferente no mundo da política. Há poucas vagas de líderes e alguns que conseguem chegar ao topo podem sofrer com o efeito Severino Cavalcanti, aquele que foi Presidente da Câmara, candidato que ninguém imaginava ter chance, mas que acabou sendo eleito em 2005, quando a expressão “baixo clero” ganhou toda sua expressão, toda sua notoriedade. Renunciou (foi meio “forçado” a renunciar) poucos meses depois...

Não nos faltam líderes, alguns conhecidos e outros reconhecidos, muitos são desconhecidos quando o universo se amplia. E esta regra vale para a política, para a religião, para o mundo das celebridades, para os negócios etc. Antigamente se utilizada uma expressão pejorativa, de que “quem tem chefe é índio”. Mas nunca ouvi uma expressão negativa do estilo “quem tem líder é...”; afinal, não faltam candidatos à líderes. Com ou sem prova, com ou sem comprovação.


quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

Completa!

 

Esta era uma expressão até mais comum de se dizer, há alguns anos, quando íamos ao posto de gasolina abastecer o veículo. Não que fosse acessível e barato para todo mundo, mas é que era possível com maior frequência e não afetava muito aquela conta para pagar de uma única vez. “Completa!” acho que deve ser cada vez menos ouvido pelos frentistas e principalmente a partir de hoje.

Até ontem os postos ainda indicavam o litro de gasolina a menos de R$ 6,00, até mesmo por R$ 5,87. Hoje cedo, e eu pensando em abastecer o carro, tomei um susto: no posto de gasolina que tem o hábito de ter um preço melhor aqui em Natal já estava R$ 6,87! Achei tão absurdo que saí em busca de outro, história de ver se eles tinham antecipado o aumento e se alguém ainda tinha preços melhores.

Mas, desisti da ideia depois de passar por cinco postos. O mais barato estava e R$ 6,87 e alguns, diria, postos com uma gestão (bem) mais ousada, já marcavam R$ 6,89. E olha que se a notícia da defasagem dos preços praticados no mercado brasileiro for do tamanho que está sendo divulgada na imprensa, no próximo aumento anunciado pela Petrobras o valor de R$ 7,00 será ultrapassado fácil, fácil, “facinho” mesmo.

Este aumento, de agora, já estava anunciado, mas somente a partir do sábado e por causa do ICMS. Nunca vi tamanho planejamento e antecipação de forma tão coincidente como este aumento de hoje. Fiquei impressionado em ver vários postos já aumentando os preços de um produto que ainda vai ter preço novo daqui a dois dias, no sábado; todos tiveram a mesma ideia de ontem para hoje e todo consumidor deve ter achado estranho tão grande e repentino aumento. Bom, pelo menos eu achei.

Fazendo contas rápidas, um aumento de um real por litro afetará as pessoas de forma diferente. Mas, digamos que uma média de 2 tanques de 40 litros por semana, significará oitenta reais a mais no final do mês e quase R$ 1.000,0 extras em um ano. Muito, sem dúvida. E se fizermos esta mesma conta para as empresas, para as transportadoras que rodam sem parar e que consomem muito combustível, qual será o impacto deste aumento nas despesas destas empresas? Elevado! Naturalmente, é a regra de mercado, o aumento será repassado para toda a cadeia até chegar... a nós. É assim o mercado, no final quem paga a despesa é sempre o consumidor.

Lado bom? E há lado bom? Sim, basta estar “do outro lado” para pensar diferentemente. Este aumento, forte, do tributo e talvez do reajuste no preço das refinarias, significará um aumento de arrecadação para todos os estados, de forma mais imediata, e também para o Governo Federal com os tributos que são arrecadados pela União. Não dá ainda para avaliar se este aumento impactará na redução do consumo mas, pouco provável que diminua consideravelmente, continuaremos, nós e as empresas, a depender de combustível. Para continuar, então, “do outro lado”, a arrecadação de impostos em março e principalmente a partir de abril trará um bom alívio para a contabilidade pública. Bom, não?!


quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Neymar no Arena

Não, não é uma notícia de primeira mão, mas uma vontade de primeira mão. Primeiramente para entender a justificativa de um estádio de futebol que recebe mais público, muito mais público, com qualquer outra atividade do que com jogos de futebol, o que é um pouco esquisito mesmo sabendo que nem todo planejamento acontece na prática como idealizado e mesmo sendo adepto do ciclo PDCA para todos os projetos. Mas, como não foi um projeto amador, a construção de um estádio de futebol deveria ir além dos 4 jogos da Copa do Mundo de 2014.

E alguém dirá que foi um investimento privado. Verdade, mas não totalmente, me parece. Primeiramente foi uma PPP, ou seja, o investimento foi realizado por uma empresa mas está sendo pago pelo que construiu, deduzido o valor devido das receitas que o Arena consegue captar e que acho deve ser pouco, muito pouco em relação ao valor investido e, de qualquer forma, nunca superará o valor aplicado; em outras palavras, o poder público terminará pagando pela obra. E ainda, houve um largo financiamento com recursos públicos, salvo engano do BNDES, ou seja, utilizou-se receita pública para o projeto acontecer, da mesma forma que acontece com investimentos de bancos oficiais para projetos empresariais; mas, há uma diferença, é que para os projetos empresariais a rentabilidade do negócio é suficiente para pagar o empréstimo, e sem aporte de recursos públicos, como acontece com o ressarcimento nas PPP.

De fato, a obra aconteceu, o Arena existe. Nada mais a fazer neste ponto de vista, exceto o de continuar honrando o contrato e o poder público continuar pagando à empresa construtora para que ela continue pagando o empréstimo bancado pelo capital público.

Voltando a Neymar, em breve ele estará no Brasil, no Santos. Após a confirmação de sua chegada o time recebeu um volume muito grande de adesões, de sócios-torcedores, a ponto de não ter mais disponível este serviço para ser oferecido e, se compreendi bem, foram 9 mil novas adesões! Pode ser que sejam todos super torcedores do Santos prestigiando a ideia, mas de qualquer forma é sinal de que ele continua sendo um grande atrativo esportivo e um grande atrativo... empresarial.

Daí minha ideia: que tal Neymar jogar aqui no Arena? Poderia ser um grande (posso dizer?) gol de marketing de contratar uma partida do Santos aqui em Natal que poderia ser do campeonato paulista ou de um amistoso com um time potiguar, ABC, América, aquele time vegano ou time religioso que temos aqui (desculpe, não lembro agora do nome destes dois times). Tenho certeza que os ingressos se esgotariam rapidamente e que as cotas de patrocínio teriam uma procura muita grande, mesmo com o aumento para valores bem acima da média local; aumento, claro, bem justificável. E ainda poderiam render com as chamadas “ativações”, que são aquelas ações de divulgação tais a distribuição de biscoito no supermercado, a degustação e um item em uma festa, o lançamento de um produto junto com um lançamento imobiliário etc.

Tenho até uma sugestão de data: durante o Carnaval! Pode parecer meio estranho, mas é uma época que terá muitos turistas em Natal que estariam dispostos a pagar um bom preço pelo ingresso, principalmente aqueles que moram longe de São Paulo e teriam menos oportunidade de ir até para ver o jogo do Santos; aproveitariam aqui esta super oportunidade.

Neymar no Arenão? Por que não??!

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terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Uma NRF e 3 pós-NRF

 A NRF, para quem não é do setor comercial ou não acompanha as notícias econômicas, principalmente aquelas vinculadas ao varejo, é o maior evento global para o setor de comércio varejista. Acontece anualmente nos Estados Unidos e reúne gente de todo o mundo, inclusive do Brasil e também aqui do RN. Todos os anos há pessoas que decidem aproveitar o turismo naquele país e participar do evento, assim como há caravanas ou como se dizia antigamente, excursões; e para alguns participantes há possibilidade de contar com incentivo ou auxílio da iniciativa privada assim como apoio e incentivo com recursos arrecadados de tributos/entidades.

E todo ano saem notícias de lá que chegam aqui mais ou menos rapidamente, a depender da novidade e da possibilidade de adequação à nossa realidade. É que o evento é nos Estados Unidos e muito focado na realidade de negócios de lá embora, certamente, algumas situações podem ser aplicadas na maior parte do mundo; mas, não é um modelo que pode ser copiado 100% para o comércio local e muito menos de forma imediata.

Apesar da ausência deste imediatismo no copiar-colar das propostas discutidas em muitas palestras, é sempre bom ouvir e conhecer as tendências que se projetam para o mercado global e tentar acompanhar as viradas para não ficar muito isolado das novidades e perder clientes para a concorrência. Como toda palestra de alta-ajuda (assim mesmo, alta pois pretende ser extremamente relevante como ajuda) é preciso dosar a informação, compreender o contexto e saber como aplicar as melhores lições mas, é preciso principalmente ir além do entusiasmo dos 15 minutos que seguem a palestra para esquecer o que foi dito e ficar tudo apenas na memória, na remota memória.

A NRF aqui no RN se desdobra em mais 3 eventos! É um número bom e já estão no mercado anunciando estes eventos, 1 em Natal e em Mossoró agora em janeiro, promovidos por uma organização empresarial, e outra também em Natal mas em fevereiro e organizada por duas entidades representativas do comércio. O primeiro evento (em Natal e Mossoró), como foi anunciado, é restrito a convidados, mais fechada, para um grupo menor seguindo a tradição da organização de promover eventos fechados como forma de prestigiar a contribuição financeira que cada um paga para participar do grupo e receber convites como este. Já o segundo é anunciado como maior, bem maior, será realizado em um espaço de eventos em um hotel de Natal e acessível a todos mas, claro, desde que comprem o ingresso.

Não vi o detalhamento das propostas, mas as três palestras estão estruturadas em uma ideia de marketing muito parecida, a do pós-NRF 2025, ou seja, apresentar – para quem não quis ou não podia ir – o resumo da conferência nos Estados Unidos. É mais ou menos um resumão, um aulão preparatório ou uma apresentação feita por críticos, aqueles que “viram o filme” antes de todo mundo e agora nos apresentaram as ideias. É interessante.

