A divulgação do resultado das provas do Enem 2024 foi surpreendente em relação à nota máxima na prova de redação: apenas 12 pessoas, um dúzia de sortudos, competentes, excelentes etc e quaisquer outras formas de denominação conseguiram obter maior nota, o que seria um “dez! nota dez!”, como se dizia na apuração do Carnaval do Rio de Janeiro.
Doze, apenas. Nem é pouco, é simplesmente irrisório, ridículo que em mais de 3 milhões de pessoas que fizeram a prova e, vamos imaginar que quase todos tenham feito a redação neste universo tão gigantesco, somente 0,0004% conseguiram acertar tudo ou pelo menos não errar nada. Mal comparando, a probabilidade de acetar a Mega-sena com uma aposta única, a mais simples, é de 0,00002%. Em outras palavras, quem ganha na Mega-sena é muito, mas muito sortudo e quem ganha nota máxima na redação do Enem também é um pouco sortudo.
Claro que são sortes diferentes! Digo sorte pois a prova é corrigida por dois professores e há milhares deles para corrigir tantas provas e apesar de todo o tecnicismo que é exigida na “folha de rosto” de correção, deve-se ter um pouquinho de sorte. É evidente que a nota máxima não é nenhum demérito de quem a conseguiu, pelo contrário! É um sucesso que deve ser plenamente comemorado e plenamente reconhecido e seus autores deveriam receber no mínimo uma medalha ou um diploma adicional do Inep, órgão federal que organiza as provas.
Fico imaginando quantos conseguiram 990, 980, 970, 960 ou até 950 na redação, faltando tão pouquinho para a nota máxima. No mínimo, falta de sorte ou uma palavra escrita de forma errada, uma vírgula fora do lugar ou um argumento que não foi bem aceito etc.
O grave, na minha opinião, é que tamanha excelência em tão grande universo de candidatos pode acabar desestimulando alguns candidatos ou deixando outros mais aflitos por ter “apenas” obtido um 980 ou 990. Do ponto de vista técnico, deve estar em compatibilidade com o edital mas, do ponto de vista pedagógico e do ponto de vista institucional acho que este rigor na correção das provas pode ser um pouco menor. Entendo plenamente que os mais tecnicistas defenderam o rigor do edital e argumentarão que a prova é corrigida por pessoas diferentes e que não se conhecem etc; concordo, mas também discordo um pouco, pois se a correção fosse apenas restrita à parte gramatical bastaria chamar o ChatGPT e o resultado sairia em menos de 24h. Mas, ainda é uma tarefa humana que exige leitura e compreensão do texto, uma avaliação pessoal do que foi escrito.
Em outra comparação, ano passado foram 60 pessoas com nota máxima, um número “bem maior” do que deste ano, cinco vezes mais. Da mesma, em uma comparação proporcional, os estudantes com nota máxima no ano passado foram 5 vezes melhores do que os estudantes com nota máxima este ano... Claro que a comparação não pode ser assim, pois não é estritamente tecnicista. Em outra forma de avaliação e ao mesmo tempo de pergunta, o que explica esta queda tão “vertiginosa” na redação de 2024 comparando com a redação de 2023? Foi o tema, estava mais fácil ano passado ou mais difícil este ano? Difícil de avaliar e difícil de saber, ainda que se analise todas as provas de redação.
O que vai mudar para 2025? Provavelmente nada. Talvez tenhamos apenas 1 nota máxima, para seguir a tendência de queda, ou talvez tenhamos muitas notas máximas; devemos apostar em 0,0004% ou podemos apostar em um crescimento 10 vezes maior para chegarmos a outro tão pouco, apenas 0,004%? Quem arrisca?
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