segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

Senhor ou Senhora? Ou Senhore? Ou nada disto?

A semana foi de polêmica e de novidades em boa parte do mundo para saber como devem ser abordadas as pessoas, pelo menos nos documentos oficiais, do Governo. Nos Estados Unidos a nova orientação é que todo documento deve ter apenas duas opções quanto ao gênero, homem ou mulher, senhor ou senhora. A opção senhorita, observe-se, nem mesmo foi cogitada nos Estados Unidos assim como acontece em países da Europa, que já foi abolida há tempos pois foi considerada discriminatória. Isto mesmo, uma abordagem discriminatória pois ao dirigir-se a uma mulher de, por exemplo, meia idade e chamá-la de senhorita estaria, na intepretação que foi utilizada, informando a todos que ela não era casada enquanto para os homens, qualquer que fosse a idade, casado ou solteiro sempre será senhor.

No final da semana passada um posicionamento completamente diferente surgiu na Europa e agora deve ser também oficial, pois é uma decisão da Corte de Justiça da Comunidade Europeia e deve ser seguida por todos os países-membros: é que foi julgado inconveniente utilizar a abordagem de senhor ou senhora em qualquer que seja o documento e principalmente nas correspondências formais governamentais. Qual foi o argumento? Que o poder publico deve adotar uma linguagem neutra, mas não no sentido brasileiro, e sim uma linguagem que seja neutra para enviar documentos aos cidadãos, algo genérico, sem distinção de gênero.

Não sei como farão na prática mas, se fosse em português entendi que começar uma correspondência por “prezada” ou “prezado”, “cara cidadã” ou “caro cidadão” não será mais possível. Terão que encontrar uma nova fórmula que não promova nenhuma forma de distinção; e olhe que por lá será um desafio e tanto, pois cada país deverá adotar a norma no seu idioma.

Divagando aqui, talvez seja utilizar no início da correspondência simplesmente “pessoa” ou tão somente “você”. E nada mais. Será impessoal do mesmo jeito mas parece ser mais íntimo ou mais próximo da pessoa, independentemente de ser um aviso de que o que você estava solicitando foi aprovado ou ser um aviso de cobrança, de alguma penalidade. Será interessante ver isto acontecer.

Aqui no Brasil a chamada pauta identitária já recomendou “todos”, “todas” e “todes”, já recomendou também incluir o “x” (não aquele do Musk!) e poderia ser apenas “todxs” e a mais nova (para ser redundante) novidade é retirar a identificação de gênero, algo que ficaria (imagino) como “tod” ou “tods”; não sei se entendi direito esta última parte, se é isto mesmo.

De qualquer forma, os especialistas em gramática, os linguistas e os etimólogos devem estar em boas discussões filosóficas, conceituais e operacionais para entender como fazer. E se mudar aqui também, como implementar isto nos formulários e documentos formais do governo e depois mudar todos os livros didáticos nas escolas? Mudanças no idioma e na gramática sempre acontecem e em todas as línguas, não será novidade; algumas são facilmente incorporadas, outras nem tanto.

Eventualmente, poderia até alguém sugerir que se adotasse uma prática muito comum aqui no Nordeste na hora de se dirigir a alguém: temos o super informal “ei” ou o tradicional cumprimento à la Didi Mocó (ou Renato Aragão) com o “psiu”. Acho que as duas abordagens – mesmo não sendo as mais simpáticas – até poderiam ter efeito na língua falada mas, não sei se fariam efeito nos documentos formais. Já pensou receber uma notificação de cobrança começando por “Ei, psiu!”? Moderno, não parece? Ou apenas simpático?

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