Seria bom participar das palestras para conhecer a interpretação de cada um dos palestrantes, mas não para confrontá-los e saber quem foi melhor, mas simplesmente para ter opiniões diferentes e mais detalhes que podem ser aproveitados pelo comércio local; saber quem melhor e entendeu as novidades da NFR dos Estados Unidos e soube identificar as melhores aplicações (e apresentá-las no pós-NRF do RN) para a realidade local. Para os consumidores e para quem não foi aos Estados Unidos e nem irá nos eventos do RN, a esperar as novidades no comércio local; torcendo para que sejam boas e para que (nos) ajudem com os preços.

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segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

Senhor ou Senhora? Ou Senhore? Ou nada disto?

A semana foi de polêmica e de novidades em boa parte do mundo para saber como devem ser abordadas as pessoas, pelo menos nos documentos oficiais, do Governo. Nos Estados Unidos a nova orientação é que todo documento deve ter apenas duas opções quanto ao gênero, homem ou mulher, senhor ou senhora. A opção senhorita, observe-se, nem mesmo foi cogitada nos Estados Unidos assim como acontece em países da Europa, que já foi abolida há tempos pois foi considerada discriminatória. Isto mesmo, uma abordagem discriminatória pois ao dirigir-se a uma mulher de, por exemplo, meia idade e chamá-la de senhorita estaria, na intepretação que foi utilizada, informando a todos que ela não era casada enquanto para os homens, qualquer que fosse a idade, casado ou solteiro sempre será senhor.

No final da semana passada um posicionamento completamente diferente surgiu na Europa e agora deve ser também oficial, pois é uma decisão da Corte de Justiça da Comunidade Europeia e deve ser seguida por todos os países-membros: é que foi julgado inconveniente utilizar a abordagem de senhor ou senhora em qualquer que seja o documento e principalmente nas correspondências formais governamentais. Qual foi o argumento? Que o poder publico deve adotar uma linguagem neutra, mas não no sentido brasileiro, e sim uma linguagem que seja neutra para enviar documentos aos cidadãos, algo genérico, sem distinção de gênero.

Não sei como farão na prática mas, se fosse em português entendi que começar uma correspondência por “prezada” ou “prezado”, “cara cidadã” ou “caro cidadão” não será mais possível. Terão que encontrar uma nova fórmula que não promova nenhuma forma de distinção; e olhe que por lá será um desafio e tanto, pois cada país deverá adotar a norma no seu idioma.

Divagando aqui, talvez seja utilizar no início da correspondência simplesmente “pessoa” ou tão somente “você”. E nada mais. Será impessoal do mesmo jeito mas parece ser mais íntimo ou mais próximo da pessoa, independentemente de ser um aviso de que o que você estava solicitando foi aprovado ou ser um aviso de cobrança, de alguma penalidade. Será interessante ver isto acontecer.

Aqui no Brasil a chamada pauta identitária já recomendou “todos”, “todas” e “todes”, já recomendou também incluir o “x” (não aquele do Musk!) e poderia ser apenas “todxs” e a mais nova (para ser redundante) novidade é retirar a identificação de gênero, algo que ficaria (imagino) como “tod” ou “tods”; não sei se entendi direito esta última parte, se é isto mesmo.

De qualquer forma, os especialistas em gramática, os linguistas e os etimólogos devem estar em boas discussões filosóficas, conceituais e operacionais para entender como fazer. E se mudar aqui também, como implementar isto nos formulários e documentos formais do governo e depois mudar todos os livros didáticos nas escolas? Mudanças no idioma e na gramática sempre acontecem e em todas as línguas, não será novidade; algumas são facilmente incorporadas, outras nem tanto.

Eventualmente, poderia até alguém sugerir que se adotasse uma prática muito comum aqui no Nordeste na hora de se dirigir a alguém: temos o super informal “ei” ou o tradicional cumprimento à la Didi Mocó (ou Renato Aragão) com o “psiu”. Acho que as duas abordagens – mesmo não sendo as mais simpáticas – até poderiam ter efeito na língua falada mas, não sei se fariam efeito nos documentos formais. Já pensou receber uma notificação de cobrança começando por “Ei, psiu!”? Moderno, não parece? Ou apenas simpático?

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sábado, 25 de janeiro de 2025

2025, ano do pingti?

 O novo é relativamente novo e está ganhando espaço global em função de um movimento de consumo que está partindo da China. Primeiramente é necessário situar um pouco sobre o mercado dos itens de grande luxo, aquelas marcas icônicas da moda e da beleza que tiveram um ano ruinzinho em 2024 (com exceção da LVHM). Para algumas marcas internacionais a queda foi tão acentuada que o mercado anda se perguntando se foi um efeito global ou alguns consumidores começaram a se cansar da marca. O fato é que 2024 não foi um dos melhores anos para o luxo.

E parte dos consumidores responsáveis por esta queda são os chineses (e as chinesas). A queda nas compras de item de luxo lá na China não era algo esperado e nem se projetava uma tendência tão forte como está acontecendo agora. Um dos grandes mercado impulsionador de artigos e serviços de luxo assim como do turismo está nas mãos do poder de compra dos chineses que conseguiram uma melhoria na qualidade de vida e renda e tornou-se um dos países com maior número de milionários nos últimos anos. Com tanto dinheiro assim, foram às compras. E compraram muito, aliás continuam comprando bem mas já não do mesmo jeito.

E com isto que saiu ganhando foi justamente o mercado produtor de pingti! O termo significa itens que se assemelham às marcas tradicionais, globais e chiques, sem repetir necessariamente seu design nem mesmo colocar os símbolos que identificam cada uma delas. Portanto, tecnicamente não é plágio. Nem é pirataria.

E nem tampouco é produto de baixa qualidade, pelo contrário. São produtos bons, com matérias-primas de qualidade, com design elaborado e com qualidade superior à média norma de outras marcas com a diferença principal é que os itens pingti se inspiram nas marcas icônicas; assim, para uma pessoa leiga que esteja desatualizada dos lançamentos de uma destas marcas de brilho até poderia passar desapercebida a origem do item e julgar que seria um daqueles produtos top do mercado.

Os produtos pingti têm outra vantagem: são bem mais baratos do que as marcas icônicas, mesmo parecendo com elas, e também são bem mais caras do que as marcas piratas em função da qualidade, que é uma de suas referências no mercado. E este novo modelo está conquistando os chineses e as chinesas; e a ideia está se espalhando para outros países em que o consumo de itens de luxo já é quase uma tradição. Algumas empresas estão se perguntando se é uma moda passageira ou uma nova tendência de mercado.

Aqui, particularmente, não temos muita preocupação, a maioria dos produtos “parecidos” são verdadeiras piratarias e cópias de pouca qualidade, nada que possa confundir alguém nem quanto à qualidade nem quanto ao preço. Mas, pode até ser uma oportunidade para exibir um modelo inspirado numa grande marca e comprado por um valor bem menor. E se alguém perguntar “o que é isto?” basta responder “é pingti”; claro, com um pronúncia também internacional...

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sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Hospital: crise e lucros (parte 2)

Com a concentração de hospitais e planos de saúde em um mesmo grupo econômico, especialmente observando nossa realidade do RN, aqueles hospitais que são, digamos, “generalistas” devem perder/já perderam uma certa quantidade de clientes ou, para trocar a linguagem comercial pela linguagem médica, pacientes. Temos vários hospitais no RN e, para ficar com os de Natal, alguns maiores como o São Lucas, o do Coração e o Riograndense (acho que é este o nome) que atendem aos demais planos de saúde já devem ter deixado de ser atendidos pelo Hapvida, Humana e mais recentemente Unimed. Certamente, uma queda na receita.

Diminuem as receitas mas as despesas continuam crescentes, como mencionei ontem. E não diminuem, a inflação da área de saúde é sempre elevada e cada vez que a ANS decide que um novo procedimento deve ser incorporado á obrigação de atendimento dos planos, aumentam os custos para todos.

Por isto acho que os hospitais devem focar nos seus centros de receita. E diversificá-los. Praticamente as receitas estão restritas aos procedimentos médicos dos clientes particulares e aos pagamentos dos serviços prestados aos clientes de plano de saúde; em outras palavras, embora sejam dois grupos de fonte de receitas, o serviço prestado é único, entre consulta, exame e internação.

Eventualmente poderiam ser inovadores em outras atividades, todas correlatas com a área da saúde. Como ideia e, claro, de forma teórica pois não sou da área, poderiam ter centros clínicos especializados em algumas áreas de saúde que exigem baixo ou menor custo mas com uma grande demanda de serviços. Penso nas atividades de fisioterapia, atendimento psicológico, nutrição (e alimentação saudável) ou ainda dermatologia. Quando menciono o baixo ou menor custo não estou me referindo ao valor a ser remunerado aos profissionais, mas o fato de que geralmente são atividades que demandam poucos exames sofisticados (aqueles, das máquinas caras, de alta tecnologia) e uma estrutura com muito foco no acolhimento e na qualidade do espaço, mais do que no universo tecnológico e que não demandam, por exemplo, atendimento 24h com os elevados custos de manutenção de equipes (considerando os encargos trabalhistas).

E talvez a percepção para o cliente de que o serviço médico está associado a um hospital dê ainda mais segurança em buscar o atendimento pois terá uma consulta tão bem qualificada como em um consultório médico como poderá contar, ali do lado, de forma mais imediata, da disponibilidade de um serviço complementar, como por exemplo um exame.

Acredito que este complemento poderá gerar algumas vantagens para vários interessados. De um lado, os hospitais poderiam ter mais serviços a ofertar e uma maior receita, do outro lado as pessoas terão uma  maior oferta de serviços e poderia ir a uma consulta e, se necessário, passar por um corredor ou atravessar uma rua para fazer algum exame, ali do lado, sem ter que sair buscando a melhor disponibilidade em um ou mais endereços.

