terça-feira, 6 de abril de 2021

Via de mão dupla

 

O Canal de Suez faz parte da história e, desde 1859 quando começaram seus trabalhos. Há muito tempo, portanto, que a ligação continental foi planejada e não há nenhuma – evidentemente – conspiração de domínio global, a China, a OMC ou outro personagem das teorias de conspiração não faziam parte desta história.

No ano passado passaram ali quase 20 mil navios transportando quase todo tipo de mercadoria. E depois que os contêineres se transformaram na melhor “embalagem” dos produtos de exportação-importação, não se imagina o mundo sem esta passagem. O engarrafamento do mês de março mostrou quanto o mundo é dependente desta passagem e da navegação marítima. Em que pese o transporte de mercadorias por aviões, cargueiros ou de passageiros, estima-se que 90% das mercadorias que atravessam fronteiras seguem por navios. Quando o Brasil foi descoberto e abriu-se novos mercados, as embarcações marítimas estavam presentes; quando há muito ainda para se conquistar com produtos made in Brasil, as embarcações marítimas ainda estarão lá.

O “engarrafamento do milênio” (e poderia ter tido outro??) trouxe alguns temores e algumas ilustrações curiosas na mídia, além das especulações de mercado. Começando por essa última, o preço do petróleo subiu 5% logo no primeiro dia, muito mais pela perspectiva de lucro rápido do que algum risco de desabastecimento. A mídia – e aí falta descobrir o autor da brincadeira – já alardeava que poderia faltar papel higiênico, peça de carro e de celular. Ora, isto seria imaginar que o mundo foi dominado pelo conceito japonês do just in time de forma tão uniforme no mundo inteiro que uma semana de atraso na entrega de mercadorias afetaria todo mundo; em outras palavras ninguém – no mundo inteiro – teria mais de uma semana de produtos em estoque?

Já os temores, são mais reais. Mas, para quem administra portos.

 

Obs: As informações do Governo do Egito indicam 18.880 navios passando pelo Canal em 2019, um crescimento de 3,9% em relação ao ano anterior; não há, ainda, estatística formal para 2020.

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