E ao final a grande vantagem é que poderemos ter até mesmo mais hospitais, neste novo formato. Há tempos que não temos grandes investimentos neste segmento, apesar do aumento da população e de seu envelhecimento, que gera um crescente aumento de demanda.

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quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

Hospital: crise e lucros (parte 1: a crise)

Os hospitais estão passando por mais uma transformação ou adaptação ou ainda, considerando as constantes mudanças necessárias, apenas mais uma nova fase. Aqui no RN tivemos alguns movimentos no mercado nos últimos anos com os planos de saúde “invadindo” o que era uma área isolada: de um lado os planos de saúde e do outro os hospitais. Mas, depois do hospital do Hapvida, do fim da Promater como hospital de amplo atendimento e mais recentemente o hospital da Unimed, quem não está em nenhum dos planos de saúde exclusivos destes hospitais acaba tendo mais dificuldade pela ausência de nova oferta de serviços, de grande porte.

Toda esta movimentação não tem como vínculo principal a qualidade do atendimento nem mesmo uma campanha de marketing de oferecer uma exclusividade para os associados de cada plano. É bem verdade que estes dois fatores estão presentes e podem sempre ser explorados neste novo modo de vida dos hospitais que são planos de saúde ou planos de saúde com hospitais. Mas, claramente, a motivação é outra: reduzir custos.

Os custos de atendimentos médicos para os plano de saúde têm aumentado mais do que gostariam e do que se permitem no valor das mensalidades. Dois fatos explicam este aumento, os custos de internação e a inovação tecnológica. A saúde custa caro, cada vez mais caro, e sempre que um cliente de plano de saúde se transforma em paciente internado em um hospital o valor a ser cobrado dos planos é bastante elevado; é que além do custo de mão de obra tem aquele de todo material utilizado e o da medicação, cada vez melhor e mais cara, e o fator idade, o prolongamento da vida dos brasileiros que faz que com que os custos com cuidados de pessoas idosas seja bastante elevado (e mais ainda quando há necessidade de internação na UTI). Isto é muito bom, todo este cuidado e atendimento médico, para o cidadão é a melhor respostas esperada e, particularmente, acho que não é a redução destes “custos” que deve entrar na pauta nem de hospitais nem de planos de saúde.

E há a tecnologia, um fator que eleva bastante os custos médico-hospitalares. Hoje parece que é praticamente impossível ir ao médico (em certas especialidades) sem que seja solicitado um ou mais exames com máquinas “modernas”, super invasivas e bastante detalhistas (novamente deixar claro que acho tudo isto muito bom do ponto de vista do ser humano!). Alguém tem que comprar uma máquina caríssima, garantir os insumos para poder fazer exames e pagar pelos profissionais; isto custa caro e, certamente, tudo é repassado para os planos de saúde. E não há o que fazer, pois cada médico tem sua liberdade. E neste período recente, e considerando que parte desta tecnologia é importada, assim como os insumos, a alta do dólar não ajudará em nada nesta conta.

O caminho dos planos de saúde para tentar conter os seus custos foi realizar tudo ou quase “em casa”, criando seu hospital, uma forma de diminuir o valor a ser pago ou uma tentativa de controlar os custos. O efeito disto é que os outros hospitais, aqueles que atendiam a muitos, agora têm menos clientes e, consequentemente, podem ter uma redução na demanda de serviços embora, por outro lado, os custos de implantação e manutenção no mínimo continuam os mesmos. É possível que alguns hospitais tenham uma resultado negativo com esta movimentação e, infelizmente para a população do RN, com menor demanda de serviços e internações hospitalares diminui a possibilidade e expectativa de novo investimento em hospital no RN.

Estamos no tempo de “meu plano, meu hospital”.

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quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

Até tu, Musk?

E eu que pensava que a ajuda de Elon Musk na campanha de Donald Trump era apenas uma ajuda de campanha, algo como puxar votos e fazer uma boa contribuição para o caixa de um campanha, diga-se de passagem ao estilo norte-americano que deve ser a mais cara do mundo. Achei que depois disto ele iria apenas usufruir da amizade com Trump. Mesmo depois da vitória e toda a parceria,  euainda continuava achando que não iria muito adiante.

Mas, se bem entendi nesta segunda-feira, com a posse de Trump, Musk será funcionário público! Quem diria que o super, ultra e mega milionário pudesse participar diretamente da administração pública? Fico imaginando ele com uma matrícula do novo emprego e no final do mês (se é que acontece assim o pagamento por lá) ele recebendo seu contra-cheque e procurando o depósito do salário na conta bancária dele; deve ser bem difícil mas, fica uma dica (será que ele precisa de uma dica?): basta procurar o menor valor depositado na conta dele que será o salário de funcionário.

Nada, claro, de desprezar o salário, maior ou menor, mas convenhamos que para ele um salário de funcionário público não faz o menor sentido. Nenhum, mesmo. Mas, se ele está trabalhando, tem todo o direito de receber seu salário, de ter direito a horas extras e de receber diárias... claro, não precisará de passagem aérea pois deverá ir de “condução própria”, seu jatinho (ou “jatão”)!

Voltando para nossa terra comum, o Brasil, o sonho de ser funcionário público persegue um gigantesco contingente de pessoas que tentam todos os anos diferentes concursos públicos até conseguir uma vaga, ainda que não seja aquela especial, aquela desejada e sonhada, mas é aquela que oferecerá estabilidade e garantia de salário no fim do mês. Esta cultura do funcionário público está tão incutida na mentalidade do brasileiro que fomos capazes de criar algo, que começou meio na malhação, em algo sério, planejado, organizado e com dedicação: o tal do concurseiro. Concurseiro não é profissão, mas é dedicação.

Em outros países de melhor economia ser funcionário público nem sempre é a primeira das opções, exceto talvez para as carreiras de educação e saúde que são (em vários países) verdadeiras carreiras públicas pois o serviço é predominantemente mantido pelo Estado. Não é assim nos Estados Unidos. Aliás, aqui é o poder econômico do cargo público que atrai muita gente.

Então, até tu Musk? Certamente não é uma questão de poder econômico, mas de poder político-decisório o maior atrativo do novo emprego. Até tu Musk? Sim. O poder é sempre inebriante, em português ou em inglês, em reais ou em dólar. Any questions?

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terça-feira, 21 de janeiro de 2025

O (comum) desafio das drogas

Semana passada uma das notícias que circulou em todas as mídias foi o muro construído na cidade de São Paulo para isolar o espaço conhecido como Cracolândia. Entre a argumentação oficial, de proteger os públicos de dentro e de fora e de melhor coordenar o atendimento, e a contestação de que seria uma segregação, o resultado é que é mais uma tentativa de resolver um dos graves problemas sociais do mundo inteiro, e não seria diferente aqui no Brasil.

Já foram realizadas várias tentativas em vários lugares do mundo. Um delas, icônica, foi uma praça em uma cidade da Suíça em que foi oferecido todo o atendimento à população de drogados, desde a oferta de seringas (para evitar contaminações na uso coletivo), de serviços médicos e até mesmo de pequenas doses diárias de droga para tentar evitar os pequenos furtos de viciados que buscavam, de qualquer forma, arranjar dinheiro para as drogas. Não deu muito certo e um dos resultados mais surpreendentes foi que a tal praça atraiu mais drogados e até de países vizinhos! O efeito colateral, nunca imaginado, foi que a oferta de tanto serviço, inclusive de droga, tornou-se um atrativo para outras pessoas; inacreditável, mas real.

Não era um muro, como em São Paulo, mas era uma tentativa de segregação ou pelo menos de aglutinação de pessoas em local único. O princípio talvez seja de que se não pode eliminar o problema das drogas, pelo menos reunindo em um mesmo local os consumidores fica mais fácil de controlá-los. Infelizmente, não sei se dará certo.

Hoje, globalmente falando, o problema maior nem é mais a produção de cocaína da Colômbia e sua “exportação” para o mundo inteiro e por um fato bem simples: é que no mundo mais rico já desenvolveram tantas drogas sintéticas que nem precisam de área para plantio, basta um laboratório em uma casa abandonada ou um pequeno galpão. E, como apontam as informações internacionais, com a facilidade de estar próximo do mercado consumidor, sem ter que enfrentar as políticas de fronteiras. Triste realidade.

Aqui no RN também temos algumas iniciativas e talvez tenhamos bem mais, apenas não tão divulgadas. Uma delas está com a entidade Desafio Jovem Ebenezer, lá de Extremoz, que deve receber R$ 300 mil do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate Fome para um projeto com duração prevista de um ano para “promover a capacitação de profissionais, voluntários e acolhidos na fase final do tratamento do Desafio Jovem Ebenézer em Extremoz/RN visando a redução da demanda de drogas, através de cursos profissionalizantes”. É uma ação, também já utilizada em vários lugares, de promover uma saída das drogas por meio de qualificação profissional e tentativa de inserção no mercado de trabalho.

São R$ 300 mil investidos no projeto de Extremoz. Na torcida para que o resultado seja positivo. Não há solução única para a crise das drogas, infelizmente. Se o projeto superar os resultados, bem que poderiam mandar mais dinheiro para outras associações e organizações sem fins lucrativos. Espera-se que sim.

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segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

Admirável mundo novo

Hoje é a posse do mais novo presidente dos Estados Unidos, Donal Trump. Na verdade, nem tão novo assim pois ocupará pela segunda vez o mesmo mandato de um país que continua bastante poderoso não somente do ponto de vista econômico como também do ponto de vista bélico. Um desafio e tanto para qualquer pessoa, gerenciar tudo isto e tentar de alguma forma melhorar a vida de sua população afinal, este é um dos propósitos de quem chega ao cargo principal de um país, desde que pelas vias da democracia. O problema, e aí é de todos nós, é que as ações adotadas nos Estados Unidos podem ter reflexo muito direto em muitas partes do mundo ou em um punhado de países, inclusive o Brasil que, vale lembrar, não está imune neste cenário cada vez mais real.

No distante ano de 1932 o inglês Aldous Huxley publicou um livro – que depois virou filme e até série de TV – que ficou famoso, entre outras razões por seu título: Admirável mundo novo. O enredo é sobre futurismo, um futuro muito longe, o ano de 2540 em um mundo absolutamente diferente do atual não somente em função dos naturais e previsíveis avanços tecnológicos como também das mudanças sociais e da forma de ver as coisas. Tudo diferente e até mesmo meio esquisito para os padrões atuais.

Algumas pessoas neste imenso planeta estão pautando o dia de hoje não no livro de Huxley, mas no seu título, com a ideia de que a posse de Donald Trump será o começo de um outro “admirável mundo novo”. De fato, pelo menos com os anúncios pré-posse, poderemos ter um mundo diferente, mas não sei se novo; é que a ideia de anexar o Canadá e a Groenlândia, por exemplo, não tem nada de novo no contexto de anexação de territórios como não tem nada de admirável do ponto de vista político-democrático.

Parece certo que os dados econômicos globais mudarão se o discurso se transformar em rápida realidade, como querem alguns, a começar pela China, outro gigante bélico e econômico que costuma agir mais em silêncio do que disputar o noticiário internacional. O mundo já foi bipolar, no sentido das forças que o dominavam, nos tempos da Guerra Fria e agora, pelo menos do ponto de vista econômico, continuamos neste formato dual, e uma ação mais dominadora não ficaria sem resposta.

Não se trata aqui de defender ou atacar nem a direita nem a esquerda política, embora Trump não deixa dúvidas sobre seu viés político. Qualquer que seja o ideal ou a ideologia política e que esteja marcada pela ausência de democracia plena sempre beneficia um grupo menor de interessados e isto vale desde as disputas em centros acadêmicos, em partidos políticos e em alianças que dominam o poder de um país, de um estado ou de uma cidade. O resultado da hegemonia não-democrática tende a ser ruim e até muito ruim, com a diferença de que antigamente demorava mais para sofrermos com as consequências e hoje é tudo muito rápido.

Como nos ensinou há muito tempo um cara chamado Newton, naquilo que ficou conhecido como a terceira lei de Newton, à toda ação corresponde uma reação e, segundo ele, na mesma intensidade e, claro, no sentido oposto. Não sei se hoje começa um “admirável mundo novo” mas, se algo novo estiver começando espero que não seja no formato da obra de Aldous Huxley.

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sábado, 18 de janeiro de 2025

Kibon também é vintage

Dois nomes cresceram em gerações e condições bem diferentes: Kibon e a palavra de origem inglesa (na verdade, derivado do francês) vintage. Para quem foi criança-adolescente nos anos 1980/90 sabe bem o que representava o nome Kibon, garantia de festa bem movimentada, animação certa; aqui no Nordeste, mais especialmente em Natal, o nome ganhou muito espaço quando comprou a Sorvane e passou a ser Kibon-Sorvane por alguns anos. A Kibon, que sempre foi uma multinacional, mudou muito ao longo dos anos e adotou até uma identidade visual que era (acho 100%) global, embora com outros nomes em outros países.

Mas, ainda sendo nostálgico, e por causa da novidade, nos anos 1990 comprar um picolé Kibon tinha quase uma motivação principal, ou duas: teve um tempo em que os palitos de picolé eram em plástico, e coloridos, que permitiam a montagem para criação de alguns objetos, a depender da criatividade e da quantidade de palitos que cada um tinha (não era um Lego, claro, mas lembrava um pouco o conceito) e depois teve o tempo do “palito premiado” em que a ansiedade da turma jovem era consumir logo o picolé para saber se havia uma inscrição no palito com direito a um novo picolé, 100% de graça! Era pura emoção saber quem ganhava o picolé extra.

Pois bem, como se dizia antigamente, a Kibon voltou com a promoção do picolé premiado! Mas, nem adianta sair procurando aqui em Natal ou no RN esta promoção, pois foi criada – e por pouco tempo – apenas em algumas praias do litoral paulista, Bertioga, Caraguatatuba, Guarujá, Santos, São Sebastião e Ilhabela. Não vi ainda notícia de seu certo, se virou “febre” entre a turma mais jovem de sair buscando a premiação e querendo comprar um picolé Kibon todos os dias, várias vezes ao dia; acho também que os adultos de hoje, crianças-adolescentes dos anos 1990 (quando foi lançada a promoção) até entrarão na onda. E em breve alguém aqui no RN que esteja passeando por uma destas praias postará uma foto no Instagram ou no Tik Tok com a conquista do prêmio (eu nem faria a troca, guardaria o palito para mostrar para todo mundo...).

Esta é mais uma prática do conceito vintage – embora picolé não seja vintage, claro! –, da proposta de resgatar a memória de tempos passados para conquistar novos e mais jovens clientes mas também de fazer com que pessoas que viveram naquela época possam usufruir do passado, de foram real, presencial, com um objeto concreto, ainda que tenha sido fabricado recentemente mas com todo o design de antigamente (se você tem dúvida basta ver os lançamentos de toca-discos modernos que resgatam todas as características dos modelos antigos; e até vendem bem). Para os que são contrários ao consumo ou consumismo deve ser uma tortura rever estes relançamentos, o tal consumo “afetivo” ou “confortável” em que se recupera a memória para validar uma velha-nova proposta comercial anos e anos depois; a indústria do consumo cultural que o diga.

O mercado é assim mesmo, aproveita as oportunidades e quando elas estão pausadas, basta recriá-las com nova roupagem ou novo marketing para tentar validar e revalidar produtos e serviços de sucesso. Não teremos estes picolés premiados da Kibon em Natal. Pelo menos por enquanto.

Mas, quem sabe pode inspirar a concorrência? Poderíamos ter nossos picolés-sorvetes com marcas de qualidade lançando sua própria campanha. Seria uma boa ideia. Eu entraria na fila para prestigiar a ideia e as empresas do RN; mais de uma vez!
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quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

Netflix Natal ou Netflix RN

As mudanças tecnológicas estão afetando há pelo menos duas décadas as audiências dos canais mais tradicionais de televisão, que comumente passaram a ser chamados de canais aberto. É claro que a concorrência começou bem mais cedo quando os canais a cabo ou tv por assinatura começaram a aparecer com suas programações variadas e principalmente com a quantidade de canais temáticos, entre filmes e jornalismo, entre desenho animado e esportes. Era um concorrência desleal visto que a tv a cabo permitia ter em casa vários canais com diversos programas enquanto os canais tradicionais tinham que que incluir em sua programação tudo o quanto era possível para poder agradar um universo maior de clientes, em um único canal.

Esta novidade deixou de existir, há anos. Os canais de tv a cabo e seus pacotes com 50, 60, 70 e até 100 opções de canais estão sofrendo uma outra concorrência, passando pela mesma dificuldade estratégica das tv abertas: como concorrer com os canais de streaming que oferecem um outro serviço, além da diversidade – que passou a ser uma exigência básica –, a de poder escolher a hora de assistir o que quiser. Algo, para os mais antigos, como um videocassete em que a gente gravava alguma coisa que queria ver pois estaria ocupado ou fora  de casa naquela hora; o streaming faz isto sem a gente precisar se preocupar, e nos permite assistir o que quiser e a qualquer hora.

É mais ou menos como ter o acervo de muita coisa disponível para acessar ou, em outras palavras, a tv passou a ser igual à internet: está tudo lá apenas esperando que a gente faça a nossa opção, e aquele canal que tem um mesmo nome para todos não exibe a mesma programação para todo mundo ao mesmo tempo. Temos agora um gigantesco menu para escolher um amplo “à a carte” de acordo com a vontade daquele dia, daquele momento.

O curioso é que Netflix, de certa forma, inaugurou um pouco este conceito de diversidade a todo tempo mas, na verdade quem acertou primeiro ou pelo menos quem conseguiu primeira chegar ao grande público foi o You Tube. Para termos uma dimensão deste espaço, apenas a plataforma You Tube já corresponde a 10% de toda a audiência de todas as televisões do mundo! Pode até parecer pouco, mas se considerarmos que muita gente neste mundo não tem acesso à internet, é um resultado surpreendente.

E o que é melhor e mais surpreendente é que todo mundo trabalha de graça para o You Tube. Sim, cada vez que alguém coloca um conteúdo novo e permite a visualização gratuita, apenas está ampliando o leque de opções deles, está contribuindo para a audiência deles e para a fixação da ideia de que tudo (ou quase tudo) está com eles. E mesmo que não seja deles, vale destacar, parece que foi o You Tube quem promoveu.

O consumidor já entendeu esta lógica e sabe bem como utilizá-la. Mas, a concorrência é acirrada, de conteúdo e acesso, entre Netflix e You Tube; e continuará. Talvez, quem sabe, teremos mais de uma Netflix no futuro breve, com seus nomes, assim como a tv cabo exibe vários canais em um pacote promocional de vendas. Se isto acontecer de verdade teremos, quem sabe, uma Netflix Natal ou Netflix RN. E aí precisará de conteúdo, de muito conteúdo; e será o tempo em que seremos, aqui, consumidores de informação mas também as produziremos. E passaremos a apresentar o RN, mais e melhor.

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quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

Sabemos escrever redação?

A divulgação do resultado das provas do Enem 2024 foi surpreendente em relação à nota máxima na prova de redação: apenas 12 pessoas, um dúzia de sortudos, competentes, excelentes etc e quaisquer outras formas de denominação conseguiram obter maior nota, o que seria um “dez! nota dez!”, como se dizia na apuração do Carnaval do Rio de Janeiro.

Doze, apenas. Nem é pouco, é simplesmente irrisório, ridículo que em mais de 3 milhões de pessoas que fizeram a prova e, vamos imaginar que quase todos tenham feito a redação neste universo tão gigantesco, somente 0,0004% conseguiram acertar tudo ou pelo menos não errar nada. Mal comparando, a probabilidade de acetar a Mega-sena com uma aposta única, a mais simples, é de 0,00002%. Em outras palavras, quem ganha na Mega-sena é muito, mas muito sortudo e quem ganha nota máxima na redação do Enem também é um pouco sortudo.

Claro que são sortes diferentes! Digo  sorte pois a prova é corrigida por dois professores e há milhares deles para corrigir tantas provas e apesar de todo o tecnicismo que é exigida na “folha de rosto” de correção, deve-se ter um pouquinho de sorte. É evidente que a nota máxima não é nenhum demérito de quem a conseguiu, pelo contrário! É um sucesso que deve ser plenamente comemorado e plenamente reconhecido e seus autores deveriam receber no mínimo uma medalha ou um diploma adicional do Inep, órgão federal que organiza as provas.

Fico imaginando quantos conseguiram 990, 980, 970, 960 ou até 950 na redação, faltando tão pouquinho para a nota máxima. No mínimo, falta de sorte ou uma palavra escrita de forma errada, uma vírgula fora do lugar ou um argumento que não foi bem aceito etc.

O grave, na minha opinião, é que tamanha excelência em tão grande universo de candidatos pode acabar desestimulando alguns candidatos ou deixando outros mais aflitos por ter “apenas” obtido um 980 ou 990. Do ponto de vista técnico, deve estar  em compatibilidade com o edital mas, do ponto de vista pedagógico e do ponto de vista institucional acho que este rigor na correção das provas pode ser um pouco menor. Entendo plenamente que os mais tecnicistas defenderam o rigor do edital e argumentarão que a prova é corrigida por pessoas diferentes e que não se conhecem etc; concordo, mas também discordo um pouco, pois se a correção fosse apenas restrita à parte gramatical bastaria chamar o ChatGPT e o resultado sairia em menos de 24h. Mas, ainda é uma tarefa humana que exige leitura e compreensão do texto, uma avaliação pessoal do que foi escrito.

Em outra comparação, ano passado foram 60 pessoas com nota máxima, um número “bem maior” do que deste ano, cinco vezes mais. Da mesma, em uma comparação proporcional, os estudantes com nota máxima no ano passado foram 5 vezes melhores do que os estudantes com nota máxima este ano... Claro que a comparação não pode ser assim, pois não é estritamente tecnicista. Em outra forma de avaliação e ao mesmo tempo de pergunta, o que explica esta queda tão “vertiginosa” na redação de 2024 comparando com a redação de 2023? Foi o tema, estava mais fácil ano passado ou mais difícil este ano? Difícil de avaliar e difícil de saber, ainda que se analise todas as provas de redação.

O que vai mudar para 2025? Provavelmente nada. Talvez tenhamos apenas 1 nota máxima, para seguir a tendência de queda, ou talvez tenhamos muitas notas máximas; devemos apostar em 0,0004% ou podemos apostar em um crescimento 10 vezes maior para chegarmos a outro tão pouco, apenas 0,004%? Quem arrisca?

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terça-feira, 14 de janeiro de 2025

9 emendas para a Uern e Ufersa

As emendas parlamentares, objeto de tanto debate em Brasília, tem seus efeitos diversos na sociedade brasileira, como já vimos, com valores destinados a ONG que fazem um trabalho mais direcionado para o padrinho ou a madrinha que destinou recursos do Orçamento. Aliás, isto não é novidade de agora, já faz tempo que este direcionamento ocorre em todas as esferas, seja federal, estadual e municipal. Aqui já cabe uma primeira ressalva: direcionar recursos de emendas parlamentares para ONG que contam com apoio dos parlamentares não é, pelo menos em tese, nada ruim nem contraditório, afinal é mera liberalidade do parlamentar escolher para quem vai mandar o dinheiro assim como, naturalmente, escolherá a entidade que tenha alguma afinidade de trabalho, pessoal ou até mesmo ideológica.

Outras emendas, infelizmente, são necessárias, mesmo aquelas que se destinam para órgãos públicos. Digo “infelizmente” pois o orçamento de cada ente público deveria ser suficiente para realizar seus projetos comuns, dentro da perspectiva de gerenciamento das contas mesmo quando exigiria algum controle de despesas, algo que não tem nada de esquisito e que todos nós fazemos quando temos um projeto ou um investimento novo: uma das alternativas mais viáveis é reduzir uma despesa aqui para alcançar um projeto ali.

Aqui no RN encontrei informações de emendas parlamentares de 2024 para a Ufersa e para a Uern, não achei as da UFRN (acho pesquisei pouco). No ano passado a Ufersa teve emendas no valor de R$ 5,5 milhões enquanto a Uern recebeu (de parlamentares federais) menos, R$ 1,5 milhão. Quando se observa o valor das emendas com os recursos que recebem para suas despesas anuais, não é algo impactante, talvez uma economia aqui ou ali, uma otimização de despesas em um dos centros de custos poderia contribuir da mesma forma.

Mas, é a regra do jogo, as emendas estão aí e então cabe a cada um do setor público ou do setor privado buscar uma nova e inesperada fonte de recursos, fazer gestão com os senadores, deputados federais e estaduais e sem esquecer os vereadores para que apareça um extra ao longo do ano. Não seria, claro, nada ruim para quem vai receber. E, vale dizer, são várias opções disponíveis. No ano passado, por exemplo, a Ufersa recebeu emendas parlamentares dos Deputados Federais General Girão e Benes Leocádio e dos Deputados Estaduais Sargento Gonçalves e Paulinho Freire e do Senador Rogério Marinho, enquanto a Uern recebeu dos Deputados Federais Fernando Mineiro, João Maia e Natália Bonavides  e do Senador Rogério Marinho.

No total, foram 5 deputados federais, 2 estaduais e 1 senador (com duas emendas) que “investiram” em projetos destinados às universidades no RN, com quase R$ 7 milhões. Na verdade, o valor financeiro é pequeno mas, considerando a quantidade de pedidos que os parlamentares devem receber ao longo do ano, não deixa de ser um privilégio para quem consegue alguma coisa. Em 2025 as emendas já foram definidas; quem não correu atrás, é esperar por 2026 e torcer para que, em pleno ano eleitoral, a regra não mude.

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segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

Juros: muito e pouco

 O órgão que regulamenta e autoriza a taxa de juros para os empréstimos consignados do INSS decidiu autorizar um aumento, onerando o custo para os aposentados. A decisão é recente e já está em vigor para 2025, lembrando que tivemos um longo embate há alguns meses quando houve a decisão de criar um teto da taxa e que gerou insatisfação por parte de algumas empresas e bancos, argumentando que os custos não compensariam, não seria mais vantajoso oferecer dinheiro para empréstimo. Foram derrotados nesta luta e os bancos oficiais contribuíram, de certa forma, para a decisão governamental.

Agora, com a nova taxa de juros do mercado e os aumentos sucessivos da chamada taxa Selic, não teve jeito: o teto que era de 1,66% ao mês terá um pequeno reajuste, passando para 1,8%, e isto para os empréstimos em que o pagamento ocorre diretamente com o desconto na folha, ou seja, para aqueles em que o risco é bem menor, quase zero. A diferença neste aumento é pequena, apenas 0,14% ao mês, algo imperceptível para a maioria dos aposentados, principalmente para aqueles que fizeram empréstimos para pagamento em um curto período de meses.

Fazendo as contas, quem tinha um consignado de R$ 10 mil reais teria um total (em um ano) a pagar de  R$ 13.203,79. Mas agora, com a nova taxa, o valor será de R$ 13.406,90, uma diferença de R$ 203,10 ou, se você preferir, um custo adicional mensal de R$ 16,93. É um valor baixo, sem dúvida, cobrado a mais por mês. A questão para o aposentado é que o consignado tem uma duração maior no prazo do pagamento e isto acaba onerando as contas.

Com a antiga taxa de juros o valor do empréstimo consignado era de 19,92% ao ano e passará para 21,6%. E em um empréstimo de 5 anos, por exemplo, o aumento será impactante, é como se o aposentado tivesse um aumento de mais um ano de juros em suas despesas; a conta, nesta hora, já pesa e poderá impactar mais efetivamente na receita da família.

Por outro lado este simples aumento é muito interessante para os bancos, as empresas de consignados e os agentes financeiros que fazem os empréstimos. É que quando se multiplica este aumento pelos milhões (dezenas de milhões?) de pessoas que fazem consignados todos os anos, a receita das empresas terá um bom salto, e 2025 será um ano bom para eles.

De quem é a culpa deste aumento? Da taxa Selic, claro. Com o patamar de 14,25% não há outra solução, tudo fica mais caro, a começar pela mercadoria mais valiosa deste mundo, o dinheiro. O valor da taxa dos consignados pode ser definido por “lei”, por alguma norma editada; já a taxa Selic segue outra, aquela conhecida de todos nós, a “lei do mercado”, também conhecida por ser incontrolável.

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sábado, 11 de janeiro de 2025

Onde estão nossos imigrantes?

 Conhecemos as histórias no Brasil da imigração italiana e japonesa, vários relatos já foram transmitidos da chegada destes imigrantes ainda no início do século passado, praticamente toda concentrada em São Paulo e no Sul do País. As influências italianas e japoneses, embora muito presentes em São Paulo, se espalharam em todo o Brasil e hoje praticamente incorporamos muitas práticas no nosso dia a dia, em especial no que se refere à gastronomia. Quem percorrer o Sul do Brasil encontrará também a presença da imigração alemã, polonesa, lituana  etc.

Aqui no Nordeste os fluxos migratórios foram menores, bem menores. E no RN, não tivemos um fluxo migratório para fazer parte de nossa história. Mas, temos a história de um mini-fluxo, digamos assim, de imigração japonesa que chegou aqui no RN em 1956, uma tentativa de conciliação de experiências diferenciadas e que foi patrocinada pelo Governo do Estado. Foram poucos e ficaram poucos.

As condições imaginadas e talvez até mesmo prometidas não se transformaram em realidade no território potiguar e resultou nesta única experiência, seja com os japoneses seja com o incentivo e atração de outros grupos imigrantes estrangeiros. Tentaram e não deu certo.

Aqueles que aqui chegaram foram divididos em dois grupos com destinos geograficamente bem distintos: um grupo ficou em Pium, aqui perto de Natal, enquanto o outro foi para Punaú. A realidade, em 2025, destas duas, digamos, minicolônias é apenas pontual: há um bom tempo estive em Punaú e a única referência que escutei e que havia na cidade a “casa do japonês”, mas que era uma família muito reservada, havia pouca interação deles com a população local e vice-versa. Em Pium há notícia da resistência de um núcleo familiar mas, infelizmente não conheço.

Na época quem ajudou com a tentativa de resultados com estes imigrantes foi a Igreja Católica, com intervenção direta de Dom Eugênio Sales, um trabalho de aproximação, de valorização e de integração com o grupo estrangeiro. Recordo – infelizmente! – de poucos detalhes que meu pai comentava sobre o trabalho da Igreja, principalmente em Punaú onde houve uma intervenção ainda maior para beneficiar toda a população, em especial a educação de base com os rádios que eram distribuídos para que tivessem acesso à educação. Houve até mesmo a criação da Casa do Estudante Japonês, em Natal.

Claro que recebemos (relativamente) muitos estrangeiros no RN mas, nada de um fluxo migratório programado ou intenso. Temos um bom número de estrangeiros morando no RN, principalmente na Grande Natal e nos destinos turísticos mais voltados para o turismo internacional; mas temos na economia produtiva uma única influência estrangeira na área do agronegócio, com japoneses que investem na cultura do melão na região mossoroense. Mais recente, com a crise da ditadura na Venezuela, recebemos alguns imigrantes. Mas, acho que ainda desconhecemos muito da cultura venezuelana pois parece que a ação humanitária de acolhida foi o motivo principal; não sei, por exemplo, se temos alguma lanchonete ou restaurante que ofereça parte da culinário venezuelana (até teria curiosidade de conhecê-la!).

Onde estão os imigrantes do RN? Tudo indica, dispersos.


sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

Museus “para inglês ver”

 Sim, temos museus no RN! Sim, temos museus em Natal, alguns popularmente mais conhecidos e outros menos visitados e até mesmo menos divulgados. Mas temos, além de museus, outros pontos culturais em Natal, a cidade do RN que recebe maior número de turistas. E estamos em plena safra do turismo, para quem tem alguma dúvida basta ir em Ponta Negra na parte da noite ou circular pela via Costeira durante o dia para contar quantos bugres passam diariamente por lá cheios de turistas em direção às praias mais distantes da Capital.

Nosso turismo é e sempre foi o tal do “sol e mar”. É uma característica presente em várias cidades do mundo, seja a (decadente?) Cancún sejam as cidades do Mediterrâneo sejam os destinos paradisíacos da Ásia: acho que poucos são os que se propõe viajar até as Maldivas ou Fidji colocando como prioridade outra justificativa a não ser as belíssimas paisagens das ilhas e praias; claro, acompanhadas dos resorts e dos coquetéis na beira da praia. Não acompanho muita esta turma, nem destes influenciadores, mas dentre as fotos mais populares não estão as visitas às feiras de artesanato, a paisagens interiores ou até mesmo aos museus ou centros de exposição...

E é assim o tal do turismo de “sol e mar”. Funciona e funciona muito bem desde que acompanhado de outras características, de outros aspectos que realcem a memória do visitante e que faça parte de seu destino exceto, claro, se a intenção da viagem é apenas ficar na praia o tempo todo. Mas, quando o destino turístico oferece outras oportunidades de atividades de lazer, ele fica bem mais atrativo. Em geral, o turista sente-se atirado – além das belezas naturais – por atividades esportivas, gastronomia e cultura.

Para ficar no tema da cultura, muitos museus no mundo inteiro são famosos e tornam-se ponto de visitação mesmo para aqueles que não são, por exemplo, os principais amantes das artes. Basta lembrar que em São Paulo o Masp é o museu mais visitado e nem por isto frequentado apenas pelos amantes das artes, profissionais e estudantes do ramo. É que torna-se emblemática a visita pela oportunidade que oferece de conhecer um museu com suas riquezas e diversidades. É algo – aliás, que aconselho – vale a pena visitar quando passar (ou passear) por São Paulo.

Aqui em Natal temos museus. Não os conhecemos tão bem e talvez pelo fato de não terem o mesmo reconhecimento externo, digo, de quem vem de fora e busca o museu com uma opção e lazer e de cultura. O mais conhecido, por nós, é o Câmara Cascudo mas, acho, pouco visitado pelos natalenses. Talvez o mais visitado aqui na Grande Natal seja aquele em Parnamirim que tem um modelo de avião (sempre me pergunto se é real!) e outro de um foguete: é que ele está no meio do caminho do turista que segue para o Litoral Sul e acaba aproveitando para parar e ver o que há por lá.

Temos museus em Natal. Nem todos estão neste “meio do caminho do turista”. Mas, bem que poderiam estar e poderia ser justamente agora, na alta estação. Mas não para ser um museu “para inglês ver”, para usar a velha expressão debochada, mas para francês, português, espanhol, argentino etc ver assim como também para paulista, carioca, pernambucano, cearense etc ver. E também os potiguares.


quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

Faltam 100 dias

 Faltam 100 dias para o 18 de abril, a data em que se comemora a Paixão de Cristo, um grandioso e tradicional evento religioso que é celebrado em todo o Brasil, alguns lugares com grandes apresentações e forte participação popular, enquanto em outros com participações mais restritas às igrejas católicas e ao público mais devoto. Neste dia de religiosidade nacional e assim como acontece em outras datas (Páscoa e Natal, por exemplo) o “mercado” aproveita a oportunidade para movimentar a economia, em especial quando a data permite, para transformá-la em evento turístico, ou seja, torna-se uma oportunidade real para que toda a cadeia aproveite para aumentar seu faturamento, da empresa de aviação, passando pelos hotéis e sem esquecer o artesanato tradicional e até mesmo aquele “artesanato” industrializado-chinês, das lembrancinhas que muita gente leva para casa, família e amigos.

Faltam 100 dias. É apenas a simbologia do número 100, já que vivemos em um mundo matemático decimal, esta fase de dezena, centena etc parece ser um marcador nas ações que programamos e realizamos.

Faltam 100 dias... e repito isto para lembrar que é tempo de começar a planejar o 18 de abril como uma data de promoção do nosso turismo, do destino Natal mas também dos destinos Pipa, São Miguel do Gostoso, Caicó, Pureza, Martins, Jaçanã etc. Temos muitos destinos turísticos que podem ser promovidos de acordo com suas características e também, claro, de acordo com o público-alvo que se pretende alcançar, do turista internacional ao turista nacional, de longe e de perto, e o turismo regional, sem esquecer o turismo de vizinhança, este último geralmente desprestigiado e nem sempre valorizado como “destino” pelos tais operadores de turismo ou até mesmo pela mídia e os tais influenciadores.

O tempo é curto, a depender da programação pretendida e principalmente da captação de turistas que se pretende fazer. Para o turismo de vizinhança talvez 1 ou 2 semanas sejam suficientes para mobilizar um bom público mas, é um tempo muito curto para atrair visitantes do Rio Grande do Sul ou de Brasília e praticamente inconcebível se a ideia é trazer mais argentinos, portugueses, espanhóis etc

Estamos na nova fase de novos prefeitos, muitos com boas ideias e muitos com boas ideias que terão que esperar mais um pouco para colocá-las em prática diante da situação em que encontraram a administração municipal. Este primeiro ano de novos mandatos pode até ser que os 100 dias exijam foco na questão interna mas, para aqueles municípios em que a transição foi mais tranquila e que a gestão das contas está mais estruturada, dá tempo de se organizar para um novo ciclo no turismo potiguar. Mas, atenção, o novo ciclo que menciono não significa abandonar o que foi feito, pelo contrário, mas aproveitar o que já existe e melhorar – sempre é possível – para promover um pouco mais os destinos turísticos e, principalmente, envolver mais o empreendedor local neste momento: como aumentar a oferta de produtos e serviços com mais fornecedores, como ampliar as oportunidades para o empresariado local já que pretende-se trazer mais turistas etc.

E, sempre muito importante, como fazer com que o aumento do turismo seja percebido como algo positivo pela população local afinal, é ela (ou melhor, somos nós) que está recebendo quem vem de fora para ser recebido com toda cortesia, atenção e respeito; algo que deve ser sempre retribuído. Faltam 100 dias e se é pouco para o 18 de abril, refletir sobre como serão as outras datas turísticas é planejar; sempre bom.


quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Hyrox, em breve em Natal?

Nunca tanta gente correu tanto neste Brasil, nestes últimos anos. As tais corridas de rua tornaram-se verdadeira febre em todo o Brasil, e não seria diferente, também aqui em Natal. Não faz muito tempo a única corrida de rua que tinha mais visibilidade era a São Silvestre, em São Paulo, geralmente mais concentrada em corredores mais profissionais ou mais habituados ao esforço; mas isto era antigamente, bem antigamente. É que neste 2024 o limite de 37,5 mil inscrições foi atingido e tornou-se, depois da corrida de F1, da Parada Gay ou da Bienal, um dos eventos que mais movimenta o mercado turístico na capital paulista.

Aqui em Natal se a gente circular mais um pouco pela cidade tem-se a impressão que quase toda semana tem alguma corrida para acontecer. E a sensação ficou maior ainda depois que, finalmente, alguém teve a excelente ideia de colocar faixas avisando que haverá interrupção daquela rua ou trecho, por causa de uma corrida; antes, a gente sabia que não poderia circular ali quando chegava por perto e sofria com o engarrafamento. Temos corridas perto do Arena das Dunas, na via Costeira, em Tirol/Petrópolis, locais que mais concentram esta atividade que também, acredito, reflete um pouco o mercado e a demanda local por estes eventos. Considerando que para participar há um valor de inscrição e que algumas pessoas aproveitam para exibir roupas, acessórios e calçados novos ou da moda, para quem tem mais renda é mais fácil participar deste “circuito” de corrida e de moda.

É bem verdade também que encontramos hoje um grande número de academias em todos os bairros da cidade. Parece que estamos vivendo o auge do culto ao corpo e não apenas o auge do culto à saúde; para alguns poucos, as duas coisas. Este hábito de práticas esportivas ou de ir para academia nunca foi muito presente em Natal ou no RN como tem sido agora tão intensamente, mas sempre foi um hábito carioca e talvez pela possibilidade de utilizar a orla da Capital, bem diferente da nossa realidade, muita mais dedicada aos bares (e bebidas) do que à prática de exercícios beira-mar. Mas, mudamos.

E também está mudando o formato de corridas de rua. Claro, na essência é a mesma coisa, marcar um trecho na cidade e colocar os clientes para correr, todos com a mesma camisa e todos que completam o trecho ganham sua medalha, o que permite criar uma verdadeira coleção no formato “participou, ganhou”, sem o real espírito de competição esportiva em que ocorre o “ganhou porque venceu”. Detalhe, simples detalhe dirão aqueles que fazem as corridas e que sempre perguntam “cadê minha medalha?”.

Mas, como tudo muda e como tudo pode ter uma inovação, agora está surgindo uma outra forma de correr na rua e como é novidade, o nome também é novo, e já devemos nos acostumar com o termo: hyrox. E o que vem a ser hyrox? Uma corrida de 8 quilômetros dividida em 8 trechos de 1 quilômetro, cada, e intercalados uma série de exercícios a cada parada, cada um diferente. É uma diversidade, uma verdadeira academia ao ar livre mas, sem a tal da esteira: você corre, para, faz exercício, corre de novo, para de novo, faz exercício novo e... recomeça até completar o circuito dos 8 quilômetros.

Não sei se já chegou em Natal. Mas provavelmente em breve, se alguém convidar você para o hyrox no próximo domingo, não se assuste; se você tiver preparado e aceitar o convite terá a chance de aumentar seu quadro de medalhas, mais uma ao estilo do Barão de Coubertin, “o importante é participar”.


terça-feira, 7 de janeiro de 2025

Salman Khan: AI, AI e AI

Salman Khan é um professor que abandonou sua carreira quando decidiu que poderia ensinar conhecimentos de forma mais didática e o objetiva e gravar estas aulas no YouTube para disponibilizar gratuitamente ao seu público. Já faz mais de uma década que tudo isto começou e hoje, com sua Academia Khan, o norte-americano de origem bengalesa está sendo cada vez mais observado e cada vez mais lido; ele já publicou várias obras e dentre as mais recentes está o livro “Admiráveis ​​palavras novas: como a IA revolucionará a educação” (Brave new words: how AI will revolutionize education), ainda não lançado no Brasil.

O título é autoexplicativo e mexe com muitas informações e principalmente com muitas convicções que temos no mundo social e no mundo educacional, em particular. Não temos como abandonar a ideia de que a AI (ou IA, inteligência artificial) já mudou muita coisa em nossas vidas e de forma muito rápida. E olhe que ainda estamos a descobrir o que mudará pela frente, quais atividades serão promissoras, que tipos de emprego ficarão para trás e quais os riscos de tanta tecnologia evolutiva – mas também invasiva – pode gerar na mão de pessoas ruins e de governos ditatoriais. Mas, é fato, sim, nós temos a AI e muita gente, mesmo em casa, já está utilizando, sem medo, sem preconceito ou até mesmo sem saber exatamente o que isto significa.

A mudança é gigantesca e muito rápida. E, talvez um dos pontos graves desta história em construção é que os impactos na educação ainda não foram totalmente avaliados e, mais ainda, não sabemos como incluir a IA na educação formal, nas escolas e desde cedo. Não podemos, claro, comparar com a calculadora em sala de aula que “atrapalharia” as aulas de matemática e que geraram opiniões diversas e distintas; agora, com a IA o impacto e efeito está em todas as disciplinas, aliás em todas as atividades nas escolas.

Parece que nos anos finais das escolas e nas universidades (da graduação à pós-gradiação) a IA encontrou um forma mais operacional de utilização, tamanha a facilidade em “fazer” trabalhos escolares/acadêmicos, realizar “pesquisas científicas”, “criar” apresentações em sala de aula e até mesmo, infelizmente, “escrever” artigos científicos. São aspectos pontuais que contribuem/atrapalham a formação educacional.

Mas, resta uma questão: a partir de quando, de que idade, em sala de aula as crianças já poderão utilizar a IA? E não somente como utilizá-las, que é outro grande problema, com um adicional, ainda mais grave: os professores que ensinarão a utilização da IA em sala de aula já sabem como fazer? Ora, se para as crianças está tudo a começar, imagine então para as gerações de professores que não tiveram nenhuma formação na área simplesmente pelo fato de que quando se formaram sequer existia IA no mundo! O problema, claro, é grave mas com solução.

“Admiráveis ​​palavras novas: como a IA revolucionará a educação”, é não somente o título do livro de Khan como também uma dura realidade a enfrentar. Temos que estar todos preparados. E o mais curioso com tudo isto é que para a nova formação dos educadores e dos professores um dos aliados mais importantes poderá ser a IA! Ou, se preferir, AI, AI e mais AI para todos. Estamos prontos?


segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Jimmy Carter, quem diria

A morte do ex-Presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter trouxe à tona várias histórias suas, de resultados positivos – e por isto o Prêmio Nobel da Paz – à fracassos internos – por isto a perda retumbante na sua tentativa de reeleição, para Ronald Reagan – e outras histórias talvez menos relevantes para o noticiário mas que nos apontam algumas curiosidades bem interessantes.

Uma delas foi a implantação de painéis fotovoltaicos na Casa Branca durante seu mandato, há muito tempo, 1977 a 1981. O que me impressionou com esta notícia foi o período em que esta medida foi implantada, há mais de 40 anos! E pensar que os debates globais sobre meio ambiente tomaram corpo e maior visibilidade apenas no ano de 1992, com a Conferência da ONU no Rio de Janeiro, a Rio-92 ou Eco-92.

Nos idos dos anos 1980 falar de energia renovável deveria soar como conversar sobre inteligência artificial, robótica ou internet, ou seja, algo totalmente romantizado, grandes esperanças de mudanças, ainda que os termos sequer existissem ou até mesmo grandes sonhos de mudanças. Hoje é bastante natural e já mudou a paisagem no mundo e no RN encontrarmos placas fotovoltaicas e, vale lembrar, independentemente do município do da atividade; das grandes indústrias, aos comércios e passando por pequenas e modestas casas já parei de me surpreender andando pelas cidades do RN tamanha a quantidade de projetos existentes mas, como uma diferença substancial em relação à outros países, é que aqui a indicação para a instalação dos painéis fotovoltaicas não é uma questão ambiental, é apenas uma questão econômica.

Quando Carter encerrou seu mandato uma das medidas iniciais de Reagan foi retirar as placas fotovoltaicas. O projeto, claro, foi totalmente abandonado e causou grande atraso no desenvolvimento desta tecnologia, na melhoria ambiental global assim como na liderança econômica daquele país. A perda desta imensa oportunidade é sentida economicamente até hoje pelos Estados Unidos, afinal cerca de 80% da cadeia de fornecimento de placas fotovoltaicas está localizada na China, é quem domina o mercado global. Na Europa, por exemplo, as empresas que ainda estão por  lá sofrem com a concorrência chinesa até mesmo para as indústrias de recuperação, a tentativa de conserto e reaproveitamento das placas: ainda sai mais barato comprar uma nova placa do que consertar a atual.

Hoje a tecnologia é tão simplificada que a vantagem econômica está na produção em série, a tal da economia de escala, competência econômica em que a China é quase imbatível. Aqui no RN temos várias empresas que atuam na prestação de serviços de instalação das placas, acho até que a concorrência deve estar perto mais apertada e o preço parece ser o diferencial maior. Somos grandes “produtores” de energia fotovoltaica, acho que os maiores parques do Brasil estão aqui no RN, com domínio da tecnologia chinesa.

Acredito que neste ritmo de expansão em alguns anos poderíamos até ter um setor de self service das placas fotovoltaicas nas lojas: basta comprar o kit, a placa, os fios e uma “caixa de medidor” para fazer a conexão. Mas, o ideal mesmo seria termos kits menores, portáteis, em que poderíamos instalar uma destas placas e ligar o micro-ondas, a TV, o tal do air fryer etc; fácil de instalar, caberia em qualquer espaço da casa e dispensaria os custos de instalação. Se tivesse um destes kits e a preços acessíveis, instalaria rapidamente um no meu apartamento!


sábado, 4 de janeiro de 2025

O jeito caro de voar

 Ontem foi divulgada mais uma notícia sobre empresa aérea brasileira, mais especificamente a notícia de que a Azul repetiu a trajetória da Gol e conseguiu negociar com o Fisco um super redução dos tributos que estava devendo, saindo dos R$ 2,5 bilhões para “apenas” R$ 1,1 bilhão. Um bom negócio, parece, para as partes pois de um lado a Receita Federal pode começar a imaginar que receberá os valores atrasados e devidos, e bom para a empresa que diminui sua dívida, melhorando os dados contábeis e dá até mais fôlego na gestão do seu fluxo de caixa.

 

Continua sendo intrigante, sempre achei, que em todo mundo as empresas de aviação passam por dificuldades, algumas delas quebram de verdade deixando mulita gente na mão enquanto outras passam o tempo todo renegociando e alongando as dívidas até que encerrem as atividades ou que sejam compradas (incorporadas) por algum concorrente. E já vimos isto acontecer há bastante tempo como recentemente, aqui e no exterior, casos emblemáticos globais como a KLM e Air France ou casos mais locais como a Ita, a empresa aérea brasileira do grupo Itapemirim que fico na dúvida se era uma grandiosa estratégia, um grandioso sonho ou uma extravagante ousadia; agora, de qualquer forma, não é nenhuma das opções.

E viajar continua caro! Não é de hoje. E a culpa não é do lanche (cada vez no formato de brinde), nem das malas (paga-se para viajar com elas), nem do preço do combustível (há redução de ICMS em vários estados) nem do custo salarial (não são elevados e houve várias reduções de contratações). Sobram, parece, o preço do petróleo e de seu derivado, o querosene de aviação, e o preço do avião, uma fortuna a encomenda de uma grande aeronave em um mercado dominado pela Boeing e Airbus. E na aviação regional, aquela no modelo Natal-Mossoró, em todo o mundo o problema é o mesmo, caro e pouco sustentável economicamente (aqui é o Governo do RN quem apoia diretamente a manutenção destes voos regionais).

Mundo afora vimos as empresas de low cost. Funcionam, ainda que não sejam a melhor das opções mas, é uma realidade em que algumas empresas conseguem dominar o mercado, basta ver a quantidade de passageiros .

Aqui no Brasil não temos grandes opções de salvação. Vamos, tudo indica, continuar a pagar caro por passagens aéreas e algumas vezes mais do que preço alto, algo exorbitante: basta ver quanto custa fazer o trajeto Natal-Fortaleza. As aeronaves continuam praticamente lotadas, as passagens custam caras, os deslocamentos para o aeroporto uma fortuna, o lanche no aeroporto é um exercício de superação quando vemos os preços dos itens, inclusive para os mais simples. E engraçado é que não diminui o número de turistas, nem aqui e menos ainda no mundo inteiro.

De fato, aqui no Brasil e especialmente no mundo, nunca houve tanto turismo quanto agora! É algo surpreendente e que apenas confirma uma das velhas “leis da economia”, aquela que diz que quanto maior a demanda, maior o preço. Se antes poucas pessoas podiam se dar – literalmente – ao luxo de viajar, hoje muita gente pode se dar ao luxo – literalmente – de continuar pagando caro para viajar. Há cerca de 2 ou 3 décadas estamos no modo “jeito caro de voar” e parece continuaremos nele por mais alguns anos.

A solução? Mais uma vez vindo do Oriente? Se depender da empresa estatal Comac (Corporação de Aeronaves Comerciais da China), que quer enfrentar a Airbus e a Boeing, haverá maior oferta de aviões comerciais nesta década; a dúvida é saber se o aumento da oferta significará aumento da demanda, ou seja, se continuaremos no modo “jeito caro de voar” com aviões americanos, europeus e... chineses.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

A força do gás GNV. E o apoio Uber

A Naturgy, uma empresa de distribuição de gás natural no Rio de Janeiro, continua a apostar no gás natural veicular, o GNV, como uma grande oportunidade de mercado, por lá. Neste mês a empresa anunciou um investimento de quase R$ 300 milhões para montar uma infraestrutura de atendimento em postos de combustíveis pelo Estado, naquilo que batizou de “corredores sustentáveis”. É bem verdade que por lá os dados são muito animadores para este mercado, afinal estão registrados 1,7 milhão de veículos leves que podem utilizar o GNV e é possível abastecer em 700 postos em todo o Estado. Números impressionantes e que, efetivamente, acabam conquistando o consumidor a fazer a inclusão do GNV como fonte de combustível em seu carro. Um último dado desta potência de investimentos já realizados e a realizar, são vários postos nas cidades e também nas rodovias estaduais, principalmente na ligação com o Estado de São Paulo.

Já faz bons anos que o gás natural para veículos é anunciado como o futuro, e isto era bem antes dos carros elétricos e do sonho (atualmente quase impossível, do ponto de vista técnico) de carros movidos à hidrogênio. No final do século passado, acho por volta de 1998/99, acompanhei os primeiros programas de incentivo ao uso do GNV, em Natal, uma promessa que assegurava a competividade em função do preço do combustível, seria muito mais barato do que a gasolina e o álcool.

Anos se passaram e a promessa de melhor competividade continua sendo um atrativo para muitos motoristas. Já vimos muitas campanhas para a inclusão do GNV como opção, algumas vezes com premiação em dinheiro. Foram várias tentativas de ampliar o número de consumidores individuais, mas que não conseguem convencer muita gente. É que nestes últimos anos entre animação e realidade tivemos fase de descrédito, principalmente no início destas campanhas e o chato em tudo isto é que alguns recuos ficaram na memória dos consumidores.

Hoje o desafio é outro, bem diferente: a competição com os carros elétricos. Por enquanto há uma grande vantagem para os fornecedores de GNV: o carro elétrico é muito caro em comparação aos modelos “tradicionais” e a adição do GNV tem um custo muito menor.

Hoje, no entanto, há um mesmo desafio para ambos: não há rede de abastecimento extensa nem em fase de expansão. Mas nesta competição o GNV está perdendo mais rapidamente, há alguns pontos de abastecimento de carros elétricos na cidade e novos prédios ou condomínio já estão sendo lançados com pontos de recarga, algo que não é possível fazer com o abastecimento de gás natural. E como em todo mercado concorrencial, é cada um lutando por seu espaço, por maior espaço.

Curiosamente um dos grandes consumidores de GNV são os carros Uber, algo que deve permanecer por alguns anos visto que o preço da gasolina e álcool não é convidativo para que faz serviço de transporte e um carro elétrico tem um preço elevado que não permite imaginar que este tipo investimento possa trazer retorno financeiro apenas com as corridas individuais.

Quem diria que o “efeito colateral” positivo do Uber favoreceria o gás natural veicular... Bom para “ambos, todo mundo”?


quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

A Fipe, sua tabela, o RN e eu

Muita gente (inclusive eu) somente conhece a sigla Fipe quanto o assunto é o valor do carro na hora de contratar o seguro, é a famosa “Tabela Fipe” que serve de referência para que as seguradoras estabeleçam o valor que o cliente pagará pelo seguro mas que, não necessariamente, corresponderá ao real valor de mercado quando você tentar vender seu veículo.

No último dia de Diário Oficial do ano vimos o resultado de uma outra atividade da Fipe que, aliás é a sigla para Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, pois foi contratada pela Secretaria da Fazenda para estabelecer a “tabela de valores venais de veículos automotores novos e usados”, registrados no Detran e assim definir o valor do IPVA 2025. Foram rápidos e eficientes, pois o contrato tem validade até março e poderiam até ter apresentado o resultado somente depois do Carnaval.

Sem entrar no mérito do aumento do IPVA e da tributação dos elétricos, temos alguns potiguares circulando em carrões pela cidade. Não é que eu os veja com regularidade (quase nunca, na verdade), mas em função da tabela do IPVA 2025 temos alguns padrões de riqueza no RN bem importantes. Os IPVA mais caros são R$ 55,3 mil para o Mercedez Benz AMG G63 e o Porsche 911 Turbo S, na sequência tem R$ 52,7 mil para o Porsche 911 Turbo CAB, R$ 49,0 mil para outro Porsche, modelo 991 Turbo, R$ 41,4 mil para o Porsche Cayenne e mais um Porsche na mesma dezena, R$ 40,7 mil para o modelo 911 CAR GTS; depois dois veículos mais “modestos”, na casa dos R$ 33,0 mil para o BMW X6 M e o Audi RSQ8 SB híbrido. E depois destes, os bem mais modestos, na casa dos R$ 20 ou 10 mil, básicos.

Não há como avaliar a quantidade destes carros mas, se está na Tabela deve-se ao fato de existir pelo menos 1 de cada circulando no RN e, provavelmente, considerando a renda per capita nos municípios, mais provável que estejam em Natal e em Mossoró.

São carros caros, bem caros mesmo, e que revelam que há um grupo social no RN com poder aquisitivo bastante elevado, talvez poucas dezenas de classificados como super-ricos, mas certamente um bom número de famílias com qualidade de vida material bem distante da média geral potiguar. É muito interessante, na minha opinião, que tenhamos este padrão de vida tão real aqui no RN, e por dois motivos: primeiramente pela origem desta riqueza, gerada pelas oportunidades de mercado e pela capacidade empreendedora, independentemente de ter uma outra questão de renda herdada, e em seguida pelo fato de que o parte do consumo acontece aqui também no RN e gera mais negócios e mais tributos. A riqueza pessoal e familiar não pode ser encarada apenas pela crítica, apesar da disparidade de renda, afinal quando legitimamente conquistada é mérito de quem soube aproveitar as oportunidades na área de  negócios, da música, do futebol etc.

Geralmente as pessoas criticam mais os ricos quando a fortuna vem dos negócios e tendem a enaltecer aqueles que ficam rico quando estão fazendo shows ou jogando bola. Acho que ambas são formas de conquista legítimas, se baseadas na meritocracia, na capacidade individual e na diferenciação, quem é bom sempre se destaca. Torço que os super-ricos gastem o máximo de sua fortuna aqui no RN assim como torço para que a lista dos super-ricos do RN aumente sempre; dentre as vantagens, talvez eu tenha mais chances de encontrar um destes carrões de R$ 50 mil de IPVA; e nem me sentiria humilhado em saber que o IPVA dele é maior do que o valor do meu carro. Que o diga a Fipe.